quarta-feira, 27 de agosto de 2025

 

ENTREVISTA SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS PARA O JORNAL "EM TEMPO" DE MANAUS

Meu nome é Ana Paula Freitas dos Santos, professora de Literatura e poetisa, autora dos livro "Flor" e "Poerotisa".
Sou especialista em História e Cultura Afro-brasileira e mestranda em Estudos Literários/UFRGS.
Faço parte do catálogo "Intelectuais Negras Visíveis" (UFRJ/Editora Malê) e ocupo a cadeira 100 da Academia de Letras do Brasil/RS, patrona Lélia Gonzales.

Me apresento primeiro para lhe contar como cheguei em Maria Firmina dos Reis!
Em 2015 iniciei uma pesquisa sobre escritoras negras brasileiras para levar à sala de aula e preencher uma lacuna no cânone da Literatura Brasileira, constituída em sua maioria por 90% de escritores do sexo masculino, brancos, classe média alta e dos grandes centros urbanos, segundo pesquisa da UNB.
Eu mesma conhecia poucas escritoras negras. Sendo uma escritora também, logo, a minha pesquisa também tinha um interesse pessoal em conhecer minhas predecessoras.

Foi na internet, em páginas de Literatura Negra e Universidades que tomei conhecimento da existência de Carolina de Jesus. Essa foi a primeira escritora negra que levei para a escola e que teve uma grande e excelente repercussão entre os alunos. Por conta dessa pesquisa fui fazer duas especializações sobre a lei 10.639/03 que trata da obrigatoriedade do Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira em todos os níveis e modalidades de educação do país.
Continuei minha pesquisa e então descobri Maria Firmina dos Reis!

Hoje eu ministro uma oficina de escrita criativa "Mulher Negra, Meu Corpo, Minha Voz" onde eu apresento cerca de 40 escritoras negras brasileiras, mas eu sei que já temos mais de 100 escritoras negras em todo o Brasil!

Minha pesquisa ganhou força em 2018 quando a Universidade Federal do Rio Grande do Sul colocou "Quarto de despejo: diário de uma favelada" de Carolina Maria de Jesus na lista das Leituras Obrigatórias do vestibular!
Então, levei a Maria Firmina dos Reis e seu romance "Úrsula" para a sala de aula! A entrada dessa escritora no currículo alterou o estudo do período do Romantismo brasileiro, porque agora ela é considerada a primeira escritora romântica brasileira!
O romance "Úrsula" é um romance abolicionista escrito quase um século antes do poema "Navio Negreiro" de Castro Alves. Ou seja, uma mulher negra e livre teve a coragem de denunciar os horrores da escravidão num romance onde os personagens negros são humanizados, têm voz própria e são a referência moral da narrativa.

A personagem Suzana é a primeira na Literatura Brasileira  a narrar como era a vida em África, onde ela vivia feliz com sua família, com trabalho e liberdade. Ela conta do sequestro e da passagem no navio negreiro para a página vergonhosa da escravidão no Brasil.
Com o estudo desse romance os alunos aprenderam que a história da população negra começa em África, com uma vida digna e liberdade. "A história do negro foi interrompida pela escravidão", como dizem nossos ancestrais. Os alunos aprenderam também que ninguém se deixou escravizar, que as torturas e castigos físicos aos quais os negros foram submetidos não puderam aprisionar suas almas, como demonstra o personagem Túlio em seus atos de heroísmo e fraternidade.

Maria Firmina dos Reis escreve um romance aos moldes românticos da época, tendo a natureza como cenário, no caso as belas paisagens do Maranhão; o casal romântico formado pelo mocinho e mocinha brancos, no ideal esperado de beleza eurocêntrica; com uma linguagem rebuscada e cheia de adjetivos no português castiço do século XIX, demonstrando assim como Maria Firmina dominava a norma culta e era uma leitora culta que inclusive dominava o francês e o latim. Por fim, o contexto sócio-histórico da escravidão,  que até então não havia sido abordado pela visão do negro, do escravizado, do colonizado. Essa é a grande contribuição de Maria Firmina dos Reis para a Literatura Brasileira, uma narrativa descolonial.

