terça-feira, 29 de junho de 2021

 


Os olhos cheios d’água de Conceição Evaristo

Ana Paula Freitas dos Santos[1]

Resumo

 

O presente ensaio apresenta a obra Olhos d’água (2016) da escritora Conceição Evaristo, que compõe um dos objetos da minha pesquisa “Os contos de Conceição Evaristo e a representação da mulher negra: diáspora, gênero e descolonização na sala de aula”. O texto foi apresentado na disciplina Seminário de Estudos Comparados – Literatura de Autoria Feminina e Estudos de Gênero PPG Letras/UFRGS e tem como objetivo apresentar a escrita feminina de autoria negra e a importância da voz narrativa de Evaristo, que atravessada pela interseccionalidade de gênero, raça e classe inclui no cânone literário as vozes decoloniais brasileiras que durante séculos não tiveram representatividade na literatura, tanto nas personagens, quanto na autoria. A fundamentação teórica usadas na análise dos contos se aporta nas intelectuais Maria Lugones e o conceito de “colonialidade de gênero”, Sueli Carneiro e o feminismo negro e Gayatri Spivak com a reivindicação da alteridade.

 

Palavras-chave: Gênero; Raça; Escrevivência; Feminismo Descolonial.

 

 

Eu, mulher negra, tenho encontrado na escrita feminina negra, minhas iguais. Por irmanarmo-nos através de um corpo sujeito negro, um corpo do gênero feminino que se expressa em várias sexualidades, um corpo que escreve, pensa e produz conhecimento, encontrei na escritora Conceição Evaristo uma literatura que proporciona a busca do meu ser e estar neste mundo e que também protagoniza mulheres negras não somente como objetos de estudo, mas, sim, como sujeitas que contam sua própria história através das personagens e narradoras criadas por Conceição.

“Corpo”, “sujeito”, “gênero”, “feminino”, todas palavras masculinas, não comportam a experiência das palavras “mulher”, “sujeita”, “feminina”, “negra”. Enquanto ainda estamos presas pelo léxico da linguagem que generaliza no masculino, a palavra “negra” é onde me sinto em casa. Ainda bem que “escrita” é uma palavra do gênero gramatical feminino. Por isso, a importância do conceito “autoria feminina”.

Muitos questionarão onde fica a divisão entre a vida da mulher Conceição e a literatura da autora Conceição Evaristo. Ela mesma responde: “Peço muito para as pessoas que não leiam apenas minha biografia, porque ela é importante sim, porque ela contamina meu texto...”, mas, ela ressalva: “Não leiam somente a minha biografia. Leiam meus textos!”. (GUIMARÃES, 2018).

A escritora e Doutora em Literatura criou o conceito “Escrevivência” para se referir à produção escrita de mulheres negras que têm em comum o estigma do racismo e do machismo que as colocam em situações de subalternidade. Evaristo compreende que por ela ser uma escritora negra, entende e se identifica com muitas das personagens que cria, assim como se coloca como narradora, contadora ou talvez a própria personagem dos contos.

Conceição Evaristo vem de uma corrente literária dentro da Literatura Brasileira chamada “Literatura Negro-Brasileira”, conceito criado pelo escritor e Doutor em Literatura Cuti Silva (2010), que abrange escritores e escritoras negros brasileiros que reivindicam a autoria negra, a ancestralidade, o posicionamento antirracista, a voz coletiva da diáspora negra e que têm como público leitor, a população negra. Dentro dessa corrente encontramos as predecessoras da escrita feminina negra brasileira: Maria Firmina dos Reis e Carolina Maria de Jesus.

Evaristo fala que Carolina de Jesus foi uma das escritoras que marcou e influenciou sua escrita. Ambas cresceram na periferia, conheceram de perto a luta pela sobrevivência das mulheres negras, a pobreza, a fome. Evaristo cresceu em uma família de mulheres cozinheiras, faxineiras e babás. Carolina e Conceição foram empregadas domésticas. Conceição tomou gosto pela leitura dentro da família, que se reunia para ouvirem histórias que posteriormente ela aprendeu a contar. A obra de Evaristo é uma porta de acesso ao conhecimento da oralidade, um dos valores civilizatórios da sociedade africana.

Essas vozes são divergentes e dissonantes da história única que tem sido contada a partir da perspectiva do colonizador, do dominador europeu. Essa produção intelectual de mulheres negras e/ou latinas propõe a descolonização do pensamento ocidental, que refuta o perigo da história única como alerta a escritora Chimamanda Adichie (2018). Essas vozes são o contraponto da escravidão africana, ou seja, a resistência. Essas vozes contam a história do Brasil pelo ponto de vista do dominado, do colonizado, do africano, do “Outro”. São as vozes da diáspora africana.

Segundo Simone Pereira Schmidt, no artigo “Os desafios da representação: poéticas e políticas da leitura descolonial”, a autoria negra feminina na literatura articula aspectos de gênero e raça na representação de mulheres em obras da diáspora. O artigo assinala sua opção por uma crítica descolonial, no âmbito dos sistemas culturais atravessados pela herança do colonialismo português.

