sexta-feira, 25 de março de 2022

 Ruth Guimarães: o centenário da escritora pioneira que colocou a identidade negra no centro de sua obra

(Escritora publicou 51 livros, entre romances, contos, crônicas, traduções e ensaios folclórico)

  • Edison Veiga
  • De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

domingo, 20 de março de 2022

 MEUS TEXTOS NO TEATRO! EVOÉ!!!


PRETA POESIA FEMININA

Preparem seus corações!
O corpo da atriz Sílvia Duarte dança belamente, suavemente e com força. Os figurinos que ela troca refletem as múltiplas personas que a atriz in(cor)pora. As Yabás são reverenciadas e referenciadas como divinas presenças e justa cosmovisão africana. Prepare o seu coração porque vamos assistir "Preta Poesia Feminina", espetáculo teatral dirigido por Silvana Rodrigues e com Coordenação geral e Direção de produção de Túlio Quevedo.
"Nós, mulheres negras, somos Preta Poesia Feminina!". A atriz afirma o "nós" porque somos nós, poetas: Ana Dos Santos, Delma Gonçalves, Fátima Farias, Isabete Fagundes e Lilian Rocha que atuamos no corpo potente de Sílvia. O espetáculo é uma celebração da vida das mulheres negras, são as nossas escrevivências que compõem o roteiro.
Quando vi meu rosto nas imagens projetadas no palco, transbordei de emoção! Não por ego ou orgulho, mas naquele momento, ninguém poderia imaginar o que significava para mim estar viva! Venci o covid e sobrevivi! E isso é um marco histórico, porque devido à pandemia, o espetáculo foi gravado e transmitido no you tube somente por uma semana no mês de setembro de 2021.
Nossos passos vêm de longe e muitas das mais velhas e das que já partiram também estiverem presentes no palco com suas caras pretas. E me pergunto se Sílvia está representando uma personagem ou se está simplesmente sendo ela mesma. A sujeita e as eus "líricas" se (con)fundem.
A atriz em cena se apropriou devidamente dos meus poemas, que agora também são dela. ela que gosta de ler Preta Poesia Feminina! E não tiraria nem acrescentaria uma vírgula, porque chorei e sorri com ela. Me vi nua no palco. E fui atriz também por alguns momentos. E, sim , sou suspeita pra falar...
Erótica na medida certa, Sílvia faz amor com as palavras!
Evoé!!!

PÁGINAS AMARELAS - Vida e obra de Carolina de Jesus


IMPERDÍVEL!!! A peça "Páginas Amarelas - vida e obra de Carolina de Jesus do grupo Trupi Di Trapu. Tem um poema de minha autoria e tem o amor que sinto por essa mulher! Fazia três anos que eu não ia ao teatro e essa catarse só a dramaturgia pode nos proporcionar! Os atores estão mergulhados de corpo e alma nessa tragédia que é a fome, e ao mesmo tempo a beleza da literatura de Carolina. É tudo tão atual e caótico...As escritoras como Lilian Rocha, Elena Ferrante e Glória Anzaldúa dialogam e falam a mesma língua da preta Carolina! Elza Soares também é devidamente celebrada nessa Revolução Carolina. Assistam, compartilhem e convidem os amigos. Ah, tem acessibilidade para pessoas com deficiência e Libras! Emocionante!!! Evoé! Trupi Di Trapu teatro de bonecos!!!


Domingo de palavra (per)formada! A atriz Elizia Gomes vai performar um poema de minha autoria nessa Mostra via Instagram! A partir das 20h30, vamos assistir e votar na Elizia Gomes]. O perfil é da Cia. Entuarte @entuarte e também vamos assistir os outros participantes!
repost
VI Edição do Mostra Sua Arte - será ao vivo nosso Instagram às 20:30H. Onde cada Artista terá 5 MINUTOS para Mostrar sua Arte.
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🗣️ Apresentação:
@regginalves

🎺 Corneteira e Controladora do TEMPOOO:
@anaraiol10

📉✍️Jurados:
@tassiopirani
@sandraabreuu

💻Voto Popular:
O Seu que nos acompanhará ao vivo (Lembrando que seu voto só será contabilizado por apresentação).
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Segunda lista de participantes da VI Edição do Mostra Sua Arte.