Eu encontrei uma imagem de Maria Firmina num concurso de selo comemorativo da Academia Ludovicense de Letras onde o artista a desenhou conforme as descrições das testemunhas da época. Essa é a imagem que segue em anexo e que utilizo no meu trabalho. A invisibilização da mulher negra foi o que manteve Maria Firmina desconhecida do público leitor brasileiro durante todos esses séculos! Por quê o romance não teve divulgação? Por quê as livrarias não venderam? Por quê não se escreveu sobre ele nos jornais? Por causa do racismo! O racismo é o legado da escravidão que invisibiliza todas nós, mulheres negras!

O que se esperava de uma mulher negra na época? Que continuasse na subalternidade, servindo aos brancos. Não se esperava uma mulher negra alfabetizada, com estudo! Não se esperava que uma mulher negra fosse professora; que ousou abrir uma escola para crianças pobres que 2 anos depois foi fechada! Maria Firmina acreditava no poder da Educação, ela queria um futuro diferente para aquelas crianças! Depois da abolição, os negros ficaram proibidos de frequentar a escola por mais de um século no Brasil!

Eu vejo o racismo como o sistema responsável por tornar as pessoas negras invisíveis! São escolhas que definem quais autores devem ser lidos, publicados, estudados, conhecidos e reconhecidos! Escolheram ocultar Maria Firmina dos Reis e em seu lugar colocar a imagem de uma mulher branca! Pois assim, nenhuma mulher negra se imaginaria nesse papel de intelectual, nesse lugar de fala, nessa escrita divergente que ousou denunciar uma sociedade injusta e criminosa.

Devemos reconhecer a importância da universidade brasileira, que através de seus pesquisadores estão retirando o véu do racismo que também ocultou outras escritoras negras do início da história literária como Rosa Maria Egipcíaca da Cruz e Auta de Souza! É comprovado que não foi por incapacidade intelectual que o Brasil não conhece suas escritoras negras, mas sim, por falta de oportunidades! A exclusão literária leva em conta sobrenomes europeus, dinheiro para publicação, circulação restrita em editoras, livrarias e prateleiras de bibliotecas. O romance "Úrsula" foi encontrado num sebo!

Se não nos incomodarmos com a tardia aparição de escritoras como  Conceição Evaristo, Míriam Alves, e tantas outras mulheres negras, vamos continuar com esse ciclo de silenciamento, invisibilidade e apagamento. Chegou a hora do Brasil conhecer sua história completa e verdadeira, sem omissões, e a mulher negra não pode estar de fora!


domingo, 9 de abril de 2023

 FÓRUM SOCIAL MUNDIAL: UM NOVO MUNDO É POSSÍVEL!


Participe do @forumsocialmundial2023 !
Painel: Sororidade na Literatura Brasileira
Dia 23/01/23, 15h, no YouTube do Canal Sororidade
@canal_sororidade
@solfigueiredo_oficial
@margareteprado6280
@ana.flordolacio
#literaturabrasileira
#sororidade
#forumsocialmundial2023

GENTE DE PALAVRA - HOMENAGEM À POETA LÚCIA HELENA DOS SANTOS


ACADÊMICOS DA ORGIA EXALTA OLIVEIRA SILVEIRA, O POETA DA CONSCIÊNCIA NEGRA


MARÇO MULHER

EXPOSIÇÃO ESCRITORAS NEGRAS NO INSTITUTO FEDERAL DE ALEGRETE


Abrindo os trabalhos do Março Mulher, estou em exposição no Instituto Federal de Alegrete. Prestigiem!!!

Olá, neste 8 de março, às 10h15, estarei na mesa "Mulheres que escrevem, Mulheres que publicam" no Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

TRILHAS CULTURAIS DA LESTE


Do útero ao lápis - encontro cultural com Fátima Farias e Ana Dos Santos - Trilhas Culturais da Leste

CANAL SORORIDADE NA ONU MULHER - ONGS DA COMISSÃO DE STATUS DAS MULHERES

"TRAVESSIAS DE AMANAÃ" NA BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL


#Repost @bpe.rs
Dicas de Leitura
CLUBE DE LEITURA BPE
"Travessias de Amanaã" — de Ana Dos Santos, Carmen Lima, Fátima Farias, Delma Gonçalves, Lilian Rocha, Taiasmin Ohnmacht — é um desses livros que evocam sentimentos, reflexões, dor e renascimento.
Mulheres são, a priori, entidades. unidas, são força real; irmanadas na luta, pólvora; coesas em arte, deusas em ebulição. Amanaã é um ser intuído pelo poder de seis mulheres negras. Uma energia que passa de raiz a semente. O livro reúne textos, poemas e reflexões das seis autoras, em uma construção coletiva de mulheres inspiradas em suas vivências, assim como Conceição Evaristo e Maria Carolina de Jesus.
Boa leitura!
#cultura #maiscultura #novasfaçanhasnacultura #BPE #clubedeleiturabpe