 

[...] Dentre as questões mais frequentemente evocadas nos textos literários encontram-se a memória da segregação racial, a assimilação, a mestiçagem, [...] Questões como essas, que se mostram ainda tão vívidas na esteira de uma história colonial que se deseja superar, podem ser compreendidas através da concepção formulada por Aníbal Quijano, de “colonialidade de poder”. Tomando esse conceito como referência, Maria Lugones afirma que a colonialidade, cujo nascimento se acha estreitamente ligado ao colonialismo, estende e prolonga seus efeitos. Tais efeitos não se restringem às questões raciais, mas permeiam, segundo a autora, “todo controle do sexo, da subjetividade, a autoridade e o trabalho”.

   Walter Mignolo, dialogando com a reflexão de Lugones, assinala que o processo colonial esteve ancorado sobre dois vetores fundamentais que foram o patriarcado e o racismo (Mignolo, 2008, p.9). Se pensarmos em termos das permanências da matriz colonial, encontramos no pensamento feminista pós-colonial a ideia da interseccionalidade (Crenshaw, 2002) que compreende que as categorias de gênero e raça se entrelaçam inextrincavelmente na constituição do que Maria Lugones chama o “sistema moderno colonial de gênero” (SCHMIDT, 2013, p. 231).

 

A “colonialidade de poder” foi a experiência de Portugal sobre o Brasil. Segundo Quijano, a dominação e a exploração são encontradas até hoje nas práticas dos modelos mundiais capitalistas, em que “colonialidade” refere-se à classificação das populações do mundo em termos de raças, ou seja, a racialização entre colonizadores/colonizados/as, no caso do Brasil, a subjugação dos povos originários pela diferença e discriminação dos indígenas aqui presentes na “descoberta” (QUIJANO, 1991; 1995). Lugones (2014, p. 939) amplia essa compreensão além de gênero e também vê a redução ativa das pessoas, desumanização, sujeitificação e assim, menos que seres humanos, estariam dispostos a serem convertidos e cristianizados (LUGONES, 2014, p. 939).

Lugones afirma que diferente da colonização, a colonialidade do gênero ainda está conosco. Os seres que resistem à colonialidade do gênero a partir da “diferença colonial” são complexos. Ela mesma se coloca como “resistente”, onde ser resistência é uma possibilidade, adjetivo que encontramos nas personagens de Evaristo, que assim como a intelectual, são livres dentro dos limites relacionais, se adaptando ao ambiente e às situações de miséria ou se opondo a essas conjunturas de opressão construindo suas subjetividades:

 

Legitimidade, autoridade, voz, sentido e visibilidade são negados a subjetividade oposicionista. A infrapolítica marca a volta para o dentro, em uma política de resistência rumo à libertação. Ela mostra o potencial que as comunidades de oprimidos/as, têm entre si, de constituir significados que recusam os significados e a organização social, estruturados pelo poder. [...] Conforme me desloco metodologicamente dos feminismos de mulheres de cor para um feminismo descolonial, penso sobre feminismo desde as bases e nelas, e desde a diferença colonial e nela, com uma forte ênfase no terreno, em uma intersubjetividade historicizada, encarnada. [...] Descolonizar o gênero é necessariamente uma práxis. [...] Chamo a possibilidade de superar a colonialidade do gênero de “feminismo descolonial”. (LUGONES, 2014, p. 940-941)

 

Esse devir feminista, não é consciente nas personagens de Evaristo. É uma práxis, em todos os aspectos dos modos de viver e ser de uma mulher negra, num país da América Latina que foi construído sobre a égide do trabalho escravo. Existir é resistir. A luta diária pela vida é uma oposição ao sistema. “Contrariando estatísticas”, como canta o rapper Mano Brown é romper com o colonial, é descolonizar o que é esperado de um sujeito negro. Sorrir, cantar, dançar, amar, são atos de subversão para a população negra. Conceição Evaristo nos narra essa resistência, através das “escrevivências” que nos mostram os afetos, dos pares, dos filhos, família e amigos da mulher negra.

A descolonização através da Literatura Negro-Brasileira dá-se através dessas representações de mulheres e homens negros que narram de diferentes formas, suas maneiras de resistir e suas superações diárias dentro de um sistema que oprime suas identidades há 520 anos. Na obra de Evaristo, encontramos a periferia como um território de resistência e de luta, palco de suas personagens.   

O conceito de “Lugar de fala” (RIBEIRO, 2017), ou “lugar de representação” (MIGNOLO, 2003) pode ser observado nas personagens de Evaristo quando enunciam em seus discursos o ponto de vista do “outro”, a mulher negra, que fala o que pensa, o que sente, que se configura como um sujeito pertencente a um segmento da sociedade que ao mesmo tempo a exclui e a inclui nos lugares de subordinação ou nos lugares de revolução, pois é uma revolução na Literatura Brasileira dar voz a esses sujeitos. Desse modo as leitoras negras se veem representadas e é construída coletivamente uma consciência de gênero e raça que sustenta uma necessidade de descolonização do viver.

 

 

OLHOS D’ÁGUA

 

No livro Olhos d’água (2016), os contos de Evaristo revelam o lugar de fala através das vozes da periferia. Qualquer leitor não periférico, homem ou mulher, encontrará na obra de Evaristo a experiência humana em todas as suas facetas. A literatura da autora é uma narrativa social e traz a voz da mulher negra brasileira, tão rara e mal representada em nosso cânone literário.

Essa literatura também é uma ferramenta de empoderamento para muitas mulheres negras em rodas e clubes de leitura que vêm surgindo no país, assim como o Feminismo Negro na América Latina, que é uma oposição à construção colonial do que seja uma mulher negra e também uma forma de sobreviver ao racismo estrutural que coloca essas mulheres à margem da sociedade.