✓ @reynaldocostaoficial - Performance Mudical

✓ @jannahwalleriuss & MultiVerso do Gnomo] - Performance Orgânica

✓ Elizia Gomes] - Performance Poética

✓ @a.epitaciana & MultiVerso do Gnomo] - Performance Orgânica

✓ @rosecruzartesa - Poesia
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E VEM QUE NO CAMINHO EU TE CONTO!!!


A ASSOCIAÇÃO DE JURISTAS DO RIO GRANDE DO SIL RECOMENDA: "TRAVESSIAS DE AMANAÃ"

Para marcar os 50 anos da idealização ao mês da Consciência Negra, confira no feed seis dicas literárias de autores negros e negras que refletem sobre negritude, racismo e ancestralidade. ✊🏽✊🏿✊🏾 As produções nortearam os debates no 5º Encontro Nacional de Juízas e Juízes Negros (Enajun) e do II Fórum Nacional de Juízas e Juízes contra o Racismo e todas as formas de Discriminação (Fonajurd), em outubro. 😉
Com início na Porto Alegre de 1971, a instituição do Dia da Consciência Negra foi proposta pelos pensadores Antônio Carlos Cortês, Oliveira Silveira, Vilmar Nunes e Ilmo da Silva, fundadores do grupo Palmares. 💪🏾 Na época, os jovens não concordavam com o 13 de maio (dia da Abolição da Escravatura), e consideravam que 20 de novembro (dia da morte de Zumbi dos Palmares), simbolizava com justiça a luta dos negros pela liberdade total. 📆 A data entrou para o calendário nacional por meio da Lei Federal nº 12.519/2011, promulgada pela ex-presidente Dilma Rousseff, mas inda não virou feriado nacional, contrariando o desejo de movimentos sociais. Hoje, apenas cinco estados e mais de mil municípios brasileiros consideram o feriado.
⏭⏭ Arraste para o lado e veja as produções!


sábado, 12 de março de 2022

 Conheça Maria Firmina dos Reis, primeira escritora negra do Brasil.


Meu nome é Ana Paula Freitas dos Santos, professora de Literatura e poetisa, autora dos livro "Flor" e "Poerotisa".
Sou especialista em História e Cultura Afro-brasileira e mestranda em Estudos Literários/UFRGS.
Faço parte do catálogo "Intelectuais Negras Visíveis" (UFRJ/Editora Malê) e ocupo a cadeira 100 da Academia de Letras do Brasil/RS, patrona Lélia Gonzales.

Me apresento primeiro para lhe contar como cheguei em Maria Firmina dos Reis!
Em 2015, iniciei uma pesquisa sobre escritoras negras brasileiras para levar à sala de aula e preencher uma lacuna no cânone da Literatura Brasileira, constituída em sua maioria por 90% de escritores do sexo masculino, brancos, classe média alta e dos grandes centros urbanos, segundo pesquisa da UNB.
Eu mesma conhecia poucas escritoras negras. Sendo uma escritora também, logo, a minha pesquisa também tinha um interesse pessoal em conhecer minhas predecessoras.

Foi na internet, em páginas de Literatura Negra e Universidades que tomei conhecimento da existência de Carolina de Jesus. Essa foi a primeira escritora negra que levei para a escola e que teve uma grande e excelente repercussão entre os alunos. Por conta dessa pesquisa, fui fazer duas especializações sobre a lei 10.639/03 que trata da obrigatoriedade do Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira em todos os níveis e modalidades de educação do país.
Continuei minha pesquisa e então descobri Maria Firmina dos Reis!

Hoje eu ministro uma oficina de escrita criativa "Mulher Negra, Meu Corpo, Minha Voz" onde eu apresento cerca de 40 escritoras negras brasileiras, mas eu sei que já temos mais de 100 escritoras negras em todo o Brasil!

Minha pesquisa ganhou força em 2018 quando a Universidade Federal do Rio Grande do Sul colocou "Quarto de despejo: diário de uma favelada" de Carolina Maria de Jesus na lista das Leituras Obrigatórias do vestibular!
Então, levei a Maria Firmina dos Reis e seu romance "Úrsula" para a sala de aula! A entrada dessa escritora no currículo alterou o estudo do período do Romantismo brasileiro, porque agora ela é considerada a primeira escritora romântica brasileira!
O romance "Úrsula" é um romance abolicionista escrito quase um século antes do poema "Navio Negreiro" de Castro Alves. Ou seja, uma mulher negra e livre teve a coragem de denunciar os horrores da escravidão num romance onde os personagens negros são humanizados, têm voz própria e são a referência moral da narrativa.