I JORNADA LITERÁRIA DE ALEGRETE - CONSTRUINDO CAMINHOS PARA UMA CIDADE LEITORA



SEMANA ACADÊMICA DA LETRAS/UFRGS - O FUTURO PROFISSIONAL DE LETRAS: DESAFIOS PARA A PERMANÊNCIA 




𝑸𝒖𝒆𝒎 𝒔𝒂̃𝒐 𝒂𝒔 𝒂𝒕𝒊𝒗𝒊𝒔𝒕𝒂𝒔 𝒇𝒆𝒎𝒊𝒏𝒊𝒔𝒕𝒂𝒔 𝒒𝒖𝒆 𝒍𝒖𝒕𝒂𝒎 𝒑𝒆𝒍𝒂𝒔 𝒎𝒖𝒍𝒉𝒆𝒓𝒆𝒔 𝒆 𝒎𝒆𝒏𝒊𝒏𝒂𝒔? Ela na luta!
Hoje finalizamos nossa campanha com a mesma pergunta: Quem são as ativistas feministas?
Durante o mês de março apresentamos ativistas que marcam a luta feministas das mulheres prostitutas, indígenas e Trans e não conseguimos seguir com o nosso objetivo de trazer mais duas ativistas gaúchas.
Seus currículos são intensos mas queremos conhecer suas histórias na luta Feminista, momentos, construções, desafios e detalhes.
Em nossas pesquisas encontramos entrevistas, matérias, programas, publicações, projetos e participações, mas nada que detalhasse suas trajetórias pessoais.
Trazer as histórias de luta Feminista da Inclusiva Telia Negrão e Ana dos Santos nos deu a certeza que está campanha precisa continuar e registrar essas lutas de uma mulher negra, professora, escritora e poetisa e de uma mulher que fez da sua vida muitas décadas dedicadas à luta por direitos das mulheres e a construção de uma ong feminista a primeira do país.
Mulheres escrevam e deixem suas histórias Feministas registradas para não sermos apagadas e silenciadas.
Suas histórias precisam ser contadas e deixadas para as nossas!
#HistoriasContadas
#FundoElas
#Inclusivaas
#elasnaluta



domingo, 18 de dezembro de 2022

NOVEMBRO NEGRO, PRESENTE!

 "TRAVESSIAS DE AMANAÃ" (Libretos, 2021) É FINALISTA DE MELHOR COLETÂNEA DO PRÊMIO MILTON JOSÉ PANTALEÃO DE LITERATURA INDEPENDENTE da Academia de Letras do Brasil seccional RioGrandedoSul. Obrigada aos nossos editores Clô Barcelos e Rafael Guimaraens e aos acadêmicos da ABL

@libretoseditora @abletras_oficial



CLUBE DE LEITURAS FEMINISTAS DO COLETIVO bell hooks PSICOLOGIA E POLÍTICAS DO CUIDADO
O coletivo bell hooks: psicologia e políticas do cuidado convida para a experiência de ler coletivamente obras de autoras negras gaúchas. Serão encontros quinzenais, que ocorrerão aos sábados, das 10h às 11h30, de forma virtual. A curadoria das obras e autoras pelas quais iremos mergulhar foi realizada por Nathallia Protazio, integrante do coletivo, escritora e mestranda do PPG de Psicologia Social e Institucional. Nosso objetivo é fomentar a leitura-encontro com autoras contemporâneas que estão produzindo suas escritas em nosso tempo. Essas foram as leituras e autoras selecionas para pensarmos juntes. Serão seis encontros, seis livros, nas datas : 10/09; 24/09; 08/10; 22/10; 12/11; 26/11. Inscrições até a sexta-feira, dia 12 de agosto.
IMPORTANTE: os livros das autoras brasileiras não serão disponibilizados pdfs, pois tratam-se de escritoras atuais, que publicam suas obras de forma independentes. Forneceremos as informações sobre a compra por email após a confirmação das inscrições.