As mulheres negras se veem representadas no discurso de Evaristo, sentem-se pertencentes a um grupo de mulheres que não esconde seus sentimentos e afetos, suas necessidades e desejos, seus sofrimentos e perdas, enfim, suas vivências. A escritora traz para a Literatura Brasileira, uma representatividade e um pertencimento de uma parcela da sociedade que luta contra a exclusão, o silenciamento e o apagamento do que significa ser uma mulher negra no Brasil.

Em entrevista recente à revista Marie Claire (2019), Conceição comenta que, na literatura e na vida, gosta de falar sempre a partir de suas experiências e exalta quem tem conseguido fazer o mesmo: “Hoje a gente tem um movimento de falar com a nossa voz. Me perguntam se falo pelas mulheres negras. Eu não falo pelas mulheres negras, falo como mulher negra, com as mulheres negras.” (FRANÇA, 2019, p.60)

Em Olhos d’água (2016), a maternidade e o elemento água estão presentes em quase todas as narrativas, seja em lágrimas ou no sangue menstrual que une todas as mulheres como um fio da vida. A morte e a vida são alegorias constantes nas narrativas da periferia brasileira, nelas enxergamos a fome, a violência e o crime que colocam os personagens na “corda bamba da vida”.

Encontramos a “escrevivência” presente nos contos, que trazem a voz da mulher negra ora como protagonista da sua própria história, ora com o olhar de uma narradora que também é mulher e negra e sintoniza essas duas falas. Na maioria dos contos, o “outro” é o homem, que por vezes é o inimigo e o predador da vida das mulheres, através das maldades e crueldades que a cultura do machismo perpetua com a submissão e a subjugação das mesmas.

Mas essas mulheres não são completamente insubmissas. Jurema Werneck, na apresentação de Olhos d’água (2016) diz que Evaristo é uma “Yalodê”, a que fala pelas mulheres que não podem falar, contando, dizendo, amaldiçoando. A leitura do livro é bastante comovente por trazer as vivências marcadas pela dor, sofrimento, violência, opressão e ao mesmo tempo a construção dos afetos, amores, amizades, famílias nesses territórios brasileiros excluídos da equidade e justiça social.

Neste livro encontramos também as aproximações entre vida e obra, pois só quem nasceu e viveu numa favela consegue transformar em palavras verossímeis essa “escrevivência”:

 

Hoje, consagrada escritora, Conceição nasceu e se criou numa favela de Belo Horizonte. Filha de empregada doméstica, chegou a prestar o mesmo serviço ainda criança, quando morava com tios que viviam em condições melhores que a mãe. Viu seu destino girar a partir da mudança para o Rio em meados dos anos 70. Lá formou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), trabalhou na rede pública como professora e se tornou mestre em literatura brasileira.

   Seu espaço dentro de um meio predominantemente branco, “como toda instituição brasileira”, ela demorou a encontrar. Deu os primeiros passos ainda no início dos anos 90, quando passou a publicar contos e poemas na série Cadernos Negros. Mas só foi lançar o primeiro romance, Ponciá Vicêncio, em 2003, quando já tinha 57 anos. (FRANÇA, 2019, p. 59)

 

Entre seu primeiro romance, “Ponciá Vicêncio”, e o livro de contos “Olhos d’água”, destacam-se temas recorrentes na obra de Evaristo: a ancestralidade, marca que é resgatada e memorizada para que não se esqueçam das raízes de África e a experiência traumática da diáspora; a mulher negra como sujeita das narrativas, que por vezes é coadjuvante, mas que aparece sempre como dona de seu destino; o cenário da escravidão que se reconfigura atualmente nas favelas e periferias e a importância do ouvir e contar histórias, ressaltada na figura da mulher Griot que pode ser uma velha que lembra e relembra o passado ou uma jovem que faz a passagem da oralidade para a escrita e que deseja registrar as vivências para que não se percam.

No conto de mesmo nome que abre o livro “Olhos d’água”, a narradora tenta adivinhar qual era a cor dos olhos que a mãe dela tem e no conto “A gente combinamos de não morrer”, a personagem Bica deseja escrever tudo o que a família viveu: a mãe solteira, o companheiro e o irmão no tráfico e o bebê que a avó deseja que tenha um futuro melhor.

É preciso que essas histórias sejam contadas e recontadas, pois não aparecem na literatura do cânone brasileiro, quiçá escritas por uma mulher, tampouco nos livros de história. A “escrevivência” vem para preencher essas lacunas e devolver a humanidade dessa parcela da população.

A categoria “mãe” ora segue uma tradição matrilinear africana que coloca a mulher como figura central da família, ora extrapola os limites da filiação que trazem à tona a discussão da existência ou não de um instinto maternal e das escolhas ou imposições do aborto que é praticado fora da lei num território onde as leis da segurança pública do Estado não alcançam.

