quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

 2020 - "POEROTISA" DE ANA DOS SANTOS, RECONHECIDO E CONSAGRADO!"As cadelas latem e a caravana passa!!!

SAMBA, MEL E DENDÊ - roda de conversa sobre a escritora Fátima Farias



HOMENAGEANDO AS MULHERES NEGRAS - LIVE CUNHÃS

Mulheres da Terra e Convidadas


ARTE NEGRA CONVIDA A ESCRITORA ISABETE FAGUNDES


POESIA PARA AGUÇAR A ALMA E AGUÇAR OS PENSAMENTOS

QUEM TEM MEDO DA HISTÓRIA?


 



quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

QUE MISTÉRIO TEM CLARICE por Ana Dos Santos

 

“Que mistério tem Clarice?”

   “Que mistério tem Clarice?” Indagou o músico Caetano Veloso sobre a nossa escritora, brasileira naturalizada, Clarice Lispector. Respondo que ela era o mistério. Sua presença despertou no cantor muitas perguntas. Nenhuma resposta. A existência dela era de travessia. Ucraniana que veio com a família para o Brasil e se tornou uma recifense de coração. Alfabetizada na língua portuguesa que ela dizia que amava!

   Conheci a obra de Clarice antes de iniciar o curso de Letras. Eu já escrevia meus poemas, quando um amigo me apresentou o livro “Perto do coração selvagem”. Ele disse que eu ia amar. Que se lembrava de mim quando a lia. Ele tinha razão. Eu tenho um coração selvagem.

   Nunca tinha lido nada parecido com a escrita “clariceana”. E até hoje não li! Clarice é única no seu estilo literário. Avessa às classificações. Porém, muitos não conseguem compreender nem se deixam levar por seu mistério. Tive um professor de literatura que disse em aula que não gostava dela porque não entendia nada. Tento não ser como esse professor quando ensino Clarice na escola. Alguns alunos amam, outros rejeitam, outros se afogam.

   O escritor Caio Fernando Abreu dizia que “ela era perigosa”, no sentido de que sua escrita o influenciou tanto a ponto de não saber mais como escrever, pois “parecia que ela já tinha escrito sobre tudo”! Tarde demais esse alerta, Caio. Já havia lido toda a obra dela. Inclusive, fiz um semestre inteiro, uma disciplina chamada “Estudo de autor” com a professora Maria do Carmo Campos. Foi uma viagem ao universo de Clarice. E de lá saí com as mãos vazias. Não consegui escrever o trabalho final...

   Quando iniciei a docência, ela já estava no currículo da Literatura Brasileira. Só ela e Cecília Meirelles. Duas mulheres num universo de 500 anos de história literária brasileira. Os manuais de literatura mais antigos apenas mencionavam que sua estreia na literatura causou “surpresa” e “polêmica”. Clarice foi acusada pelo projeto Modernista de não abraçar o ideário do romance de 30, que tinha como principal objetivo falar da realidade regional de forma neorrealista. O fato de ser uma mulher pesou à associação de sua escrita com o mundo intimista, típico de uma ‘dona de casa entediada” que escrevia “coisas de mulherzinha”.

   Clarice permaneceu firme no seu projeto estético e ideológico. Seguiu seu monólogo intimista paradoxalmente cheio de perguntas ao leitor. Clarice “se bebe” aos poucos, como água para quem tem sede, mas não tem pressa em absorver. Por acaso, meu livro favorito é “Água viva”. Já reli inúmeras vezes. É uma prosa poética e suas frases me acompanham sempre.

   Clarice faz muito sucesso entre as mulheres. Suas personagens, em sua maioria, são mulheres que questionam o mundo e se questionam sobre suas existências. Acredito também  que o fato de escrever sobre relações amorosas e paixões (“Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” e “A paixão segundo G.H.”) também contribuiu para o menosprezo dos homens das letras. Mas, Clarice não fez concessões. E também escreveu sobre a família, amizades, crianças e animais (“Laços de família” e “Felicidade clandestina”).

   Outro fato que a tornou “incompreensível” na época em que estreou na literatura foi a subversão das normas gramaticais. O romance “A paixão segundo G. H.” inicia com reticências e letra minúscula. Impressiona-me que ela não tenha sido aceita como uma escritora modernista!