"PRETA POESIA FEMININA" NA FEIRA DO LIVRO DE PORTO ALEGRE
No Teatro Carlos Urbim!  Minha poesia no corpo e na voz de Silvia Duarte 


MEUS POEMAS NO TEATRO DE "CAROLINA DE OUTRAS VOZES"
Outro espetáculo teatral com minha Poesia!
Curta temporada!
Carolina de Jesus foi uma potente voz negra que nos deixou um legado de esperança, de luta e criatividade. Quais são as vozes pretas atuais que dialogam com Carolina?
O Sarau/espetáculo "Carolina e outras vozes" homenageia a mulher que ainda hoje é referência no mundo literário internacional e traz ao palco figuras da cena preta portoalegrense: música, poesia e humor (sim, humor). Ficou curiose? Em breve divulgaremos quem são essas outras vozes e como adquirir seu ingresso!
#paratodosverem
Informações em texto:
Trupi Di Trapu – Teatro de Bonecos, Porto Alegre, Brasil - apresenta
Sarau/espetáculo “Carolina e outras vozes”
25, 26 e 27 de novembro
Local: Cerco Cultural
Descrição da imagem:
Card com fundo amarelo, texturizado com leves rabiscos. À esquerda, um desenho apenas delineado em preto de uma mulher negra representando Carolina de Jesus, de lenço na cabeça. Segura um livro aberto. Seu olhar desvia-se do livro em nossa direção. Tem nos lábios um discreto sorriso.
No topo, centralizado, o logo da Trupi Di Trapu. No canto inferior direito, os símbolos de Libras e Audiodescrição.


BOLETIM "POESIA É DA HORA" NO PROGRAMA "MEU CARO AMIGO" DA RÁDIO CANTAREIRA



FLIPELÔ - FEIRA LITERÁRIA DO PELOURINHO
COLETÂNEA POÉTICA ÁFRICA & BRASIL-KUTANGA (editora Òmnira).
À venda na livraria LDM, na FLIPELô. Mais informações sobre a obra no blog!


"TRAVESSIAS DE AMANAÃ" NA BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL
20 DE NOVEMBRO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA NA BPE
No dia 17 de novembro (quinta), a BPE vai realizar o encontro “Autoras negras; leia, ouça e compartilhe”.
Trata-se do relato do processo de criação das escritoras (duas são letristas de música).
Vai ser às 18h, no Salão Mourisco, com entrada gratuita.
O evento vai promover o debate sobre a leitura e a escrita de autoria feminina negra, com leitura de textos e de poesias das autoras.
As obras publicadas por elas serão vendidas e autografadas no local.
A Biblioteca Pública do Estado é uma das instituições da Secretaria de Estado da Cultura.
#cultura #maiscultura #BPE #novasfaçanhasnacultura #diadaconsciencianegra




RODA DE CONVERSA "MULHERES NEGRAS, SAÚDE MENTAL E RACISMO"
👩🏽‍💻👩🏾‍💼👩🏽‍🏫👩🏿‍🔬 Novembro Antirracista Unificado: Sintergs promove roda de conversa com o tema Mulheres negras, racismo e saúde mental
📍 Evento ocorrerá no dia 22/11 (terça-feira), às 18h30, na sede do sindicato
✅ Participam painelistas das áreas de educação, cultura e saúde ligadas ao funcionalismo e a movimentos sociais

O Sintergs promoverá uma roda de conversa com o tema Mulheres negras, racismo e saúde mental, que integra a programação do Novembro Antirracista Unificado. O encontro será no dia 22/11 (terça-feira), às 18h30, na sede do sindicato, e contará com painelistas das áreas de educação, cultura e saúde ligadas ao funcionalismo e a movimentos sociais.

Participam do evento: a mestra e doutora em História Lúcia Regina Brito Pereira; a assistente social e presidenta da União de Vilas da Grande Cruzeiro, Malvina Beatris Souza; a mestra em Psicologia Social e Institucional Tatiane Oliveira, que atua no Programa de Saúde do Servidor (PROSER); e a professora, poetisa e escritora Ana dos Santos, mestra em Estudos Literários Aplicados – Letras.

Segundo Angela Antunes de Souza, diretora do Sintergs, o racismo tem um impacto na saúde mental da população negra, principalmente nas mulheres, que passam boa parte da vida ouvindo que devem ser fortes, o que gera angústia e sofrimento. “O objetivo desta roda de conversa é discutir este assunto, sem tabus, e falar da importância das políticas públicas, da educação e dos coletivos das mulheres tanto no acolhimento quanto no combate ao racismo”, explica a dirigente.

