NEGRAS PALAVRAS GAÚCHAS 2
EU NÃO ESQUECEREI
Eu lembro do dia
em que ouvi falar,
ou melhor,
eu li num livro,
quer dizer,
eu vi num programa...
Enfim,
eu não esquecerei
o dia em que tive
o conhecimento
da “Árvore do Esquecimento”.
Que nome horrível
para uma árvore!
Mas, o que era mais horrível
era a função
que essa árvore tinha:
fazer esquecer quem você foi um dia.
Não era a árvore da vida
era a árvore da morte!
O sujeito devia
caminhar em volta
da árvore
enquanto esquecia
que era um africano livre
que tinha um nome e sobrenome
que pertencia a uma família
e que teria que abandonar tudo
e começar uma nova vida.
Vida? Ou morte?
Eu não esquecerei
que naquela noite eu tive um sonho
ou um pesadelo?
Eu não esquecerei
eu me vi atravessando
o Atlântico Negro
O mar não era azul
era vermelho!
De sangue!
Eu me batia em esqueletos
crânios
monstros marinhos
que comiam gente.
Eu consegui escapar
e alcançar a costa africana.
Eu não esquecerei
desse dia
que eu retornei
à minha terra natal
à minha Mãe África
Eu lembro
que estava diante
da “Porta do Não Retorno”.
Eu ria, eu gargalhava e eu dizia:
“Eu retornei!”
“Eu voltei!”
“Eu não esquecerei!”
Eu lembro
daquele dia,
daquele sonho:
Eu em frente à árvore do esquecimento.
Eu circulei a árvore
de costas
E fui lembrando
que eu era feliz
e eu sabia!
Eu não queria
embarcar naquele navio.
Eu não esquecerei.
Eu lembro de África
antes da divisão,
antes da espoliação,
antes do assassinato do meu povo.
Eu lembro.
Eu não esquecerei
que eu nasci em Wakanda
e Wakanda é eterna
em meu coração.
Pisei firme naquele chão,
naquele terreiro
de consagração.
Eu renasci dentro de uma flor!
Eu não morri.
Eu lembro.
Eu não esquecerei.
E não vou deixar que esqueçam!
Ana Dos Santos
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