   Ao sair de cena, da literatura e da vida, ela escreve “A hora da estrela” (1977). Uma resposta à crítica modernista: aqui, ela cria uma novela com início, meio e “gran finale”, sobre a nordestina Macabéa perdida na grande cidade do Rio de Janeiro. Macabéa tem fome, tem sede e tem sonhos. Quer se tornar uma “estrela de cinema”. Macabéa tem muitos questionamentos e dúvidas. Algo que irrita todos ao seu redor e que a isola cada vez mais sem seus sonhos e desejos simples.

   Em “A hora da estrela” a resposta feminista veio à altura das acusações dos escritores, críticos, pesquisadores e professores machistas: ela cria um narrador para a história: Rodrigo S. M.: “Um outro escritor, sim, mas teria que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas.” É como se ela dissesse: sei sim, como escrever um romance modernista, sei sim, escrever “objetivamente” como dizem que um homem escreve, mas não quero!

   Parece que depois da morte de Clarice, pesquisadores, críticos e biógrafos sérios e comprometidos com a criação artística estão reescrevendo o seu percurso literário. Nota-se, de passagem, que são as mulheres das letras as que protagonizam esse estudo. Também cito aqui outras duas mulheres que souberam reconhecer a grandeza de Clarice: a cineasta Suzana Amaral que adaptou a obra para o cinema em 1985, e a poeta Conceição Evaristo que escreveu os poemas “Carolina na hora da estrela” e “Clarice no quarto de despejo”. Ambos versam sobre o encontro literário de Carolina de Jesus e Clarice Lispector que tinham muito em comum e escreveram na mesma época, sendo estudadas hoje na Terceira Geração Modernista.

   As escritoras brasileiras ainda não têm o merecido espaço na literatura. A história da literatura brasileira ainda tem uma dívida com as mulheres, tanto na autoria quanto na representação das personagens femininas. No centenário do nascimento de Clarice, muitas lacunas estão sendo preenchidas, mas nem todas serão esclarecidas, porque Clarice era uma pergunta sem resposta, Clarice era o mistério.

 

Ana Dos Santos

(imagem:  Mariana Valente)

 

 

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

 MEU TERCEIRO LIVRO DE POEMAS "PEQUENOS GRANDES LÁBIOS NEGROS" (Editora Venas Abiertas, Minas Gerais, 2020)

SARAU POETARIA 


66ª FEIRA DO LIVRO DE PORTO ALEGRE - VIRTUAL





ARTE NEGRA ATIVIDADES - INSTAGRAM


COLETIVO ARTIVISTA GABABIRÔ - MARIETTI FIALHO


1ª GIRA LITERÁRIA PRETAS DAS LETRAS - JULIANA SANKOFA E LUANA REIS

ODAILTA ALVES E ANA DOS SANTOS


PROJETO DESARQUIVANDO: ESCRITORAS NEGRAS EM DESTAQUE

ARQUIVO HISTÓRICO DE PORTO ALEGRE MOYSÉS VELLINHO

EXPOSIÇÃO VIRTUAL


JORNAL EXTRA CLASSE - ESTAMOS NA CAPA DA EDIÇÃO DE NOVEMBRO

TINTAS NEGRAS EM PÁGINAS BRANCAS

RÁDIO OSÓRIO - LANCEIROS NEGROS - ESCOLA RAMOS GUERREIRO


HOMENAGEM A OLIVEIRA SILVEIRA - COLETIVO DE EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA


JORNAL DO COMÉRCIO - ENTREVISTA

ESCRITA COMO SALVAÇÃO


TODAS ESCREVEMOS - FORA DA ASA



SARAU DAS MINAS - CONSCIÊNCIA NEGRA


CANAL SORORIDADE


XI SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA - ASSEMBLEIA LEGISLATIVA

A RODA DA VIDA - NEGRAS POLÍTICAS




REDE SINA - RACISMO ESTRUTURAL


MULHERES NEGRAS E TRAJETÓRIAS  - SOPAPO POÉTICO E AFROATIVOS


FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA ESCOLAR DE ALVORADA


TAPETE POÉTICO - MOVIMENTO LITERÁRIO CULTURAL - INSTITUTO PENSAR

VIDAS NEGRAS IMPORTAM