Cerca de 40 entidades, incluindo o Sintergs, estão organizando mais de 45 atividades durante o mês em Porto Alegre, Região Metropolitana e Interior do Estado. As ações integram o calendário do Novembro Antirracista Unificado, construído por movimentos negros, sociais, coletivos e sindicatos.

Em 20 de novembro (domingo), Dia da Consciência Negra, haverá a tradicional Marcha Independente Zumbi Dandara, em Porto Alegre. A concentração será às 16h, no Largo Zumbi dos Palmares, e a caminhada vai até a Praça do Tambor.

Confira mais informações sobre as painelistas:

Lúcia Regina Brito Pereira
Mestra e doutora em História, professora aposentada da rede estadual e municipal de Porto Alegre. Foi presidenta interina do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do RS (Codene)

Malvina Beatris Souza
Assistente social, militante de políticas públicas no território da Grande Cruzeiro, sócia fundadora da Associação de Mulheres Solidárias da Grande Cruzeiro, presidenta da União de Vilas da Grande Cruzeiro

Tatiane Oliveira
Psicóloga na Secretaria Estadual da Saúde, atua no Programa de Saúde do Servidor (PROSER). é especialista em Saúde do Trabalhador e mestra em Psicologia Social e Institucional

Ana dos Santos
Professora de Literatura Brasileira, mestra em Estudos Literários Aplicados − Letras, escritora e poetisa. Faz parte do catálogo Intelectuais Negras Visíveis, da UFRJ, é acadêmica da Academia de Letras do Brasil/RS na cadeira 100


SALVE 20 DE NOVEMBRO!

No dia da Consciência Negra vamos contar com a participação de Ana dos Santos para uma conversa sobre as potências das narrativas negras, indígenas, periféricas, entre outras, no campo da literatura.
Ana Dos Santos é professora de Literatura Brasileira e escritora. Mestra em Estudos Literários Aplicados - Letras/UFRGS, ministra a oficina de escrita criativa “Mulher Negra, Meu Corpo, Minha Voz,”. Tem três livros publicados: “Flor” (Corpos Editora, 2009), “Poerotisa” (Editora Figura de Linguagem, 2019), finalista dos prêmios Livro do Ano de Poesia da Associação Gaúcha de Escritores do Rio Grande do Sul e Milton Pantaleão de Literatura Independente e “Pequenos grandes lábios negros” (Venas Abiertas, 2020) vencedor do Prêmio Milton Pantaleão de Literatura Independente – Categoria Poesia - 2021. Faz parte do catálogo “Intelectuais Negras Visíveis” (UFRJ) e é Acadêmica da Academia de Letras do Brasil/Rio Grande do Sul na cadeira 100 com a Patrona Lélia Gonzales.

LITERATURA AFRO-BRASILEIRA NO PORTO ALEGRE EM DEBATE - TEVÊ CÂMARA
Hoje, a partir das 20h na Tevê Câmara, canal 16 da Net e 11.3 da teve aberta! Prestigie!

GRIÔ - AS SEMENTES QUE VIERAM DA ÁFRICA
OFICINA INTRODUTÓRIA À CULTURA BRASILEIRA
NAS CIDADES MONTENEGRO E VIAMÃO


ANA DOS SANTOS NO PROGRAMA "TEMPERO DA PRETA" DA RÁDIO NEGRITUDE

ENCERRANDO AS ATIVIDADES EM ALEGRETE, TERRA DOS MEUS PAIS!
LEIA MULHERES ALEGRETE PROMOVE A EXPOSIÇÃO "LEIA ESCRITORAS NEGRAS"
Alô, Alegrete! Estou na exposição Leia Mulheres - Escritoras Negras Brasileiras
@leiamulheresalegrete



sábado, 1 de outubro de 2022

ON THE ROAD, AGAIN! Depois de 3 anos sem viajar!!!

 APRESENTAÇÃO DO LIVRO "MULHERES ESQUECIDAS" DE ROSANE PEREIRA


Tive a honra de fazer a apresentação desse livro!