No texto “Mulheres em Movimento” da filósofa Sueli Carneiro (2019) ela problematiza a interseccionalidade de gênero, raça e classe, apontando questões que impedem as mulheres negras de viverem como cidadãs brasileiras plenas. Carneiro vê um reposicionamento do Feminismo com a luta das mulheres negras entre as pautas das Novas utopias e as Novas agendas feministas, que se detiveram criticamente na remoção dos “obstáculos contemporâneos persistentes para a realização da igualdade de gênero e nos desafios e mecanismos para a sua superação, tendo os seguintes princípios como orientadores das análises e propostas”:

 

[...] *reconhecer o direito universal à educação, à saúde e à previdência;

[...] *comprometer-se com a luta contra todas as formas de opressão de gênero, e com o combate à violência, maus-tratos, assédio e exploração de mulheres e meninas;

[...] *comprometer-se com a luta pela assistência integral à saúde das mulheres negras e pela defesa dos direitos sexuais e reprodutivos;

* reconhecer o direito das mulheres de ter ou não ter filhos com acesso de qualidade à concepção e/ou contracepção;

[...] * reconhecer a discriminalização do aborto como um direito de cidadania e uma questão de saúde pública e reconhecer que cada pessoa tem direito às diversas modalidades de família e apoiar as iniciativas de parceria civil registrada [...] (CARNEIRO, 2019, p. 284)

 

Sueli Carneiro ecoa também a voz de outra filósofa negra brasileira, Lélia Gonzáles, a primeira mulher negra a criticar o Feminismo hegemônico nos anos 80 que contemplava somente as mulheres brancas. Quase meio século se passou e nenhuma dessas pautas atingiu as pessoas mais necessitadas das periferias, as mulheres negras:

...grupos de mulheres indígenas e grupos de mulheres negras, por exemplo, possuem demandas específicas que, essencialmente, não podem ser tratadas, na essência, sob a rubrica da questão de gênero se esta não levar em conta as especificidades que definem o ser mulher neste e naquele caso. [...] Isso é o que determina o fato de combate ao racismo ser uma prioridade política para as mulheres negras, assertiva já enfatizada por Lélia Gonzales, “a tomada de consciência da opressão ocorre, antes de tudo pelo racial.” [...]

De acordo com ela, as concepções do feminismo brasileiro padeciam de duas dificuldades para as mulheres negras: de um lado, o viés eurocentrista do feminismo brasileiro, ao omitir a centralidade da questão de raça nas hierarquias de gênero presentes na sociedade e ao universalizar os valores de uma cultura particular (a ocidental) para o conjunto das mulheres, sem as mediações que os processos de dominação, violência e exploração que estão na base da interação entre brancos e não-brancos, constituísse em mais um eixo articulador do mito da democracia racial e do ideal de branqueamento, Por outro lado, também revela um distanciamento da realidade vivida pela mulher negra ao negar toda uma história feita de resistências e de lutas, em que essa mulher tem sido protagonista graças à dinâmica de uma memória cultural ancestral – que nada tem a ver  com o eurocentrismo desse tipo de feminismo. (CARNEIRO, 2019, p. 274-275)

 

Em “Olhos d’água”, a mãe da narradora é lembrada com afeto, mesmo em meio às dificuldades que a família vivia e aos silêncios que a mãe fazia. A “mãe” deixava as filhas brincarem com “uma cabeleira crespa e bela” e “se tornava uma grande boneca negra para as filhas” (EVARISTO, 2016, p. 16).

 

[...] Lembro-me de que muitas vezes quando a mãe cozinhava, da panela subia cheiro algum. Era como se cozinhasse, ali, apenas o nosso desesperado desejo de alimento. As labaredas, sob a água solitária que fervia na panela cheia de fome, pareciam debochar do vazio do nosso estômago, ignorando nossas bocas infantis em que as línguas brincavam a salivar sonho de comida. E era justamente nesses dias de parco ou nenhum alimento que ela mais brincava com as filhas. Nessas ocasiões a brincadeira preferida era aquela em que a mãe era a Senhora, a Rainha. Ela se assentava em seu trono, um pequeno banquinho de madeira. Felizes, colhíamos flores cultivadas em um pequeno pedaço de terra que circundava o nosso barraco. As flores eram depois solenemente distribuídas por seus cabelos, braços e colo. E diante delas fazíamos reverências à Senhora. Postávamos deitadas no chão e batíamos cabeça para a Rainha. Nós, princesas, em volta delas, cantávamos, dançávamos, sorríamos. A mãe só ria de uma maneira triste e com um sorriso molhado. (EVARISTO, 2016, p. 16-17)

 

Essa simples brincadeira para esconder a fome das crianças, é um exemplo de resiliência que a população negra teve que arquitetar para diminuir os sofrimentos que começaram no sequestro dos nossos ancestrais e que hoje ainda fazem parte do cotidiano das periferias e favelas do Brasil. É uma sabedoria, triste, mas não deixa de ser um saber, que nasceu do fazer.

 

[...] Mas eu nunca esquecera a minha mãe. Reconhecia a importância dela na minha vida, não só dela, mas de minhas tias e de todas as mulheres de minha família. E também, já naquela época, eu entoava cantos de louvor a todas as nossas ancestrais, que desde a África vinham arando a terra da vida com suas próprias mãos, palavras e sangue. Não, eu não esqueço essas Senhoras, nossas Yabás, donas de tantas sabedorias. Mas de que cor eram os olhos de minha mãe? (EVARISTO, 2016, p. 180)

 

 Já no conto “A gente combinamos de não morrer”, vemos uma maternidade que disputa com a morte o seu pleno exercício. Não ter filhos é uma escolha para que os mesmos não morram cedo pelas mãos da violência que assolam a periferia. Se a mulher engravida indesejadamente, o aborto é mais que uma escolha, é uma necessidade! E vai ser feito independente da proibição e das condições materiais. A ausência do Estado não oferece outras opções a essas mulheres:

 

O que mais gosto na televisão é de novela. Acho a maior bobeira futebol, política, carnaval e show. Bobagem também reportagem, campanha contra a fome, contra o verde, contra a vida, contra-contra. Contra ou a favor? Sei lá, confundi tudo. Acho que é contra mesmo. Contra e não. Contra-mão. Ando sentindo dores nas pernas. Também!

