domingo, 18 de dezembro de 2022

NOVEMBRO NEGRO, PRESENTE!

 "TRAVESSIAS DE AMANAÃ" (Libretos, 2021) É FINALISTA DE MELHOR COLETÂNEA DO PRÊMIO MILTON JOSÉ PANTALEÃO DE LITERATURA INDEPENDENTE da Academia de Letras do Brasil seccional RioGrandedoSul. Obrigada aos nossos editores Clô Barcelos e Rafael Guimaraens e aos acadêmicos da ABL

@libretoseditora @abletras_oficial



CLUBE DE LEITURAS FEMINISTAS DO COLETIVO bell hooks PSICOLOGIA E POLÍTICAS DO CUIDADO
O coletivo bell hooks: psicologia e políticas do cuidado convida para a experiência de ler coletivamente obras de autoras negras gaúchas. Serão encontros quinzenais, que ocorrerão aos sábados, das 10h às 11h30, de forma virtual. A curadoria das obras e autoras pelas quais iremos mergulhar foi realizada por Nathallia Protazio, integrante do coletivo, escritora e mestranda do PPG de Psicologia Social e Institucional. Nosso objetivo é fomentar a leitura-encontro com autoras contemporâneas que estão produzindo suas escritas em nosso tempo. Essas foram as leituras e autoras selecionas para pensarmos juntes. Serão seis encontros, seis livros, nas datas : 10/09; 24/09; 08/10; 22/10; 12/11; 26/11. Inscrições até a sexta-feira, dia 12 de agosto.
IMPORTANTE: os livros das autoras brasileiras não serão disponibilizados pdfs, pois tratam-se de escritoras atuais, que publicam suas obras de forma independentes. Forneceremos as informações sobre a compra por email após a confirmação das inscrições.






"PRETA POESIA FEMININA" NA FEIRA DO LIVRO DE PORTO ALEGRE
No Teatro Carlos Urbim!  Minha poesia no corpo e na voz de Silvia Duarte 


MEUS POEMAS NO TEATRO DE "CAROLINA DE OUTRAS VOZES"
Outro espetáculo teatral com minha Poesia!
Curta temporada!
Carolina de Jesus foi uma potente voz negra que nos deixou um legado de esperança, de luta e criatividade. Quais são as vozes pretas atuais que dialogam com Carolina?
O Sarau/espetáculo "Carolina e outras vozes" homenageia a mulher que ainda hoje é referência no mundo literário internacional e traz ao palco figuras da cena preta portoalegrense: música, poesia e humor (sim, humor). Ficou curiose? Em breve divulgaremos quem são essas outras vozes e como adquirir seu ingresso!
#paratodosverem
Informações em texto:
Trupi Di Trapu – Teatro de Bonecos, Porto Alegre, Brasil - apresenta
Sarau/espetáculo “Carolina e outras vozes”
25, 26 e 27 de novembro
Local: Cerco Cultural
Descrição da imagem:
Card com fundo amarelo, texturizado com leves rabiscos. À esquerda, um desenho apenas delineado em preto de uma mulher negra representando Carolina de Jesus, de lenço na cabeça. Segura um livro aberto. Seu olhar desvia-se do livro em nossa direção. Tem nos lábios um discreto sorriso.
No topo, centralizado, o logo da Trupi Di Trapu. No canto inferior direito, os símbolos de Libras e Audiodescrição.


BOLETIM "POESIA É DA HORA" NO PROGRAMA "MEU CARO AMIGO" DA RÁDIO CANTAREIRA



FLIPELÔ - FEIRA LITERÁRIA DO PELOURINHO
COLETÂNEA POÉTICA ÁFRICA & BRASIL-KUTANGA (editora Òmnira).
À venda na livraria LDM, na FLIPELô. Mais informações sobre a obra no blog!