Título: MULHERES ESQUECIDAS
Aurora: Rosane Pereira
Editora Bestiário

Melina, Júlia, Tereza e Luana são as mulheres esquecidas dessa narrativa. Mas Ângela, Alice e Maria Clara também foram esquecidas. Assim como Lilian, Mariana e Margarida... Na São Paulo do século XXI, milhares de moradoras de rua são esquecidas em um canto qualquer. Vamos acompanhar de perto a amizade que surge em meio ao caos de uma vida incerta e inesperada para quem vive da caridade alheia. Rosane Pereira põe uma lente de aumento sobre essas existências: "Desde que passei a viver na rua, entendi que de nada serve ter uma história para lembrar ou para contar. A gente tem que viver cada dia, um por um", lamenta Júlia. Porém, a autora vai nos contar as histórias de vida dessas mulheres, algumas sem identidade, mas todas com uma vivência em comum: os anos em que viveram juntas em um casarão abandonado. O machismo, o racismo e o classismo atravessaram seus corpos com todos os tipos de violência. De abandono em abandono, não se fixam em nada nem em ninguém, sempre vagando pelo mundo: "...a rua é tudo que é lugar e não é lugar nenhum", afirma Luana. É na convivência diária que vão construir entre elas a sororidade e a dororidade que as reúne. A Literatura é fundamental para que se preserve a memória, e Rosane Pereira, com suas palavras, faz com que nós nunca mais nos esqueçamos dessas mulheres.

Ana Dos Santos
Escritora, professora e Mestra em Literatura Brasileira.

Sobre a autora:
Rosane Pereira nasceu em Porto Alegre, é psicanalista, publicou seu primeiro romance, "Estranhos, Noturnos... e amantes - Retrouvailles online", pelas Editoras Associadas, (Porto Alegre) em 2009. Em 2013, publicou sua coletânea de contos "A invenção do Sentimento" pela Editora Ideias a Granel (Porto Alegre) e em 2018 publicou seu segundo romance " A dor dos lobos" pela Editora Patuá (São Paulo).


APRESENTAÇÃO DO LIVRO "JOCOSO PONTO" DE TAINÃ ROSA E MITTI MENDONÇA


Fui convidada a escrever a apresentação desse encontro de artes verbais e visuais: JOCOSO PONTO de Tainã Rosa e Mitti Mendonça:

A mulher negra pode ser ela mesma? Pode escrever, fazer arte, contar histórias, bordar, encenar, tecer? Qual o ponto de partida? Carolina e suas escrevivências? Qual a trama, o enredo o tear o ponto sem nó? Qual o ponto da chegada? Tainã Rosa e Mitti Mendonça tramam juntas o malicioso, o harmonioso, o esperançoso ponto jocoso que nos fará sorrir com poesia, Axé!
Ana Dos Santos
Mestra em Estudos de Literatura e escritora.

MEU ANIVERSÁRIO E 9 ANOS DO CLUBE DE LEITURA DO PROFESSOR GAÚCHO


FESTIVAL INTERNACIONAL LITERÁRIO DE GRAMADO

Você sabe quem foi Oliveira Silveira?

Em seu cartão de visita, Oliveira Silveira se definia como pesquisador da cultura afro-brasileira e escritor de literatura negra. Falecido no dia 1 de janeiro de 2009, o poeta, professor e intelectual, com grande trabalho dentro do movimento negro (foi um dos idealizadores do Dia da Consciência Negra), deixou um legado vivo e que segue sendo objeto de pesquisas e influenciando novas gerações.

Nascido no distrito de Touro Passo, na Serra do Caverá, em Rosário do Sul, Oliveira fez uma poesia que refletiu sobre o seu tempo e que se mostra, cada vez mais, universal.

No início da década de 1970, Oliveira Silveira, Antônio Carlos Côrtes, Ilmo da Silva, Vilmar Nunes, Jorge Antônio dos Santos (Jorge Xangô) e Luiz Paulo Assis Santos, recorrentemente, encontravam-se em frente à tradicional Casa Masson da Rua da Praia, no Centro de Porto Alegre. Reuniões posteriores incluíram membros e culminaram com a consolidação do Grupo Palmares, focado nos estudos de artes, literatura e teatro.

Para homenageá-lo durante o 1º Festival Internacional de Literatura de Gramado, reunimos uma comissão, composta por Ronald Augusto, Ana dos Santos, Richard Serraria, Naiara Silveira, Sátira Machado, Coletivo Sankofa e Adílson Fontoura

#paratodosverem: a imagem conta com os elementos visuais que compõem a identidade do FiliGram, são formas geométricas coloridas onde no topo está escrito COMISSÃO DE HOMENAGEM A OLIVEIRA SILVEIRA, em vermelho e, ao lado, a foto do autor. Distribuídas no card, há mais sete fotos, todas em formato circular com as respectivas legendas: Naiara Silveira, Ronald Augusto, Coletivo Sankofa, Ana dos Santos, Sátira Machado, Adílson Fontoura e Richard Serraria. No canto inferior direito está a logo do Festival.