“Lata d’água na cabeça, lá vai Maria”. Sobe o morro, desce o morro e se cansa dessa dança. Filhos? Não sou boba, só dois. Cuspi fora uns quatro ou cinco. Provoquei. “Eu, confessor, me confesso a Deus, meu zeloso guardador, bendito sois vós, que olhe por mim”. Na novela das oito, Lidiane era babá do menino Carlos Rodrigues Magnânimo. Ela ensinou a criança a rezar. Tudo era grande na casa dos Rodrigues Magnânimo. A casa, o carro, a mesa, o guarda-roupa, o tapete, tudo. O vestido de noiva da tia de Carlos Rodrigues vestia todo o caminho do altar. Atravessava de ponta a ponta o corredor de uma grande igreja. É tão bom ver novela. Não gosto de ver os crimes, roubos e nem noticiários de guerra. Novela me alivia, é a minha cachaça. (EVARISTO, 2016, p. 101-102)

 

As jovens meninas da periferia se veem mães na adolescência. Ainda conservam o sonho do casamento e dos filhos, mas ele acontece rapidamente e quando se dão conta, já são mães de família. Os sonhos são “abortados” e a dura realidade é a luta diária para sobreviver. Por isso o conto se chama “A gente combinamos de não morrer” (sem concordância verbal mesmo, o que Lélia Gonzales chamaria de “pretuguês”), porque é um pacto feito entre os personagens jovens que assistem seus amigos morrerem um por um em plena flor da idade:

 

A casa de Neo caiu. Aprontou, dançou! Mais um, que não será o último, outros virão. Ele, Dorvi, Idago, Crispim, Antônia, Cleuza, Bernadete, Lidinha, Biunda, Neide, Adão e eu temos ou tínhamos (alguns já se foram) a mesma idade. Um ano e às vezes só meses variavam o tempo entre a data de nascimento de um e de outro. Alguns morreram também em datas bem próximas. Apalpo meu corpo, aqui estou eu. Entre as mulheres quase todas ficaram menstruadas juntas, pela primeira vez. Brincávamos que íamos misturar as nossas regras e selarmos uma irmandade com o nosso íntimo sangue. Os meninos não sei que juras fraternas fizeram. Ah, sei! Dorvi repetia sempre que entre eles havia o pacto de não morrer. (...) Ele que tinha um trato de viver fincado nessa fala desejo:

 - A gente combinamos de não morrer.

 - Deve haver uma maneira de não morrer tão cedo e de viver uma vida menos cruel. Vivo implicando com as novelas de minha mãe. Entretanto, sei que ela separa e separa com violência os dois mundos. Ela sabe que a verdade da telinha é da ficção. Minha mãe sempre costurou a vida com fios de ferro. Tenho fome, outra fome. Meu leite jorra para o alimento do meu filho e de filhos alheios. Quero contagiar de esperança outras bocas. Lidinha e Biunda tiveram filhos também, meninas. Biunda tem o leite escasso, Lidinha trabalha o dia inteiro. Elas trazem as menininhas para eu alimentar. (EVARISTO, 2016, p.107)

 

Dona Esterlinda se identifica com a babá da novela, uma possível questão de representação, ou uma identificação imediata por ela e a babá terem a mesma cor de pele: “A babá Lidiane, da novela das oito, acabou sozinha. Não gostei do final. Assisti outra novela em que a babá casou com o filho do patrão. Bonito, tudo muito bonito. Chorei de emoção. Quando choro diante da novela, choro também por outras coisas...” (EVARISTO, 2016, p. 104-105).

Bica se torna “ama de leite” das amigas. Um gesto solidário e fraternal, que vai manter as vidas seguras para as bebês e vai reforçar mais uma vez o pacto de não morrer! Na escravidão, as mulheres negras amamentavam os filhos da casa grande. Hoje os corpos negros precisam do leite da vida. Uma questão de escolha, ou de necessidade? Bica reflete: “Eu sei que não morrer, nem sempre é viver. Deve haver outros caminhos, saídas mais amenas. Meu filho dorme” (EVARISTO, 2016, p.109).

 

 

ÁGUAS DOCES, ÁGUAS SALGADAS

 

A água que ferve na panela, inodora, incolor, insípida para as bocas famintas. As lágrimas maternas das mães que choram de desespero e alegria, misturando todos os sentimentos para disfarçar o medo para os filhos. O leite materno que vai transbordar abundantemente no peito de umas e que não vai descer no peito de outras que não tem tempo, nem saúde para exercer suas maternagens. O sangue menstrual que inicia a vida adulta e que logo é interrompido por uma gravidez, muitas vezes, indesejada.