"TRAVESSIAS DE AMANAÃ" NA BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL
20 DE NOVEMBRO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA NA BPE
No dia 17 de novembro (quinta), a BPE vai realizar o encontro “Autoras negras; leia, ouça e compartilhe”.
Trata-se do relato do processo de criação das escritoras (duas são letristas de música).
Vai ser às 18h, no Salão Mourisco, com entrada gratuita.
O evento vai promover o debate sobre a leitura e a escrita de autoria feminina negra, com leitura de textos e de poesias das autoras.
As obras publicadas por elas serão vendidas e autografadas no local.
A Biblioteca Pública do Estado é uma das instituições da Secretaria de Estado da Cultura.
#cultura #maiscultura #BPE #novasfaçanhasnacultura #diadaconsciencianegra




RODA DE CONVERSA "MULHERES NEGRAS, SAÚDE MENTAL E RACISMO"
👩🏽‍💻👩🏾‍💼👩🏽‍🏫👩🏿‍🔬 Novembro Antirracista Unificado: Sintergs promove roda de conversa com o tema Mulheres negras, racismo e saúde mental
📍 Evento ocorrerá no dia 22/11 (terça-feira), às 18h30, na sede do sindicato
✅ Participam painelistas das áreas de educação, cultura e saúde ligadas ao funcionalismo e a movimentos sociais

O Sintergs promoverá uma roda de conversa com o tema Mulheres negras, racismo e saúde mental, que integra a programação do Novembro Antirracista Unificado. O encontro será no dia 22/11 (terça-feira), às 18h30, na sede do sindicato, e contará com painelistas das áreas de educação, cultura e saúde ligadas ao funcionalismo e a movimentos sociais.

Participam do evento: a mestra e doutora em História Lúcia Regina Brito Pereira; a assistente social e presidenta da União de Vilas da Grande Cruzeiro, Malvina Beatris Souza; a mestra em Psicologia Social e Institucional Tatiane Oliveira, que atua no Programa de Saúde do Servidor (PROSER); e a professora, poetisa e escritora Ana dos Santos, mestra em Estudos Literários Aplicados – Letras.

Segundo Angela Antunes de Souza, diretora do Sintergs, o racismo tem um impacto na saúde mental da população negra, principalmente nas mulheres, que passam boa parte da vida ouvindo que devem ser fortes, o que gera angústia e sofrimento. “O objetivo desta roda de conversa é discutir este assunto, sem tabus, e falar da importância das políticas públicas, da educação e dos coletivos das mulheres tanto no acolhimento quanto no combate ao racismo”, explica a dirigente.

Cerca de 40 entidades, incluindo o Sintergs, estão organizando mais de 45 atividades durante o mês em Porto Alegre, Região Metropolitana e Interior do Estado. As ações integram o calendário do Novembro Antirracista Unificado, construído por movimentos negros, sociais, coletivos e sindicatos.

Em 20 de novembro (domingo), Dia da Consciência Negra, haverá a tradicional Marcha Independente Zumbi Dandara, em Porto Alegre. A concentração será às 16h, no Largo Zumbi dos Palmares, e a caminhada vai até a Praça do Tambor.

Confira mais informações sobre as painelistas:

Lúcia Regina Brito Pereira
Mestra e doutora em História, professora aposentada da rede estadual e municipal de Porto Alegre. Foi presidenta interina do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do RS (Codene)

Malvina Beatris Souza
Assistente social, militante de políticas públicas no território da Grande Cruzeiro, sócia fundadora da Associação de Mulheres Solidárias da Grande Cruzeiro, presidenta da União de Vilas da Grande Cruzeiro

Tatiane Oliveira
Psicóloga na Secretaria Estadual da Saúde, atua no Programa de Saúde do Servidor (PROSER). é especialista em Saúde do Trabalhador e mestra em Psicologia Social e Institucional

Ana dos Santos
Professora de Literatura Brasileira, mestra em Estudos Literários Aplicados − Letras, escritora e poetisa. Faz parte do catálogo Intelectuais Negras Visíveis, da UFRJ, é acadêmica da Academia de Letras do Brasil/RS na cadeira 100


SALVE 20 DE NOVEMBRO!

No dia da Consciência Negra vamos contar com a participação de Ana dos Santos para uma conversa sobre as potências das narrativas negras, indígenas, periféricas, entre outras, no campo da literatura.
Ana Dos Santos é professora de Literatura Brasileira e escritora. Mestra em Estudos Literários Aplicados - Letras/UFRGS, ministra a oficina de escrita criativa “Mulher Negra, Meu Corpo, Minha Voz,”. Tem três livros publicados: “Flor” (Corpos Editora, 2009), “Poerotisa” (Editora Figura de Linguagem, 2019), finalista dos prêmios Livro do Ano de Poesia da Associação Gaúcha de Escritores do Rio Grande do Sul e Milton Pantaleão de Literatura Independente e “Pequenos grandes lábios negros” (Venas Abiertas, 2020) vencedor do Prêmio Milton Pantaleão de Literatura Independente – Categoria Poesia - 2021. Faz parte do catálogo “Intelectuais Negras Visíveis” (UFRJ) e é Acadêmica da Academia de Letras do Brasil/Rio Grande do Sul na cadeira 100 com a Patrona Lélia Gonzales.