MULHERES ESCRITORAS COMPARTILHAM SEUS SABERES: UMA CONVERSA COM ANA DOS SANTOS E FUTHI NTSHINGILA

Por Thaís Seganfredo

O que é ser escritora nesses tempos difíceis que estamos vivendo? A escritora Carolina Panta abriu a mediação da mesa “África e Brasil: saberes femininos”, que aconteceu no cair da tarde deste domingo (04) com essa pergunta desafiadora. Na conversa, as escritoras falaram de conquistas históricas, oralidade e da importância matriarcal das mulheres na sociedade. Confira como foi a mesa, permeada por poemas de Ana dos Santos e por falas da sul-africana Futhi, que contou com tradução:

Futhi Ntshingila: Não são tempos fáceis, principalmente para as mulheres e principalmente para as mulheres negras. Eu tento não esquecer que as mulheres que vieram antes de nós lutaram em tempos mais difíceis ainda do que nós estamos lidando agora. As mulheres das quais eu tiro inspiração são Maya angelou, Alice walker… Antes delas havia outras mulheres que lutaram em lutas mais difíceis.

“Os homens que não amavam as mulheres diziam que amavam as mulheres. Mas matavam as mulheres. Sempre foi assim, mas nós não queremos mais morrer. Eu já morri 100 vezes, arrastada pelos cabelos, nas fogueiras da inquisição, nos campos de concentração (…)” – Ana dos Santos

Conquistas e avanços

Futhi: Eu quero acreditar que vai haver um tempo, mas chega a ser difícil ser otimista quando paramos pra olhar o que vem acontecendo. Esse poema que a Ana acabou de ler é um poema com o qual eu me identifico. É a história de mulheres do lugar de onde eu venho. Mas eu acredito que se nós vamos chegar a um ponto em que vamos poder cantar, precisamos ter primeiro pequenas vitórias, porque é pedacinho por pedacinho. No meu país, havia um tempo em que as mulheres não podiam se envolver. Teve um tempo perto de 1952, em que as mulheres tinham que andar longas distâncias para chegar até o parlamento e exigir seus direitos. Todo dia 09 de agosto na África do Sul, nós celebramos essa conquista das mulheres que foram até o parlamento e exigiram seus direitos. Naquele momento, era exigido que todas as pessoas negras tivessem carteiras de identidade e havia áreas em que elas eram restritas. No dia 9 de agosto, as mulheres colocaram fogo nas carteiras de identidade: “a partir de agora vocês vão nos tratar como seres humanos”. Temos agora mais de 50% de mulheres no parlamento e isso é alguma coisa. Em 1994, quando recuperamos nossa democracia, o nível de educação para as mulheres subiu. Esses são marcos que podemos apontar para chegar até essa área que estamos enxergando.

Ana dos Santos: as mulheres negras sempre estão em coletivo, é assim que a gente trabalha até hoje. Nós perdemos muito na travessia do Atlântico, e quando penso nisso, lembro das mulheres da nossa família. Olhamos para trás e vemos afeto, carinho e força nessas mulheres. Ultimamente, tenho sentido entre as mulheres um lugar de carinho, de segurança e é muito bom ver tantas mulheres escritoras aqui hoje.