A personagem Suzana é a primeira na Literatura Brasileira  a narrar como era a vida em África, onde ela vivia feliz com sua família, com trabalho e liberdade. Ela conta do sequestro e da passagem no navio negreiro para a página vergonhosa da escravidão no Brasil.
Com o estudo desse romance os alunos aprenderam que a história da população negra começa em África, com uma vida digna e liberdade. "A história do negro foi interrompida pela escravidão", como dizem nossos ancestrais. Os alunos aprenderam também que ninguém se deixou escravizar, que as torturas e castigos físicos aos quais os negros foram submetidos não puderam aprisionar suas almas, como demonstra o personagem Túlio em seus atos de heroísmo e fraternidade.

Maria Firmina dos Reis escreve um romance aos moldes românticos da época, tendo a natureza como cenário, no caso as belas paisagens do Maranhão; o casal romântico formado pelo mocinho e mocinha brancos, no ideal esperado de beleza eurocêntrica; com uma linguagem rebuscada e cheia de adjetivos no português castiço do século XIX, demonstrando assim como Maria Firmina dominava a norma culta e era uma leitora culta que inclusive dominava o francês e o latim. Por fim, o contexto sóciohistórico da escravidão,  que até então não havia sido abordado pela visão do negro, do escravizado, do colonizado. Essa é a grande contribuição de Maria Firmina dos Reis para a Literatura Brasileira, uma narrativa decolonial.

Eu encontrei uma imagem de Maria Firmina num concurso de selo comemorativo da Academia Ludovicense de Letras onde o artista a desenhou conforme as descrições das testemunhas da época. Essa é a imagem que segue em anexo e que utilizo no meu trabalho. A invisibilização da mulher negra foi o que manteve Maria Firmina desconhecida do público leitor brasileiro durante todos esses séculos! Por que o romance não teve divulgação? Por que as livrarias não venderam? Por que não se escreveu sobre ele nos jornais? Por causa do racismo! O racismo é o legado da escravidão que invisibiliza todas nós, mulheres negras!

O que se esperava de uma mulher negra na época? Que continuasse na subalternidade, servindo aos brancos. Não se esperava uma mulher negra alfabetizada, com estudo! Não se esperava que uma mulher negra fosse professora; que ousou abrir uma escola para crianças pobres que 2 anos depois foi fechada! Maria Firmina acreditava no poder da Educação, ela queria um futuro diferente para aquelas crianças! Depois da abolição, os negros ficaram proibidos de frequentar a escola por mais de um século no Brasil!

Eu vejo o racismo como o sistema responsável por tornar as pessoas negras invisíveis! São escolhas que definem quais autores devem ser lidos, publicados, estudados, conhecidos e reconhecidos! Escolheram ocultar Maria Firmina dos Reis e em seu lugar colocar a imagem de uma mulher branca! Pois assim, nenhuma mulher negra se imaginaria nesse papel de intelectual, nesse lugar de fala, nessa escrita divergente que ousou denunciar uma sociedade injusta e criminosa.

Devemos reconhecer a importância da universidade brasileira, que através de seus pesquisadores estão retirando o véu do racismo que também ocultou outras escritoras negras do início da história literária como Rosa Maria Egipcíaca da Cruz e Auta de Souza! É comprovado que não foi por incapacidade intelectual que o Brasil não conhece suas escritoras negras, mas sim, por falta de oportunidades! A exclusão literária leva em conta sobrenomes europeus, dinheiro para publicação, circulação restrita em editoras, livrarias e prateleiras de bibliotecas. O romance "Úrsula" foi encontrado num sebo!

Se não nos incomodarmos com a tardia aparição de escritoras como  Conceição Evaristo, Míriam Alves, e tantas outras mulheres negras, vamos continuar com esse ciclo de silenciamento, invisibilidade e apagamento. Chegou a hora do Brasil conhecer sua história completa e verdadeira, sem omissões, e a mulher negra não pode estar de fora!

(Entrevista para o Jornal "Em Tempo" de Manaus em 2020)