LITERATURA AFRO-BRASILEIRA NO PORTO ALEGRE EM DEBATE - TEVÊ CÂMARA
Hoje, a partir das 20h na Tevê Câmara, canal 16 da Net e 11.3 da teve aberta! Prestigie!

GRIÔ - AS SEMENTES QUE VIERAM DA ÁFRICA
OFICINA INTRODUTÓRIA À CULTURA BRASILEIRA
NAS CIDADES MONTENEGRO E VIAMÃO


ANA DOS SANTOS NO PROGRAMA "TEMPERO DA PRETA" DA RÁDIO NEGRITUDE

ENCERRANDO AS ATIVIDADES EM ALEGRETE, TERRA DOS MEUS PAIS!
LEIA MULHERES ALEGRETE PROMOVE A EXPOSIÇÃO "LEIA ESCRITORAS NEGRAS"
Alô, Alegrete! Estou na exposição Leia Mulheres - Escritoras Negras Brasileiras
@leiamulheresalegrete



sábado, 17 de dezembro de 2022

Lei do Ventre Livre não foi motivada por direitos humanos (entrevista que concedi ao portal Terra)

 

Lei do Ventre Livre não foi motivada por direitos humanos

Lei que previa a liberdade de bebês nascidos de mulheres escravizadas foi pensada por escravocatas a partir de aspectos econômicos

Jamile Santana - 28 de setembro de 2022 (portal Terra)
Texto completa 151 anos com impactos profundos na população negra

“Mulheres abortavam seus fetos, minavam seus afetos, para a família não morrer em vida” , o verso do poema “Ventre Livre”, escritora e Mestra em Literatura, especialista em Literatura e Cultura Afro-Brasileira, Ana dos Santos, publicado no livro “Raízes - Brazilian Women Poets in Translation” retrata um pouco do impacto da Lei de Ventre Livre, na vida de mulheres escravizadas. A lei previa que de 28 de setembro de 1871 em diante, as mulheres escravizadas dariam à luz apenas a bebês livres. Hoje, o texto completa 151 anos, com impactos profundos na população negra.
Mulher e criança escravizados

A proposta foi escrita por Visconde de Rio Branco e passou por aprovação do legislativo federal brasileiro, com embates e sob pressão. Segundo o historiador José Murilo de Carvalho, escritor do livro " A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro de sombras: a política imperial", a Lei do Ventre Livre, na época recebeu 61 votos a favor e 35 contra. O texto previa que a partir de 28 de setembro de 1871, não nasceria mais bebês escravizados no Brasil, na época um dos países que mais explorava mão de obra negra no mundo. As crianças deveriam permanecer junto de suas mães, nas casas dos escravocratas, até completarem oito anos de idade. Mas o que parecia uma libertação, dava mais tempo para que a mão de obra infantil fosse explorada. 
“É uma lógica muito contraditória. Você tem uma pessoa escravizada e determina que o bebê que nasce desse corpo é livre. Mas a gente sabe que um bebê, uma criança, precisa da mãe para sobreviver, pra se alimentar. Antes da lei, quando uma mulher negra dava a luz, essa criança era retirada dela, enquanto ela tinha que amamentar os filhos das sinhás. Eram chamadas de amas de leite. Então o seu próprio filho ficava sem alimentação. A lei, já nasce dentro desse contexto absurdo”, contextualiza. A Lei do Ventre Livre não teve o resultado prático que seria o mais óbvio: a liberdade dos bebês. Quem nasceu em 1871 só se tornaria efetivamente livre em 1892, aos 21 anos de idade.
Texto da Lei do Ventre Livre, que passou a vigorar em 28 de setembro de 1871

Ainda de acordo com a especialista, os documentos históricos mostram que  a discussão sobre a liberdade das crianças só entrou em pauta por questões econômicas. “Não foi a preocupação com o direito humano, dignidade e assistência que motivou a criação dessa lei. Foi uma questão econômica”. 
De acordo com os papéis históricos do Arquivo do Senado, organizações de fazendeiros, como o Clube da Lavoura, enviaram aos senadores 11 representações contra o projeto da Lei do Ventre Livre. Algumas apontavam o risco de caos social e econômico no Império. As petições somaram 2 mil assinaturas. Para tentar corromper sistema escravagista, muitas mulheres escravizadas praticavam o aborto. “As mulheres escravizadas provocavam aborto porque não queriam ter um filho fruto de uma violência ou não queriam colocar um filho para ser explorado pelo sistema. Era uma forma de resistência à escravidão. No poema eu destaco isso, as crianças cresceram, reproduziram o trabalho escravo vivido pela mãe. Há documentos históricos que mostram que as crianças negras eram um animal de estimação dos filhos da Casa Grande. Não tinham direito a uma vida digna e plena. As leis abolicionistas são uma farsa nesse sentido, porque não tem o povo negro como ponto central”. 

