domingo, 8 de novembro de 2015


PROTAGONISMO DAS MULHERES NEGRAS E MOVIMENTOS SOCIAIS
mesa que ocorreu dia 07/11/2015 na 61ª FEIRA DO LIVRO DE PORTO ALEGRE

   Inicio a minha escrita trazendo a palavra SANKOFA (pertencente ao conjunto de ideogramas dos povos do oeste da África) que significa: a sabedoria de aprender com o passado para melhorar o presente e construir o futuro.
   Eu gosto de meditar sobre o sentido das palavras, então, vamos ao título da nossa mesa:
PROTAGONISMO - é o processo de protagonizar, ser o ator principal, ter voz ativa.
MULHERES NEGRAS - mulher afrodescendente que se auto-declara negra.
MOVIMENTOS SOCIAIS - ação coletiva de setores da sociedade para defesa ou promoção de objetivos e interesses que visam a transformação da ordem estabelecida.
   Eu sou um Movimento Negro, eu sou uma negra em movimento, à partir do momento que eu deixo o meu lar, eu sou uma negra em movimento. À partir do momento em que eu convivo em sociedade, eu sou um Movimento Social.
   Quero contar um pouco sobre as mulheres protagonistas da minha vida: minha avó Martina, que teve sua vida documentada em vídeo por mim no meu Trabalho de Conclusão na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, orientada pela professora da disciplina de Literatura Oral: Ana Liberato. Minha avó era uma matriarca, contadora de histórias que estudou até a 4ª série e fez questão que as filhas estudassem. Foi uma das primeiras mulheres a votar na cidade de Alegrete.
   Minha mãe Iolanda, professora de Filosofia, deixou de lecionar a disciplina por motivos de força maior: a Ditadura brasileira que considerou essa ciência perigosa e a baniu dos currículos escolares por muitos anos. Ela e meu pai Gléber sempre se assumiram como negros. Buscavam através das lutas dos Direitos Civis nos Estados Unidos, referências e lideranças para suas consciências. Literatura, música, cultura trouxeram para eles a negritude necessária para enfrentar os preconceitos.
   Foi na nossa estante de livros que encontrei mais tarde na minha busca, a biografia do músico Sammy Davis Jr. : "Yes, I can" traduzida: "Sim, eu posso!", mote da campanha presidencial de Barack Obama. Também encontrei livro de contos do escritor paulistano Cuti, onde mostra as problemáticas e controvérsias do Movimento Negro no Brasil.
   Sofri racismo no jardim da infância, trauma que acomete a maioria das meninas negras no Brasil. Com o apoio de minha mãe, construí um sentimento de autoestima e amor próprio. Fiz o cursinho pré-vestibular Zumbi dos Palmares, onde além dos conteúdos das provas, tínhamos aulas sobre cidadania, direitos e cultura. Segui meus estudos até sofrer racismo novamente na Universidade, no curso de Letras, partindo dos professores. Era só eu e mais uma menina negra no curso todo. Mais uma vez, uma fada madrinha me auxiliou: Maria das Graças Gomes Paiva, uma professora negra, me apresentou o conceito EMPODERAMENTO. Através dele, eu deveria buscar meu aperfeiçoamento intelectual e a luta pelos meus direitos.
   Eu fui alfabetizada em casa e ao ganhar um diário da minha mãe, aos 10 anos, comecei a escrever e não parei mais. Ganhei meu primeiro concurso de poesias na Universidade. À partir daí, comecei a mostrar meus poemas para o mundo através de concursos, antologias e da venda de cartões com poemas e imagens. Participei de saraus e performances poéticas e criei um jornal digital de poesia.
   Eu sou protagonista da minha Literatura. Nos meus poemas falo de mim, das minhas dores e paixões.
Ana Dos Santos

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