sexta-feira, 31 de maio de 2019

RAÍZES 2



O projeto
O mercado editorial brasileiro, de uma forma cruel e racista, continua perpetuando esse pensamento em nosso país colônia, onde desde 1964 até 2014 (data da pesquisa feita pela UnB) apenas 10% dos livros publicados por brasileiros foram de escritores negros. Essa pesquisa também trouxe como resultado que 60% dos personagens retratados na literatura brasileira são homens, e 80% deles, brancos. Para além dessa pesquisa, basta o teste do pescoço e da vivência para perceber como a arte negra em sua mais ampla e diversificada gama é consumida somente nos meses de maio e novembro. É por isso que o livro "Raízes - Resistência Histórica" volume 2, vem para continuar alimentando o mercado com literatura negra, com corpos negros invisibilizados, corpos políticos que movimentam nas cenas de saraus, slams, que têm seus trabalhos escritos em suas redes sociais, que levam as suas vozes para ocupar praças, ruas e cidades. O livro vem para formar leitoras e leitores e para apresentar a esses, personagens comuns e reais, que sangram, se ferem e que são subjugados e subestimados por uma sociedade que engendra minuciosamente características e padrões negativos.

Ao abrir as páginas dessa coletânea, vocês encontrarão os escritos de 20 mulheres negras do país, de onde cada uma vem, o que faz a vida de cada uma de nós pulsar e o que temos para compartilhar. 20 mulheres negras que existem em uma sociedade racista e patriarcal, aprendendo todos os dias a construir resistência através da escrita, que tem o poder de chacoalhar o mundo, de transformá-lo, reescrever o passado e tomar as rédeas do futuro.

CONVIDAMOS TODAS E TODOS A AJUDAR TORNAR ESTE LIVRO REALIDADE, através deste financiamento coletivo/pré-venda


 https://www.catarse.me/Raizesvolume2?ref=project_link&fbclid=IwAR1sjir80ZOUeXJAMkgDZ78rddz7V8l03Wktuiv6iAAzsKMDMas_BJPrDbM


segunda-feira, 27 de maio de 2019

SLAM É POESIA SIM!
Cristal Rocha e Bruno Negrão (slammers/poetas)



O PENSAMENTO DECOLONIAL E AS POÉTICAS ORAIS: SLAM É POESIA SIM!
   Nas tensas relações entre o cânone literário e Literatura Periférica, encontramos nos saraus periféricos e nos slams a poesia em seu estado seminal: a oralidade! Essa mesma oralidade que é sempre questionada quando se nega o reconhecimento de narrativas e poéticas da Literatura Oral como legítimas expressões literárias de todos os povos e de todos os tempos. No Brasil, a oralidade vem marcando presença em saraus periféricos, com microfone aberto e nos slams.
   Slam é uma competição de poesia autoral que acontece em espaços públicos, na maioria das vezes, com jurados escolhidos no público e que durante um período de tempo cronometrado precisam avaliar as produções dos slammers/poetas que versam, entre tantos temas, sobre os anseios de mudança da sociedade, pautas de lutas dos movimentos sociais, e defesa das liberdades individuais na contemporaneidade.
   A voz é o meio de expressão do slammer, que pode dizer o poema de memória ou ler o que já está escrito. O corpo faz parte da performance, onde é proibido o uso de adereços ou objetos. O olhar é direcionado para o círculo de pessoas que se formam em volta do poeta. É a poesia acontecendo no encontro entre a obra e o leitor (leitor de mundo, citando Paulo Freire), transmitida por esse slammer que deseja vencer a competição, mas que também se satisfaz e se realiza na escuta da sua fala.
   Aqui falo do pensamento decolonial como expressão de identidades étnicas e grupos sociais “subalternizados”, ou de algum modo à margem, que recriam e descentram as poéticas ocidentais. O narrador oral e urbano também escreve no papel e nos meios digitais, invertendo a lógica do livro, que começa sempre na escrita para depois ser lido ou recitado em voz alta. No caso dos slammers, o fanzine ou “zine” de produção artesanal tem grande circulação nos slams que começam a ganhar forma de antologias.
   O slam também conta com um espaço no intervalo das batalhas que é chamado de “mic livre” (microfone) onde inscritos previamente, poetas, slammers e público em geral, podem dizer, ler ou recitar poemas de autoria própria ou de outros autores. Os competidores também se inscrevem previamente e devem ter no mínimo três poemas autorais. Os slammers são chamados com o grito do slam e com o coro do público, exemplo: “Poesia contamina! Slam das Minas!”
   Alguns slams têm temáticas de competição: o Slam das Minas só permite mulheres competindo, o Slam Chamego é sobre afeto, o Slam do Gozo é sobre erotismo, etc. Alguns slams têm relação direta com o território onde acontece, como o Slam da Tinga, tradicional bairro periférico de Porto Alegre, assim como em outras periferias da cidade, que ressignificam o próprio termo “periferia”, como um local de produção cultural e referência que se opõem ao centro, com suas práticas discursivas e “escrevivências” próprias.
   O slammer/poeta é constituído e atravessado por essas identidades que a própria cultura do slam está construindo no Brasil, país extremamente racista, machista e homofóbico, onde os corpos exterminados são preferencialmente corpos negros, femininos e lgbtq+. Esses sujeitos aparecem nos poemas como o eu lírico que está entremeado na identidade da autoria.
O caráter competitivo do slam é a sua principal característica que se opõe ao sarau periférico por não ter competição:
... é o caso dos Slams, eventos de ‘batalhas de versos’ que se firmam como espaço de literatura nas periferias, conforme Lima (2016). Os slams são campeonatos de poesias: Normalmente, os participantes tem até três minutos para apresentarem sua performance – uma poesia de autoria própria, sem adereços ou acompanhamento musical. O texto pode ser escrito previamente, mas também pode haver improvisação. Não há regra sobre o formato da poesia. O júri é escolhido na hora e dá notas de 0 a 10, que podem ser fracionadas, explica Jéssica Balbino, escritora e pesquisadora de literatura marginal e hip hop, em entrevista ao Nexo. Entre todos os competidores, a maior nota vence. Os campeonatos não são obrigados a seguir normas rígidas, mas a maior parte obedece a essas diretrizes. (Lima, 2016)

