Os olhos cheios d’água de Conceição Evaristo
Ana Paula Freitas dos Santos[1]
Resumo
O
presente ensaio apresenta a obra Olhos d’água (2016) da escritora Conceição
Evaristo, que compõe um dos objetos da minha pesquisa “Os contos de
Conceição Evaristo e a representação da mulher negra: diáspora, gênero e
descolonização na sala de aula”. O texto foi apresentado na disciplina
Seminário de Estudos Comparados – Literatura de Autoria Feminina e Estudos de
Gênero PPG Letras/UFRGS e tem como objetivo apresentar a escrita feminina de
autoria negra e a importância da voz narrativa de Evaristo, que atravessada
pela interseccionalidade de gênero, raça e classe inclui no cânone literário as
vozes decoloniais brasileiras que durante séculos não tiveram
representatividade na literatura, tanto nas personagens, quanto na autoria. A
fundamentação teórica usadas na análise dos contos se aporta nas intelectuais
Maria Lugones e o conceito de “colonialidade de gênero”, Sueli Carneiro e o
feminismo negro e Gayatri Spivak com a reivindicação da alteridade.
Palavras-chave: Gênero; Raça; Escrevivência; Feminismo
Descolonial.
Eu, mulher negra, tenho encontrado na escrita
feminina negra, minhas iguais. Por irmanarmo-nos através de um corpo sujeito
negro, um corpo do gênero feminino que se expressa em várias sexualidades, um
corpo que escreve, pensa e produz conhecimento, encontrei na escritora
Conceição Evaristo uma literatura que proporciona a busca do meu ser e estar
neste mundo e que também protagoniza mulheres negras não somente como objetos
de estudo, mas, sim, como sujeitas que contam sua própria história através das
personagens e narradoras criadas por Conceição.
“Corpo”, “sujeito”, “gênero”, “feminino”, todas
palavras masculinas, não comportam a experiência das palavras “mulher”, “sujeita”,
“feminina”, “negra”. Enquanto ainda estamos presas pelo léxico da linguagem que
generaliza no masculino, a palavra “negra” é onde me sinto em casa. Ainda bem
que “escrita” é uma palavra do gênero gramatical feminino. Por isso, a
importância do conceito “autoria feminina”.
Muitos
questionarão onde fica a divisão entre a vida da mulher Conceição e a
literatura da autora Conceição Evaristo. Ela mesma responde: “Peço muito para
as pessoas que não leiam apenas minha biografia, porque ela é importante sim,
porque ela contamina meu texto...”, mas, ela ressalva: “Não leiam somente a
minha biografia. Leiam meus textos!”. (GUIMARÃES, 2018).
A
escritora e Doutora em Literatura criou o conceito “Escrevivência” para se
referir à produção escrita de mulheres negras que têm em comum o estigma do
racismo e do machismo que as colocam em situações de subalternidade. Evaristo
compreende que por ela ser uma escritora negra, entende e se identifica com
muitas das personagens que cria, assim como se coloca como narradora, contadora
ou talvez a própria personagem dos contos.
Conceição
Evaristo vem de uma corrente literária dentro da Literatura Brasileira chamada
“Literatura Negro-Brasileira”, conceito criado pelo escritor e Doutor em
Literatura Cuti Silva (2010), que abrange escritores e escritoras negros
brasileiros que reivindicam a autoria negra, a ancestralidade, o posicionamento
antirracista, a voz coletiva da diáspora negra e que têm como público leitor, a
população negra. Dentro dessa corrente encontramos as predecessoras da escrita
feminina negra brasileira: Maria Firmina dos Reis e Carolina Maria de Jesus.
Evaristo
fala que Carolina de Jesus foi uma das escritoras que marcou e influenciou sua
escrita. Ambas cresceram na periferia, conheceram de perto a luta pela sobrevivência
das mulheres negras, a pobreza, a fome. Evaristo cresceu em uma família de
mulheres cozinheiras, faxineiras e babás. Carolina e Conceição foram empregadas
domésticas. Conceição tomou gosto pela leitura dentro da família, que se reunia
para ouvirem histórias que posteriormente ela aprendeu a contar. A obra de
Evaristo é uma porta de acesso ao conhecimento da oralidade, um dos valores
civilizatórios da sociedade africana.