O impacto da lei reverbera até hoje, segundo Iamara Viana, historiadora especialista na História da Escravidão no Brasil. “Do ponto de vista teórico e conceitual, está extinta. foi extinta, com a lei de 13 de maio de 1888, devido a movimentos populares negros, libertos e também de abolicionistas. Mas o que temos hoje são relações trabalhistas que seguem modelos similares de escravização. Hoje temos leis trabalhistas, mas se elas não são cumpridas, temos situações similares à escravidão”.






  • sábado, 5 de novembro de 2022

     

    CASA DE ALVENARIA volume 1: OSASCO - CAROLINA MARIA DE JESUS

    Depois de deixar o "quarto de despejo", Carolina se muda para a tão sonhada "casa de alvenaria"! O diário foi solicitado pelo jornalista que a descobriu: que ela continuasse descrevendo o seu dia-a-dia no seu novo endereço. 

    Carolina ficou "rica e famosa" de um dia para o outro, e é a escritora que mais vende livros no Brasil, tendo o seu "Diário de uma favelada" traduzindo para 21 países e 14 idiomas. Porém, nem tudo são flores...o racismo, o machismo e o preconceito de classe vão perseguir Carolina para sempre... 

    A grande contribuição desse documento histórico, resgatado pela sua filha Vera Eunice e a escritora Conceição Evaristo, entre outros componentes, é justamente a crítica ao mercado editorial. Parece ironia, mas quem construiu a imagem da preta favelada que escreveu um livro, vai querer mantê-la estagnada nessa mesma imagem. Carolina queria escrever ficção, seus poemas, romances, peças de teatro, canções. Mas foi obrigada a continuar escrevendo o diário.

    A nossa escritora só se sente bem porque agora dorme numa casa de alvenaria e tem o pão de cada dia para alimentar seus filhos. As três crianças frequentam a escola e usam roupas novas, mas são agredidas diariamente por serem filhos da favelada, por serem "crias" da favela. "Bitita", agora pode se vestir elegantemente, com vestidos, sapatos, bolsas e acessórios, mas diariamente, oportunistas e espertalhões batem à sua porta pedindo empréstimos, doações e patrocínios para projetos sociais e individuais... 

    O tempo de leitura é escasso, pois Carolina vive dando entrevistas para o rádio, jornal, revistas e televisão e viajando do Oiapoque ao Chuí. Nessa estada em Osasco, a autora começa a refletir se valeu a pena sair da favela... entre tantas outras reflexões que nossa filósofa faz sobre o Brasil, a política, o racismo, o machismo, a educação. É um livro de grande qualidade, assim como "Quarto de despejo", provando a verdadeira força das palavras dessa escritora genial. Virou meu livro de cabeceira e....daqui uns dias eu falo do volume 2. Ana Dos Santos

    segunda-feira, 24 de outubro de 2022

     


    O SOM DAS LETRAS - Delma Gonçalves por Ana Dos Santos

       Delma Gonçalves não tira apenas o som das letras quando declama seus poemas, ela também escuta um som ao fundo, uma melodia, um ritmo, uma cadência, e assim, letra e música vão se (con)fundindo. É que Delma, além de poetisa é compositora.

       Em seu primeiro livro autoral, “O Som das letras” (Cidadela, 2019), lançado um pouco antes da pandemia, a autora reúne as suas escritas publicadas em diversas antologias, coletâneas, e concursos, com destaque para “Pretessência” (2016) e “Aquilombados” (2021), publicações do sarau Sopapo Poético, que completou 10 anos agora em março e aconteceu na quadra da escola de samba da família de Delma: Acadêmicos da Orgia.

       Delma nasceu no berço do Carnaval gaúcho e foi parceira, dentre tantos outros, de Bedeu, Gilberto Oliveira, Vladimir Rodrigues, Cláudio Costa, Jorge Onifade, Renato Borba; assim como teve suas canções interpretadas por várias intérpretes e cantoras gaúchas como Yara Lemos, Cláudia Quadros, Renata Pires, Celinha Sorriso, Joice Mara, etc.

