LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Depois de quase 500 anos de dominação política, cultural e linguística de Portugal nas colônias africanas - Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe - o aparecimento das literaturas de língua portuguesa naquele continente se deu, grosso modo, a partir da década de 1940.
Evidentemente, antes disso, houve manifestações literárias populares e orais nas línguas nativas dessas colônias - produção a que alguns especialistas chamam de "oratura" em contraposição à palavra "literatura" -, mas há poucos registros dessa produção oral.
Ao escreverem literatura em língua portuguesa, os escritores naturalmente se dividiam entre dois mundos: de um lado, usavam a língua oficial, implantada pelos portugueses e historicamente associada aos modelos de literatura da metrópole; de outro lado, tratavam da realidade local e incluíam em suas obras descrições da vida e dos costumes das populações das colônias.
Muitos desses escritores fizeram seus estudos na Europa e, ao regressarem à África, cheios de ideias liberais, atuavam na imprensa como jornalistas e assumiam uma postura contrária ao colonialismo português.
A Revolução dos Cravos (1974) em Portugal, pôs fim à ditadura salazarista naquele pais e, como decorrência, eclodiram várias guerras, nas colônias africanas, as quais levaram ao fim o colonialismo português. A literatura, nesse momento, tornou-se claramente engajada, já que muitos dos escritores chegaram a participar diretamente da guerra de libertação.
O escritor português Manuel Ferreira, ao estudar a produção literária das colônias durante o período colonial, identifica quatro fases na evolução das literaturas africanas de língua portuguesa:
* fase em que o escritor manifesta alienação cultural e falta de compromisso com sua terra e sua gente;
* fase em que o escritor revela um sentimento nacional e interesse pela realidade circundante; também aqui se manifesta o tema da negritude ou da dor de ser negro;
* fase da resistência, em que o escritor toma consciência de sua condição de colonizado e empreende um discurso de revolta contra o colonizador;
* fase histórica da independência nacional, momento de afirmação do escritor africano, no qual se exalta a liberdade e o orgulho africano e se abordam temas como a África, o povo negro, sua cultura, sua história e suas tradições.
Como se nota na evolução dessas fases, gradativamente se instala uma questão essencial para os escritores africanos: a da identidade nacional. Ao poucos, os escritores vão deixando de se considerar parte da literatura portuguesa para se assumirem como escritores africanos ou, especialmente angolanos, moçambicanos, etc.
Em Angola, os autores de maior destaque são: Castro Soromenho, Antônio Jacinto, Viriato da Cunha, Agostinho Neto, José Luandino Vieira, Ruy Duarte de Carvalho, Manuel Rui, Pepetela, José Luís Mendonça, José Eduardo Agualusa, Ondjaki e Adriano Mixinge.
Em Moçambique, destacam-se José Craveirinha, Mia Couto, Noémia de Sousa, Rui Guerra, Rui Knopfli, Luís Bernardo Honwana, Rui Nogar, João Dias, Ungulani Ba Ka Khosa, João Paulo Borges Coelho e Paulina Chiziane.
Em Cabo Verde, destacam-se Manuel Lopes, Jorge Barbosa, Corsino Fortes, Orlanda Amarílis, Germano Almeida, Osvaldo Osório, Vera Duarte e Amílcar Cabral.
Em São Tomé e Príncipe, destacam-se Francisco da Costa Alegre, Francisco José Tenreino, Alda do Espírito Santo e Conceição Lima.
Em Guiné-Bissau, quase não há fontes literárias escritas. O escritor Abdulai Silva, com seus romances Eterna Paixão (1994). A última tragédia (1995) e Mistida (1997), é considerado o fundador da ficção guineense. Também se destaca o romancista Filinto de Barros.
Além, das literaturas africanas de língua portuguesa, em nossa língua ainda há produção literária na Ásia, como em Macau ( na China), Goa ( na Índia) e em Timor Leste (sudeste asiático), reflexo das navegações e da colonização portuguesa.
( Português Contemporâneo, diálogo, reflexão e uso - William Cereja, Carolina Dias Vianna e Christiane Damien)