          Há também outras águas, as masculinas. O companheiro de Bica, Dorvi, relata os prazeres que sentiu nas situações limite, onde o esperma jorrava em meio aos tiroteios e receios:

 

[...] A morte às vezes tem um gosto de gozo? Ou o gozo tem gosto de morte? Não esqueço o gozo vivido no perigo de meu primeiro mortal trabalho, na minha primeira vez. [...] Naquele dia mandaram que eu fosse enfrentar também. Eu tinha treze anos. No meio do tiroteio, esporrei, gozei. E juro que não foi de medo, foi de prazer. Uma alegria tomava conta de meu corpo inteiro. Senti quando o meu pau cresceu ereto, firme, duro feito a arma que eu segurava nas mãos. Atirei, gozei, atirei, gozei... Gozei dor e alegria, feito outro momento que me aconteceu na infância. Eu estava com seis para sete anos e arranquei com as minhas próprias mãos, um dentinho de leite que dançava em minha boca. Minha mãe me chamou de homem. Cuspi sangue. Limpei a baba com as costas da mão, ainda tremendo um pouco, mas correspondi ao elogio. Eu era um homem. Tive um prazer intenso que brincou no meu corpo todo. Tive até um princípio de ereção. (EVARISTO, 2016, p.106-107)

 

A escrita de Evaristo também convoca os homens negros e invoca suas humanidades, que são sempre destituídas pelo corpo objeto sexual ou pela mão de obra barata. Esses homens têm pensamentos, sentimentos, sonhos desejos. No conto “Ana Davenga”, as lágrimas do companheiro Davenga se confundem com o prazer sexual:

 

[...] Um pouco que ela saia para buscar roupas no varal ou falar um tantinho com as amigas, quando voltava dava com ele, deitado na cama. Nuzinho. Bonito o Davenga vestido com a pele que Deus lhe deu. Uma pele negra, esticada, lisinha, brilhosa. Ela mal fechava a porta e se abria todinha para o seu homem. Davenga! Davenga! E aí acontecia o que ela não entendia. Davenga que era tão grande, tão forte, mas tão menino, tinha o prazer banhado em lágrimas. Chorava feito criança. Soluçava, umedecia ela toda. Seu rosto, seu corpo ficavam úmidos das lágrimas de Davenga. E todas as vezes que ela via aquele homem no gozo-pranto, sentia uma dor intensa. Era como se Davenga estivesse sofrendo mesmo, e ela fosse a culpada. Depois então, os dois ainda de corpos nus, ficavam ali. Ela enxugando as lágrimas dele. Era tudo tão doce, tão gozo, tão dor! Um dia, pensou em se negar para não ver Davenga chorando tanto. Mas ele pedia, caçava, buscava. Não restava nada a fazer, a não ser enxugar o gozo-pranto de seu homem (EVARISTO, 2016, p. 23)

 

Quando as águas doces e salgadas se misturam, há o encontro do rio com o mar, onde tudo deságua. E quando a ausência das águas traz a sede, a fome, a doença, a escassez, não há o encontro, há o conflito. Quando a ausência do Estado deixa as comunidades periféricas no abandono, no esquecimento, a quem se deve recorrer? O crime é um estado paralelo que manda e desmanda nas comunidades. Quem não dá assistência, abre concorrência. O tráfico de drogas oferece dinheiro fácil e ao mesmo tempo tira as vidas dos soldados que não obedecem aos pequenos e grandes traficantes.

Os personagens dos contos de Conceição Evaristo são negros. Quando a mulher negra é subjugada, o homem negro faz o papel que o machismo lhe ensinou. E quem oprime os dois? É o racismo estrutural e seus braços: as instituições, a polícia, a escola, as prisões.

Uma escritora descolonial como Evaristo vai deslocar o papel do “Outro”. Para o colonialismo português estruturado na escravidão negra, o “Outro” são os povos originários, os indígenas e os escravos africanos. Para esses mesmos povos, o “Outro” é o homem branco, o “Outro” é o europeu, o “Outro” é o ocidental.

“Quem reivindica alteridade”? é o título do artigo da feminista e crítica pós-colonial indiana Gayatri Spivak, que em seu discurso faz uma reflexão profunda sobre o papel dos pensadores “descoloniais”. Ela atesta que eles estão reescrevendo a história dos subalternos do mundo colonial, criando uma independência política e negociando narrativas como faz Conceição Evaristo e sua predecessora e influência literária, a escritora Carolina de Jesus, autora de “Quarto de despejo: diário de uma favelada”.

Spivak chama essas subjetividades de “coloniais diaspóricas”, e ressalta que estão sempre correndo o risco de em suas rupturas declaradas com o passado construírem uma repetição, legitimando exatamente o que reivindicam combater. Como não há como fugir da repetição, se a estrutura da sociedade não muda, nos resta alterar as narrativas.

Essa repetição está marcada na galeria de personagens de “Olhos d’água” (2016): empregadas domésticas, lavadeiras, cozinheiras, faxineiras, donas-de-casa, mães solteiras, parteiras, mendigas, prostitutas, cafetinas, cafetões, pescadores, pedreiros soldados do tráfico, pequenos traficantes, ladrões, assaltantes, moradores de rua, meninos de rua, presidiários, pedintes, vendedores de doces e flores, faxineiros, camelôs, crentes, bêbados, etc.

A divisão de classes racializada permanece desde a abolição da escravatura no Brasil. Os mesmos afazeres da senzala, agora assalariados, a mesma configuração dos territórios sem água, sem luz, esgoto, calçamento, saneamento. O ônibus lotado, o trem, idem. A esperança de uma vida melhor está nas preces das avós negras, que são os sonhos de liberdade das bisavós nascidas na lei do Ventre Livre. O passado é mais que um fantasma, é uma aparição.