       A produção reunida aqui em “O Som das Letras” está dividida em subtítulos e temas: “EUPOEMA”, “OFÍCIO DE COMPOSITORA”, “FATIAS’, “PATUÁ”, “O CORAÇÃO É UM POÇO”, “MEU PRIMEIRO PARTO” e “LETRASOLO”. Eis alguns poemas:

     

    EU POEMA – Meu eu nos rastros da memória de minha história

    Escrita

    O que move minha escrita?

    É a palavra dita

    Aquela sem sossego

    Que atropela segredos

    Corre para o desapego

    Como quem sabe de anônimos apelos

    Guardada é fio, enredo é música enrustida

    Então a solto pelas lutas de sangrentas vias

    Ela verte emoção em sua evolução

    A caber perfeita em fadadas fantasias

    Amor, paixão, tristeza, alegria.

    E se transforma aguerrida,

    Como a rainha Nzinga

    Empoderada, resistente

    E, aos olhos de muitos que dela se apropriam

    E lhes dão autonomia

    As denominam simplesmente, assim:

    A poesia!

     

    OFÍCIO DE COMPOSITORA – Ensaio de palavras no aprumo da emoção, o suado oficio estuda a métrica e a melodia na aliança de minha inspiração

    Ofício de compositora

    Nas rodas de samba, nós somos bambas com louvor

    A essência da vida que dá vida, já disse o criador.

    Nossa musicalidade vem de berço, sim, nós temos valor

    Salve a mulher que traz o dom na alma,

    Assim como todo o bom compositor

    O sexo feminino há muito tempo discrepâncias, aturou.

    Ficamos na retaguarda e pra si a escrita guardou

    Temos um bom exemplo da trajetória de dona Ivone Lara

    Pra mostrar suas canções, emprestou seu nome,

    Sem revelar sua cara

    Está na hora de mostrar a força das mulheres,

    Divinas, empoderadas

    Pra falar da rotina, sem serem discriminadas.

    Salve o ofício das compositoras em suas jornadas

    Esse é um bom motivo de não desistirem nessa batalha

    Agora tudo mudou a tecnologia se rendeu a nosso favor

    O talento autoral no universo da arte faz parte

    Cantar nossas filosofias no toque do pandeiro e de um violão

    Ganhamos mais autonomia, socializando o nosso som

    Aguerridas, somos a essência vital de sensibilidade.

    Representantes da pioneira no abre alas

    De Chiquinha Gonzaga

    Vamos seguir avante na cara e coragem com dignidade,

    Em prosa e verso pra sermos realmente valorizadas!

     

    FATIAS – Pedaços de escritos, as falas enxutas, o pouco do muito que guardo em mim

    Caso de amor

    Alinhavo

    Entremeio

    Costuro o rasgo gasto

    E não me desfaço

    Abotoo o velho amor

    Na porta do coração

    Por entre meus seios!

    Pupilas

    Apalpe a palavra

    Com as pupilas dos olhos

    E deguste-a com a saliva do pensar

    A fome de ler vai te bastar

     

    PATUÁ – A miscigenação no brilho de minha pele, reflete na escrita como um patuá a espelhar minha descendência em negrito

    O CORAÇÃO É UM POÇO – Tudo que arde que escorre, que não seca nem com um pano, o amor profundo boia na sanga, não tem medida, quando sangra, nada abranda

    MEU PRIMEIRO PARTO – Procrio meu livro como cadela no cio, na trilha, sou ilha de versos e verbos, deles nascem minhas filhas poesias. Por entre estribilhos, me reparto nos orgasmos do parto, dos meus filhos

       O livro encerra com a reunião das Letras de Delma que se tornaram Sons nas mãos dos compositores:

    LETRASOLO – As letras solitas seguem seus rumos em busca de melodias e neste encontro se imortalizam em parcerias de seus casamentos bígamos.


    sábado, 1 de outubro de 2022

    ON THE ROAD, AGAIN! Depois de 3 anos sem viajar!!!

     APRESENTAÇÃO DO LIVRO "MULHERES ESQUECIDAS" DE ROSANE PEREIRA


    Tive a honra de fazer a apresentação desse livro!