Ancestralidade e afeto

Futhi: a matriarca é a pessoa mais importante da família. Penso nas mulheres de casas domésticas no oeste da África. Eram elas que mandavam, governavam como rainhas. Então pra mim, principalmente as avós, são mais do que avós, elas trazem com elas toda uma sabedoria que é repassada para nós. Vou contar para vocês uma história da mãe da minha mãe. Ela cresceu como trabalhadora doméstica, tem um personagem no meu livro que fala disso e essa é a história da minha avó. Ela trabalhava na cozinha de pessoas brancas durante o apartheid. E ela tinha uma xícara diferente do que as outras pessoas usavam, uma xícara de chá. Ela devolveu a xícara, dizendo que não usa esse tipo de xícara de latão. E a mulher falou que era pra ela colocar açúcar mascavo no chá, o açúcar marrom. Ela disse que não gostava de açúcar mascavo [ e respondeu] “por que você mesma não coloca no seu chá?” São pequenas atitudes como esta que mostram a história. Ela tinha uma maneira de agir que por um lado era submissa, mas quando você via ela em casa, você via uma leoa. Minha avó não se denominava feminista, mas todo o comportamento dela mostrava que essas mulheres queriam igualdade. Elas tinham uma maneira própria de buscar isso. Elas buscavam seu caminho. Porque se houvesse alguma discordância na casa, a avó diria: não se preocupe com isso. No próximo dia, uma decisão ia ser tomada, de um modo que o homem acreditaria que ele é que tomou a decisão.

“Você conhece alguma princesa negra? eu conheço e ela se chama Dandara. Está mais perto do que você imagina. Dandara é uma mulher que é dona de sua casa, pois no Brasil mais da metade das casas são chefiadas por mulheres. (…) Dandara é guerreira porque chove na sua horta e ela vai vender na feira. Dandara é princesa e também é rainha. Dandara é mãe e teve três filhos, mas criou sozinha, porque o negro rei foi pra Bahia. E lá ele é chamado de meu rei. (…) Dandara odeia os ismos, racismo, machismo, fascismo, também odeia regras porque não é preciso, ela não é obrigada a fazer transição, e usa seu cabelo liso” – Ana dos Santos


QUESTIONANDO CÂNONES POÉTICOS

Rafael Gloria

No último dia do Festival Internacional Literário de Gramado, aconteceu uma das melhores mesas de todo o evento, intitulada Poesia e crítica contemporânea, com debates entre os poetas Ronald Augusto, Ana dos Santos e Marlon Ramos. O público, de início, era pequeno, mas foi enchendo conforme o tempo passava, lotando nas mais de uma hora de duração da mesa.

Quem começou com a sua fala foi Ronald Augusto. Ele lembrou que o conceito de crítica ficou preso a uma ideia vaga de se falar negativamente sobre algo, mas é muito mais amplo, sendo um processo de análise, de reflexão. Ronald também comentou sobre o conceito de qualidade literária e como ele necessita de um debate mais aprofundado. “Hoje os critérios são outros e outras demandas são importantes”, fala. Ele diz que, por muito tempo, essa ideia foi usada para para afastar os escritores negros de grandes editoras, por exemplo. Ronald é também crítico com a ideia de que a arte salva, comum em alguns meios. “Essa possibilidade não é algo intrínseco ao processo criativo, nós associamos, mas não está na base da poesia um caráter salvacionista”, aponta. 

Ana dos Santos lembra que os critérios de publicação, em sua grande maioria, sempre foram eurocêntricos e ligados a uma elite. “Acho muito importante os poemas que viraram clássicos, mas também é preciso questioná-los. Quando falamos em poesia canônica, quem é que vem à mente?”, diz. Ana acredita que a crítica negativa também pode ser interessante no sentido de construir outras perspectivas. Ela também é pesquisadora e atualmente faz doutorado em Letras na Ufrgs e vê a poesia como um lugar de liberdade, apontando que é preciso buscar outras referências para ir além do cânone, buscando uma maior diversidade de autoras e autores. 

Marlon Pires diz que as referências musicais, para ele, vieram antes do que as literárias. “Neruda, por exemplo, veio para mim a partir do Emicida”, diz. Ele também cita o samba, o slam, Sérgio Vaz, Racionais, Rappin Hood. Marlon diz que começou escrevendo crônicas e que a música o ajudou a compreender que o seu tipo de texto era mais ritmado. “E então, eu fui achando um caminho de poesia possível, que pudesse abarcar um jeito de escrever, com afeto”, explica. Ele diz que no início a sua construção pensava nessa ideia do verso que abraçasse, mas para isso teve que passar pelo senso crítico de ouvir a galera que estava fazendo poesia na rua, no rap, samba, e também no cânone. 

A mesa foi rica em discussão, porque trouxe diferentes visões sobre como cada um dos autores observa o fazer poético, a recepção da poesia e também a estética que buscam. Depois da conversa, os três leram alguns de seus poemas, sempre aplaudidos efusivamente  pelo público, bem receptivo. A poesia pode não salvar, mas ela tradicionalmente reúne as pessoas e foi isso que aconteceu neste último dia de evento.