Spivak também escreveu o livro “Pode o subalterno falar?” (2010), no qual conclui que a subalternidade, hoje, consegue falar e/ou escrever, mas não é escutada! Spivak, assim como Maria Lugones, é uma feminista pós-colonial e interseccional. Spivak se debruçou sobre a mulher indiana, Lugones sobre as mulheres de cor, as indígenas e as negras. Assim também são as outras intelectuais trazidas neste ensaio: Djamila Ribeiro, Sueli Carneiro e Lélia Gonzales.

Gayatri Spivak enfatiza que, como mulheres engajadas em denunciar o racismo no Feminismo pós-colonial, precisamos encontrar esse “lugar de escuta”, nossos interlocutores: “Nosso objetivo é fazer com que as pessoas estejam prontas para ouvir.” (SPIVAK, 2019, p.261). E essa escuta acontece prioritariamente na sala de aula:

[...] E apesar de seu modo indireto, de ser enlouquecedoramente devagar, e de sempre se correr o risco da demagogia e da coerção misturado com a crédula vaidade com os interesses de classe do professor e do aluno, é ainda apenas a educação institucionalizada nas ciências humanas que pode fazer com que, a longo prazo e coletivamente, as pessoas queiram escutar. (...) Portanto, proponho o estabelecimento e restabelecimento persistentes, a repetida consolidação do não feito, de uma estratégia de educação e pedagógica de sala de aula preocupada com soluções provisórias para oposições como secular e não secular, nacional e subalterno, nacional e internacional, cultural e sociopolítico, por meio da provocação de sua cumplicidade. (SPIVAK, 2019, p.261)

As escritoras negras e suas literaturas trazem para os currículos as vozes divergentes da “história única”. As vozes da categoria que está na base da pirâmide social: negra e mulher. Mas não existe uma única voz divergente. São vozes, no plural, no coletivo. São as personagens Ana Davenga, Dona Esterlinda, Bica, Duzu, Maria, Natalina, Luamanda, Cida e Zaíta de “Olhos d’água”.

Gayatri Spivak (2019) está preocupada com a questão da apropriação da “história alternativa” e afirma que pela sua vivência, “as narrativas históricas são negociadas” (SPIVAK, 2019, p. 251). Ela e Conceição Evaristo tiveram acesso à educação formal, mas “produzem narrativas e explicações históricas, transformando o socius”.

 

Escrever e ler, nesse sentido mais amplo, marcam duas posições diferentes em relação à “oscilante e múltipla forma do ser”. A escritura é uma posição em que a ausência do autor na trama é estruturalmente necessária. A leitura é uma posição em que eu (ou um grupo de “nós” com quem partilho um rótulo identificatório) faço dessa anônima trama a minha própria, encontrando nela uma garantia de minha existência como eu mesmo, uma de nós. Entre as duas posições, há deslocamentos e consolidações, uma disjunção para conjugar um eu representativo. (Até a solidão é estruturada pela representação dos outros ausentes.) (SPIVAK, 2019, p. 252)

 

Na obra de Conceição Evaristo, os personagens brancos não têm nome propositadamente. Uma escolha que os escritores brancos sempre fizeram com os personagens negros, sem nome, sem família, sem um destino feliz. Personagens negros sempre foram estereotipados pelos escritores brancos, objetificados, e ausentes da maioria dos livros da Literatura Brasileira.

Quando eu digo que encontro minhas iguais na literatura de Evaristo, eu afirmo que sim, nós existimos. Nós, mulheres negras, somos escritoras, intelectuais, seres humanos completos nas nossas incompletudes. E as mulheres brancas também compartilham com as mulheres negras a condenação do gênero feminino. Elas também são convocadas no texto de Conceição. Todas nascemos nas águas de um ventre.

 

 

REFERÊNCIAS

CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento: contribuições do feminismo negro. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque (Org.). Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2019.p.271-289.

CARNEIRO, Sueli. Lélia Gonzalez: o feminismo negro no palco da história. Brasília: Abravídeo, 2014

CUTI (L. Silva). Literatura Negro-Brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2010.

EVARISTO, C. Olhos d’água. 1ª ed. Rio de Janeiro: Pallas: Fundação Biblioteca Nacional, 2016.

EVARISTO, C. Ponciá Vicêncio. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2003

FRANÇA, P.H. A autora do ano. Marie Claire. Rio de Janeiro, RJ, n.344, p.58-63, 2019.

GUIMARÃES, J. Conceição Evaristo: "Não leiam só minha biografia. Leiam meus textos". Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2018/11/20/conceicao-evaristo-nao-leiam-so-minha-biografia-leiam-meus-textos. Acesso em 24 fev. 2020.

LUGONES, M. Rumo a um Feminismo Descolonial. Estudos Feministas, Florianópolis, SC, nº22 (3), p. 935-952, setembro-dezembro de 2014.

MIGNOLO, W. Histórias Locais, Projetos Globais. Editora UFMG, 2003.

“O PERIGO de uma história única”, por Chimamanda Adichie. Por dentro da África. Disponível em: http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/o-perigo-de-uma-historia-unica-por-chimamanda-adichie. Acesso em: 27 mar. 2018.

QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. En libro: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Eduardo Lander (org). Colléccion Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina, p. 227-278, setembro de 2005.

RIBEIRO, D. O que é lugar de fala? Belo Horizonte (MG): Letramento, 2017.

SCHMIDT, S. P. Os Desafios da Representação: Poéticas e Políticas de Leitura Descolonial. Via Atlântica, São Paulo, SP, nº 24, p. 229-239, dez. 2013.