    Título: MULHERES ESQUECIDAS
    Aurora: Rosane Pereira
    Editora Bestiário

    Melina, Júlia, Tereza e Luana são as mulheres esquecidas dessa narrativa. Mas Ângela, Alice e Maria Clara também foram esquecidas. Assim como Lilian, Mariana e Margarida... Na São Paulo do século XXI, milhares de moradoras de rua são esquecidas em um canto qualquer. Vamos acompanhar de perto a amizade que surge em meio ao caos de uma vida incerta e inesperada para quem vive da caridade alheia. Rosane Pereira põe uma lente de aumento sobre essas existências: "Desde que passei a viver na rua, entendi que de nada serve ter uma história para lembrar ou para contar. A gente tem que viver cada dia, um por um", lamenta Júlia. Porém, a autora vai nos contar as histórias de vida dessas mulheres, algumas sem identidade, mas todas com uma vivência em comum: os anos em que viveram juntas em um casarão abandonado. O machismo, o racismo e o classismo atravessaram seus corpos com todos os tipos de violência. De abandono em abandono, não se fixam em nada nem em ninguém, sempre vagando pelo mundo: "...a rua é tudo que é lugar e não é lugar nenhum", afirma Luana. É na convivência diária que vão construir entre elas a sororidade e a dororidade que as reúne. A Literatura é fundamental para que se preserve a memória, e Rosane Pereira, com suas palavras, faz com que nós nunca mais nos esqueçamos dessas mulheres.

    Ana Dos Santos
    Escritora, professora e Mestra em Literatura Brasileira.

    Sobre a autora:
    Rosane Pereira nasceu em Porto Alegre, é psicanalista, publicou seu primeiro romance, "Estranhos, Noturnos... e amantes - Retrouvailles online", pelas Editoras Associadas, (Porto Alegre) em 2009. Em 2013, publicou sua coletânea de contos "A invenção do Sentimento" pela Editora Ideias a Granel (Porto Alegre) e em 2018 publicou seu segundo romance " A dor dos lobos" pela Editora Patuá (São Paulo).


    APRESENTAÇÃO DO LIVRO "JOCOSO PONTO" DE TAINÃ ROSA E MITTI MENDONÇA


    Fui convidada a escrever a apresentação desse encontro de artes verbais e visuais: JOCOSO PONTO de Tainã Rosa e Mitti Mendonça:

    A mulher negra pode ser ela mesma? Pode escrever, fazer arte, contar histórias, bordar, encenar, tecer? Qual o ponto de partida? Carolina e suas escrevivências? Qual a trama, o enredo o tear o ponto sem nó? Qual o ponto da chegada? Tainã Rosa e Mitti Mendonça tramam juntas o malicioso, o harmonioso, o esperançoso ponto jocoso que nos fará sorrir com poesia, Axé!
    Ana Dos Santos
    Mestra em Estudos de Literatura e escritora.

    MEU ANIVERSÁRIO E 9 ANOS DO CLUBE DE LEITURA DO PROFESSOR GAÚCHO


    FESTIVAL INTERNACIONAL LITERÁRIO DE GRAMADO

    Você sabe quem foi Oliveira Silveira?

    Em seu cartão de visita, Oliveira Silveira se definia como pesquisador da cultura afro-brasileira e escritor de literatura negra. Falecido no dia 1 de janeiro de 2009, o poeta, professor e intelectual, com grande trabalho dentro do movimento negro (foi um dos idealizadores do Dia da Consciência Negra), deixou um legado vivo e que segue sendo objeto de pesquisas e influenciando novas gerações.

    Nascido no distrito de Touro Passo, na Serra do Caverá, em Rosário do Sul, Oliveira fez uma poesia que refletiu sobre o seu tempo e que se mostra, cada vez mais, universal.

    No início da década de 1970, Oliveira Silveira, Antônio Carlos Côrtes, Ilmo da Silva, Vilmar Nunes, Jorge Antônio dos Santos (Jorge Xangô) e Luiz Paulo Assis Santos, recorrentemente, encontravam-se em frente à tradicional Casa Masson da Rua da Praia, no Centro de Porto Alegre. Reuniões posteriores incluíram membros e culminaram com a consolidação do Grupo Palmares, focado nos estudos de artes, literatura e teatro.

