Numa tarde de outono, um grupo de mulheres caminha...
de vestidos e saias que tingem a paisagem de vermelho, rosa, bordô...
Caminham calçando apenas um pé
de seus sapatos de salto alto. O outro carregam nas mãos.
O que está faltando nesse caminhar reticente?
Estão com frio?
"Não, o machismo é muito mais frio!"
Os pés descalços pisam em pedras, buracos, sujeira...
Pés delicados que tentam se equilibrar.
Querem ajuda?
"Não, somos mulheres fortes, sobreviventes do nosso destino!"
Alguns transeuntes olham com atenção, outros com admiração,
Mas muitos não conseguem entender o que aquelas mulheres querem
O que querem afinal?
Por que não falam?
"O silêncio diz muitas coisas, mas muitos estão surdos!"
Poucos conseguem ouvir as lágrimas que choram por dentro...
Nossas faces maquiadas para a guerra que lutamos dia-a- dia
A guerra pela paz, pelo respeito, pelo amor
Nosso perfume de menina, de mulher, de mãe
Nossas mãos que lidam com tantas artes domésticas
Nossos braços que carregam crianças, que abraçam amigos, parentes, tarefas
Aos poucos anoitece e elas entram no parque
Descalçam o salto e o penduram junto com os outros
Alívio, satisfação, felicidade,
Algumas de mãos dadas, abraçadas, vão lavar os pés no espelho d'água
Na noite de outono, uma revolução silenciosa aconteceu e ninguém viu!
Ana dos Santos
foto: Martiane Barbosa