sexta-feira, 8 de junho de 2018

“NAQUELE TEMPO DO JULINHO...”
Meu primeiro dia no Julinho foi inesquecível! Eu vinha de uma escola pequena, com poucas turmas, e agora estava eu ali diante daquele mar de gente! Jovens de todas as idades, de várias tribos! Um colégio enorme e fascinante!
Fiz logo várias amizades e encontrei em outras turmas, colegas da outra escola. Nos períodos de Artes também estudávamos com outras turmas e daí surgiram vários talentos: desenho, escultura, xilogravura, violão... Tinha uma oficina de teatro e um grupo de alunos formou um grupo de dança! O colégio respirava arte! Tinha uma banda marcial e vários esportistas que disputam campeonatos. Também tinha um centro de tradições gaúchas.
Mas o que me atraiu mesmo foi o Grêmio Estudantil. Um local colorido, cheio de cartazes, poemas, música. O começo da descoberta da cidadania! Aos poucos fui me enturmando e descobrindo a tradição dessa escola na luta pelos direitos estudantis! Poderíamos fazer uma carteira que dava descontos no cinema, teatro, shows, além da passagem do ônibus. Também descobri que havia outras entidades estudantis que tinham interesses diversos dos nossos.
Eu queria participar mais da vida política, mas com apenas 15 anos teria que esperar para fazer meu título de eleitor aos 16 anos. Foi nessa época que comecei a seguir um partido que motivou minha luta. Também foi também nessa época que algumas escolas sofreram uma intervenção em suas direções, pelo governo do Estado. E nós, estudantes fomos às ruas reivindicar as eleições e a democracia.
Foi um acontecimento marcante em minha vida: eu e uma colega estávamos à frente da passeata carregando a faixa da escola. Fomos caminhando até o Colégio Parobé e junto com o grêmio deles fizemos uma corrente humana em volta do prédio para impedir a entrada do novo diretor.
Nossa surpresa foi que a própria Secretária de Educação chegou junto com a polícia de choque! Sem dizer uma palavra, ela deu um soco na aluna que estava na porta e logo em seguida a polícia começou a bater nos alunos...Tudo foi muito rápido e acabamos todos machucados e chorando de medo...Dali fomos pra uma delegacia registrar uma ocorrência e fazer um exame de corpo delito. Um advogado abriu um processo contra o Estado e a audiência ocorreu na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Infelizmente, ninguém foi punido...
Voltando aos estudos, o segundo ano foi um divisor de águas entre os alunos...alguns abandonaram a escola, outros foram trabalhar. Todos ficaram de recuperação nos exames finais, e poucos passaram para o terceiro ano.
As amizades se consolidaram, e era comum visitarmos os ex-colegas nos outros turnos. As meninas dividiam confissões, dúvidas e entusiasmo com as primeiras paixões. Muitos namoros começaram com a promessa de ser “para sempre”.
Fiz meu primeiro estágio e tive a emoção de receber meu primeiro salário! Muitos não sabiam que profissão seguir, nem se fariam vestibular...Mas todos respiraram aliviados em terminar aquele ano e o “segundo grau”. Trocas de telefones e mensagens na camiseta da escola ainda estão entre os meus pertences!
E quando toca aquela música do Nelson Coelho de Castro, eu sinto o que todo ex-juliano sente: saudades de uma época da vida onde os sonhos são tantos, que o tempo passa sem a gente perceber:
“Aquele tempo do julinho, né?
Eu jamais vou me esquecer...”
Ana Paula Freitas dos Santos (ex-aluna)

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