    Para homenageá-lo durante o 1º Festival Internacional de Literatura de Gramado, reunimos uma comissão, composta por Ronald Augusto, Ana dos Santos, Richard Serraria, Naiara Silveira, Sátira Machado, Coletivo Sankofa e Adílson Fontoura

    #paratodosverem: a imagem conta com os elementos visuais que compõem a identidade do FiliGram, são formas geométricas coloridas onde no topo está escrito COMISSÃO DE HOMENAGEM A OLIVEIRA SILVEIRA, em vermelho e, ao lado, a foto do autor. Distribuídas no card, há mais sete fotos, todas em formato circular com as respectivas legendas: Naiara Silveira, Ronald Augusto, Coletivo Sankofa, Ana dos Santos, Sátira Machado, Adílson Fontoura e Richard Serraria. No canto inferior direito está a logo do Festival.

    MULHERES ESCRITORAS COMPARTILHAM SEUS SABERES: UMA CONVERSA COM ANA DOS SANTOS E FUTHI NTSHINGILA

    Por Thaís Seganfredo

    O que é ser escritora nesses tempos difíceis que estamos vivendo? A escritora Carolina Panta abriu a mediação da mesa “África e Brasil: saberes femininos”, que aconteceu no cair da tarde deste domingo (04) com essa pergunta desafiadora. Na conversa, as escritoras falaram de conquistas históricas, oralidade e da importância matriarcal das mulheres na sociedade. Confira como foi a mesa, permeada por poemas de Ana dos Santos e por falas da sul-africana Futhi, que contou com tradução:

    Futhi Ntshingila: Não são tempos fáceis, principalmente para as mulheres e principalmente para as mulheres negras. Eu tento não esquecer que as mulheres que vieram antes de nós lutaram em tempos mais difíceis ainda do que nós estamos lidando agora. As mulheres das quais eu tiro inspiração são Maya angelou, Alice walker… Antes delas havia outras mulheres que lutaram em lutas mais difíceis.

    “Os homens que não amavam as mulheres diziam que amavam as mulheres. Mas matavam as mulheres. Sempre foi assim, mas nós não queremos mais morrer. Eu já morri 100 vezes, arrastada pelos cabelos, nas fogueiras da inquisição, nos campos de concentração (…)” – Ana dos Santos

    Conquistas e avanços

    Futhi: Eu quero acreditar que vai haver um tempo, mas chega a ser difícil ser otimista quando paramos pra olhar o que vem acontecendo. Esse poema que a Ana acabou de ler é um poema com o qual eu me identifico. É a história de mulheres do lugar de onde eu venho. Mas eu acredito que se nós vamos chegar a um ponto em que vamos poder cantar, precisamos ter primeiro pequenas vitórias, porque é pedacinho por pedacinho. No meu país, havia um tempo em que as mulheres não podiam se envolver. Teve um tempo perto de 1952, em que as mulheres tinham que andar longas distâncias para chegar até o parlamento e exigir seus direitos. Todo dia 09 de agosto na África do Sul, nós celebramos essa conquista das mulheres que foram até o parlamento e exigiram seus direitos. Naquele momento, era exigido que todas as pessoas negras tivessem carteiras de identidade e havia áreas em que elas eram restritas. No dia 9 de agosto, as mulheres colocaram fogo nas carteiras de identidade: “a partir de agora vocês vão nos tratar como seres humanos”. Temos agora mais de 50% de mulheres no parlamento e isso é alguma coisa. Em 1994, quando recuperamos nossa democracia, o nível de educação para as mulheres subiu. Esses são marcos que podemos apontar para chegar até essa área que estamos enxergando.

    Ana dos Santos: as mulheres negras sempre estão em coletivo, é assim que a gente trabalha até hoje. Nós perdemos muito na travessia do Atlântico, e quando penso nisso, lembro das mulheres da nossa família. Olhamos para trás e vemos afeto, carinho e força nessas mulheres. Ultimamente, tenho sentido entre as mulheres um lugar de carinho, de segurança e é muito bom ver tantas mulheres escritoras aqui hoje.

