MAR LÍRICO
Eu podia falar do livro do Marlon como
professora e pesquisadora de Literatura, falar da sua linguagem coloquial, da
força da oralidade no seu verso, do resgate da memória ancestral e da presença
significante das mulheres negras na sua formação como sujeito e eu lírico desse
mar.
Mas, eu vou mandar um papo reto, um flow
mesmo, porque sou poeta também e esse livro me provocou um ritmo, um ritmo e
uma poesia!
A começar pelo título, lindo mesmo,
inspirador! Esse mar eu reconheço, Marlon é o afro-atlântico que nós
atravessamos um dia, para nos reencontrarmos nessa diáspora, aqui no “Deep
South”, como diz Duan Kissonde, outro malungo poeta nosso!
É Marlon, nossos passos vêm de longe, disse
Jurema Werneck e repetimos nós, o tempo todo, para não esquecermos quem somos.
Por que se não sabemos para onde vamos, sabemos das pegadas dos nossos
ancestrais, pra pisar com firmeza nesse chão!
Teto preto não é legal, a gente acorda
malzão no outro dia. Mas tô pra ti dizer que Teto preto é o branco mesmo! O
branco é o teto preto das nossas vidas! Black lives matter!! O branco vem,
rouba nossa negritude e nos chama de pardo, depois, recoloca a negritude quando
convém pra dar enquadro! É foda!
“PORQUE SOU HUMANO!”, é mais que um verso, é
um grito, é um pedido, por favor, respeitem nossas vidas! Principalmente desse
poeta, pra não virar estatística!
“VOCÊ
TEM FALAR O QUE ESCREVE!”, diz outro verso, mas, ele escreve para não falar,
vocês entendem???
É que falar não basta, tem que escrever!
Marlon é humano e escritor!
“ESTOU TRABALHANDO!”
“ESTOU ESCREVENDO!”
“ESTOU APRENDENDO!”
“ESTOU OBSERVANDO!”
Marlon é um homem que chora e toma cerveja e
observa.
“Meus verso tem origem preta
tipo avião que perde a caixa preta!”
Eu lembro do dia que você foi assaltado,
irmão, era domingo, tu me contou, era dia, perto do parque, cheio de gente...”
É mais um absurdo que virou poesia...
“Você dança sobre o vulcão?” Sim, Marlon,
eu danço com o vulcão! Esse livro é sobre nós!
“EU QUERO VOAR!” Já é!
“ESCREVO O QUE EU QUERO!” Já é!
É tudo nosso , Marlon, tudo nosso!
Mar lírico para boiar na calmaria,
para seguir no fluxo,
pra beber na fonte,
academia de rimas é Mano Brown!
Marlon, tu improvisou no lançamento do meu
livro, mas se eu improvisar aqui, eu choro!
EU
ESCREVO O QUE EU QUERO TAMBÉM!
Que Oxalá te limpe desse veneno! Marlon,
poeta!
”Então chore, não se demore, porque acalanto
do seu coração está vindo e é tão lindo quanto esta canção!”
Canção
de Tássia Reis, salve!
Salve
Agnes Cardoso,
Salve
Djamila Ribeiro,
Salve
as preta nesse livro, eu também admiro muito a tua pretinha!
Marlon, me empresta tua vozinha???
“Chico Buarque falando dos preto é a gota
d’água!
(...) Tô mais pros Racionais, Negro Drama é
o caminho”
Nós por nós, UBUNTU, você sabe praticar esse
saber, Marlon!
Amor sem miséria pra nós!
É
noiz, na fita, mano!
É
noiz!!!!
Ana
Dos Santos