SPIVAK, G. Quem reivindica alteridade? In: HOLANDA, Heloísa Buarque (Org.). Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, P. 251-268, 2019.

SPIVAK, G. C. Pode o subalterno falar? Editora UFMG, pp. 94-125, 2010.

 

 

 



[1] Mestranda em Estudos Literários no Programa de Pós-Graduação em Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especialista em Territórios Negros (Lhiste/UFRGS) com aperfeiçoamento em Cultura e História Afro-Brasileira (FORPROF/UFRGS) e-mail: ana.flordolacio@gmail.com


domingo, 27 de junho de 2021

 2021 - Vem coisa boa por aí!


PRETA POESIA FEMININA
Nesta encenação teatral a atriz Silvia Duarte, estará homenageando cinco poetisas negras gaúchas. O projeto, propõe se a pesquisar o universo literário das poetisas negras gaúchas; - Ana dos Santos , Delma Gonçalves, Isabete Fagundes de Almeida, Fátima Farias e Lilian Rocha -, dramatizando os poemas e desmistificando o fazer poético como literatura falada.
PRETA POESIA FEMININA, levará ao público poemas atuais, que destacam o valor da mulher negra, guerreira, frente as dificuldades diárias e seus valores estéticos. A iniciativa tem a intenção de oferecer à população afro-brasileira de 4 cidades do estado do Rio Grande do Sul - Porto Alegre, Pelotas, Cachoeira do Sul e Caxias do Sul - um resgate de seu protagonismo e autoestima.
PRETA POESIA FEMININA, deixara o legado de dar visibilidade às mulheres negras trabalhadoras do campo das artes, e em particular da literatura, por extensão, todas as mulheres negras brasileiras.
Deixará o legado de registrar, valorizar e divulgar o trabalho artístico de cinco mulheres negras, que apesar do seu enorme talento e competência, ainda carecem de reconhecimento.
Deixará o legado de estabelece um enfrentamento ao machismo que vige na sociedade até hoje e que sempre relegou a mulher a um papel de coadjuvante, quando não de submissão.
Deixará o legado de engrandecer, enriquecer e divulgar a contribuição negra na formação cultural do Rio Grande do Sul.
É apropriando-se desta herança cultural, que o projeto seja abrangente, acessível e democrático.
PRETA POESIA FEMININA, que dá título a este projeto, é uma homenagem à todas, todos e todes afro-brasileiros.
A proposta PRETA POESIA FEMININA, terá 100% da equipe principal constituída de negras e negros.
EQUIPE
- Silvia D’Arte Produções - ME - Produção Executiva
- Túlio Quevedo - Produção Geral
- Silvana Rodrigues - Direção Cênica
- Silvia Duarte - Atuadora
- Ibokun - Cenografia
- Mari Falcão - Figurinos
- Camila Falcão - Figurinos
- Silvia Mara Abreu - Assessoria de Imprensa
- Aline Gonçalves - Identidade Visual
- Miguel Tamarajo (Jacka) - Criação / Execução Luz
- MP Comunicação Visual – Captação / Edição de Imagem
Projeto executado através do Edital Criação e Formação Diversidade das Culturas, realizado com recursos da Lei Aldir Blanc nº 14.017/20.
.
.

BOLETIM LEITURAS E LIVROS - RÁDIO CANTAREIRA E WEB ESTILO RÁDIO -SÃO PAULO
Na Rádio Comunitária Cantareira o programa "No trem do tempo"!!!
Este programa não visa lucro!
No programa de hoje: boletim Leituras e Livros com Ana Dos Santos lendo um capítulo do romance "Elefantes têm medo de formigas" da escritora paulista Marah Mends
E com nossa programação musical eclética: mpb, rap, reggae, rock, pop, etc.
No trem do tempo, um programa sobre poesia, prosa, leituras e livros.
Produção e apresentação "quem fez?"

PERFORMANCE NA ALEMANHA

Performance na Alemanha - CHÁ COMIGO/TEEMITMIR de Terezinha Malaquias
Essa série é para tomar chá, ler e ouvir.
Mas, principalmente para abraçar você, a mim, e a vida que pulsa em nós!
HOJE COM A POETISA ANA DOS SANTOS
Música: Gerhardt Berchert
Assista no You Tube: Terezinha Malaquias

PODCAST SARAU LIVRE

Quarto episódio do Podcast Sarau Livre , dia 25 de junho nas redes sociais do Sarau Livre e no canal do YouTube do Duda Fortuna .
youtube.com/c/DudaFortuna
Duda Fortuna
No Instagram, @dudafortuna.oko2
Abertura Poética: Ana dos Santos no Instagram @ana.flordolacio
Atração Musical: Duplo M Medeiros, no Instagram @duplom_terminal470
Capa: Janaína Wayne, no Instagram Janaina Wayne Herbstrith
Drops Conecta com Fatima Farias, no Instagram Fatima Regina Farias. #poesiaviva
E ainda microfone aberto!
Apresentação Duda Fortuna
Curta @sarau.livre no instagram e Sarau Livre no Facebook
#pontopracultura
#editalfundacaomarcopolo
#leialdirblanc
#sedacrs
#fundacaomarcopolo
Fundação Marcopolo
Plínio Mósca
Secretaria da Cultura do RS
Projeto executado através do Edital Criação e Formação Diversidade das Culturas realizado com recursos da Lei Aldir Blanc nº 14017 / 201
1