    Ancestralidade e afeto

    Futhi: a matriarca é a pessoa mais importante da família. Penso nas mulheres de casas domésticas no oeste da África. Eram elas que mandavam, governavam como rainhas. Então pra mim, principalmente as avós, são mais do que avós, elas trazem com elas toda uma sabedoria que é repassada para nós. Vou contar para vocês uma história da mãe da minha mãe. Ela cresceu como trabalhadora doméstica, tem um personagem no meu livro que fala disso e essa é a história da minha avó. Ela trabalhava na cozinha de pessoas brancas durante o apartheid. E ela tinha uma xícara diferente do que as outras pessoas usavam, uma xícara de chá. Ela devolveu a xícara, dizendo que não usa esse tipo de xícara de latão. E a mulher falou que era pra ela colocar açúcar mascavo no chá, o açúcar marrom. Ela disse que não gostava de açúcar mascavo [ e respondeu] “por que você mesma não coloca no seu chá?” São pequenas atitudes como esta que mostram a história. Ela tinha uma maneira de agir que por um lado era submissa, mas quando você via ela em casa, você via uma leoa. Minha avó não se denominava feminista, mas todo o comportamento dela mostrava que essas mulheres queriam igualdade. Elas tinham uma maneira própria de buscar isso. Elas buscavam seu caminho. Porque se houvesse alguma discordância na casa, a avó diria: não se preocupe com isso. No próximo dia, uma decisão ia ser tomada, de um modo que o homem acreditaria que ele é que tomou a decisão.

    “Você conhece alguma princesa negra? eu conheço e ela se chama Dandara. Está mais perto do que você imagina. Dandara é uma mulher que é dona de sua casa, pois no Brasil mais da metade das casas são chefiadas por mulheres. (…) Dandara é guerreira porque chove na sua horta e ela vai vender na feira. Dandara é princesa e também é rainha. Dandara é mãe e teve três filhos, mas criou sozinha, porque o negro rei foi pra Bahia. E lá ele é chamado de meu rei. (…) Dandara odeia os ismos, racismo, machismo, fascismo, também odeia regras porque não é preciso, ela não é obrigada a fazer transição, e usa seu cabelo liso” – Ana dos Santos


    QUESTIONANDO CÂNONES POÉTICOS

    Rafael Gloria

    No último dia do Festival Internacional Literário de Gramado, aconteceu uma das melhores mesas de todo o evento, intitulada Poesia e crítica contemporânea, com debates entre os poetas Ronald Augusto, Ana dos Santos e Marlon Ramos. O público, de início, era pequeno, mas foi enchendo conforme o tempo passava, lotando nas mais de uma hora de duração da mesa.

    Quem começou com a sua fala foi Ronald Augusto. Ele lembrou que o conceito de crítica ficou preso a uma ideia vaga de se falar negativamente sobre algo, mas é muito mais amplo, sendo um processo de análise, de reflexão. Ronald também comentou sobre o conceito de qualidade literária e como ele necessita de um debate mais aprofundado. “Hoje os critérios são outros e outras demandas são importantes”, fala. Ele diz que, por muito tempo, essa ideia foi usada para para afastar os escritores negros de grandes editoras, por exemplo. Ronald é também crítico com a ideia de que a arte salva, comum em alguns meios. “Essa possibilidade não é algo intrínseco ao processo criativo, nós associamos, mas não está na base da poesia um caráter salvacionista”, aponta. 

    Ana dos Santos lembra que os critérios de publicação, em sua grande maioria, sempre foram eurocêntricos e ligados a uma elite. “Acho muito importante os poemas que viraram clássicos, mas também é preciso questioná-los. Quando falamos em poesia canônica, quem é que vem à mente?”, diz. Ana acredita que a crítica negativa também pode ser interessante no sentido de construir outras perspectivas. Ela também é pesquisadora e atualmente faz doutorado em Letras na Ufrgs e vê a poesia como um lugar de liberdade, apontando que é preciso buscar outras referências para ir além do cânone, buscando uma maior diversidade de autoras e autores. 

    Marlon Pires diz que as referências musicais, para ele, vieram antes do que as literárias. “Neruda, por exemplo, veio para mim a partir do Emicida”, diz. Ele também cita o samba, o slam, Sérgio Vaz, Racionais, Rappin Hood. Marlon diz que começou escrevendo crônicas e que a música o ajudou a compreender que o seu tipo de texto era mais ritmado. “E então, eu fui achando um caminho de poesia possível, que pudesse abarcar um jeito de escrever, com afeto”, explica. Ele diz que no início a sua construção pensava nessa ideia do verso que abraçasse, mas para isso teve que passar pelo senso crítico de ouvir a galera que estava fazendo poesia na rua, no rap, samba, e também no cânone. 

    A mesa foi rica em discussão, porque trouxe diferentes visões sobre como cada um dos autores observa o fazer poético, a recepção da poesia e também a estética que buscam. Depois da conversa, os três leram alguns de seus poemas, sempre aplaudidos efusivamente  pelo público, bem receptivo. A poesia pode não salvar, mas ela tradicionalmente reúne as pessoas e foi isso que aconteceu neste último dia de evento.