O SILÊNCIO É UMA PRECE!
   Como pesquisadora, professora e poeta, o que mais me surpreendeu frequentando os slams é o silêncio que se faz para escutar os poemas. No meio da rua, uma roda de quase cem pessoas fazendo silêncio em  uma das avenidas mais movimentadas da cidade é quase uma transgressão! Levando-se em conta a maioria do público que é jovem, meu espanto foi ver o respeito e a reverência à poesia, silêncio difícil de encontrar em saraus de espaços fechados, onde o poeta precisa competir com conversas de bar, músicas e celulares que chamam mais atenção do que os poemas.
  O slam foi criado nos anos 1980 em Chicago, ao mesmo tempo em que a cultura hip hop tomava forma, mas só chegou ao Brasil mais tarde, nos anos 2000. Segundo Lima (2016) no Brasil, os slams são próximos de outro espaço da literatura das periferias: os saraus. O público das duas manifestações culturais muitas vezes coincidem, e há em ambos, uma interação muito grande entre os participantes: “Mas o slam dialoga mais com o público mais jovem, talvez pelo caráter competitivo, talvez pelo caráter performático, mas existe uma crescente no grupo, o que é muito bacana, porque justamente exercita o ouvir”, diz Jéssica Balbino. Segundo a pesquisadora, o slam contribui na autorrepresentação de minorias, como mulheres, negros, lésbicas e gays e moradores das periferias em geral. “Para competir no slam, a pessoa não precisa ter livro publicado, ser rapper, artista, nada. Vale para donas de casa, taxistas, vendedores, etc. No sarau também, claro. Existe algo de: todos podemos fazer poesia. Todos podemos usar a palavra para nos manifestarmos. Não há necessidade de um livro publicado para validar o ofício de poeta e/ou slammer.”

   Concluo afirmando que Slam é Poesia sim, uma poesia que precisa ser vivenciada presencialmente, sentindo a aura que uma roda de slam emana, o brilho nos olhos dos slammers/poetas, que também vêm discutindo os limites, semelhanças e diferenças entre o fazer poético, ora para competir, ora para escrever. Você também pode assistir os vídeos na internet, mas lhe garanto que não é o mesmo que ver um slammer em ação!
   Ana Dos Santos, pesquisadora de Poéticas Orais, professora de Literatura Brasileira e poetisa!

BIBLIOGRAFIA

PRZYBYLSKI, Mauren Pavão. A voz da poesia periférica por ela mesma: uma conversa com Sandro Sussuarana, do Sarau da Onça. Disponível em http://revistaboitata.portaldepoeticasorais.com.br/site/arquivos/revistas/1/ENTREVISTA%20A%20SANDRO%20SUSSUARANA,%20CONDUZIDA%20POR%20MAUREN%20PAV_O%20PRZYBYLSKI.pdf 
FONTOURA, Pamela, SALOM, Julio, TETTAMANZY, Ana Lúcia. Sopapo Poético: sarau de poesia negra no extremo sul do Brasil. Revista de estudos de literatura brasileira contemporânea, n.49, set/dez. 2016. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/elbc/n49/2316-4018-elbc-49-00153.pdf



 

sexta-feira, 17 de maio de 2019

TESSITURAS - formação de mediadores para programas de leituras
Oficina Mulher Negra, meu corpo, minha voz
Livraria Paulinas





SARAU POESIA PELO MUNDO - Aniversário de 1 ano
Poeta convidada
Petit Dalí



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