Essas
vozes são divergentes e dissonantes da história única que tem sido contada a
partir da perspectiva do colonizador, do dominador europeu. Essa produção
intelectual de mulheres negras e/ou latinas propõe a descolonização do
pensamento ocidental, que refuta o perigo da história única como alerta a
escritora Chimamanda Adichie (2018). Essas vozes são o contraponto da
escravidão africana, ou seja, a resistência. Essas vozes contam a história do
Brasil pelo ponto de vista do dominado, do colonizado, do africano, do “Outro”.
São as vozes da diáspora africana.
Segundo
Simone Pereira Schmidt, no artigo “Os desafios da representação: poéticas e
políticas da leitura descolonial”, a autoria negra feminina na literatura
articula aspectos de gênero e raça na representação de mulheres em obras da
diáspora. O artigo assinala sua opção por uma crítica descolonial, no âmbito
dos sistemas culturais atravessados pela herança do colonialismo português.
[...] Dentre as questões
mais frequentemente evocadas nos textos literários encontram-se a memória da
segregação racial, a assimilação, a mestiçagem, [...] Questões como essas, que
se mostram ainda tão vívidas na esteira de uma história colonial que se deseja
superar, podem ser compreendidas através da concepção formulada por Aníbal
Quijano, de “colonialidade de poder”. Tomando esse conceito como referência,
Maria Lugones afirma que a colonialidade, cujo nascimento se acha estreitamente
ligado ao colonialismo, estende e prolonga seus efeitos. Tais efeitos não se
restringem às questões raciais, mas permeiam, segundo a autora, “todo controle
do sexo, da subjetividade, a autoridade e o trabalho”.
Walter Mignolo, dialogando com a reflexão de
Lugones, assinala que o processo colonial esteve ancorado sobre dois vetores
fundamentais que foram o patriarcado e o racismo (Mignolo, 2008, p.9). Se
pensarmos em termos das permanências da matriz colonial, encontramos no
pensamento feminista pós-colonial a ideia da interseccionalidade (Crenshaw,
2002) que compreende que as categorias de gênero e raça se entrelaçam
inextrincavelmente na constituição do que Maria Lugones chama o “sistema
moderno colonial de gênero” (SCHMIDT, 2013, p. 231).
A
“colonialidade de poder” foi a experiência de Portugal sobre o Brasil. Segundo
Quijano, a dominação e a exploração são encontradas até hoje nas práticas dos
modelos mundiais capitalistas, em que “colonialidade” refere-se à classificação
das populações do mundo em termos de raças, ou seja, a racialização entre
colonizadores/colonizados/as, no caso do Brasil, a subjugação dos povos
originários pela diferença e discriminação dos indígenas aqui presentes na
“descoberta” (QUIJANO, 1991; 1995). Lugones (2014, p. 939) amplia essa
compreensão além de gênero e também vê a redução ativa das pessoas,
desumanização, sujeitificação e assim, menos que seres humanos, estariam
dispostos a serem convertidos e cristianizados (LUGONES, 2014, p. 939).
Lugones afirma que diferente da colonização, a
colonialidade do gênero ainda está conosco. Os seres que resistem à
colonialidade do gênero a partir da “diferença colonial” são complexos. Ela
mesma se coloca como “resistente”, onde ser resistência é uma possibilidade,
adjetivo que encontramos nas personagens de Evaristo, que assim como a
intelectual, são livres dentro dos limites relacionais, se adaptando ao
ambiente e às situações de miséria ou se opondo a essas conjunturas de opressão
construindo suas subjetividades:
Legitimidade, autoridade,
voz, sentido e visibilidade são negados a subjetividade oposicionista. A
infrapolítica marca a volta para o dentro, em uma política de resistência rumo
à libertação. Ela mostra o potencial que as comunidades de oprimidos/as, têm
entre si, de constituir significados que recusam os significados e a
organização social, estruturados pelo poder. [...] Conforme me desloco
metodologicamente dos feminismos de mulheres de cor para um feminismo
descolonial, penso sobre feminismo desde as bases e nelas, e desde a diferença
colonial e nela, com uma forte ênfase no terreno, em uma intersubjetividade
historicizada, encarnada. [...] Descolonizar o gênero é necessariamente uma
práxis. [...] Chamo a possibilidade de superar a colonialidade do gênero de
“feminismo descolonial”. (LUGONES, 2014, p. 940-941)
Esse
devir feminista, não é consciente nas personagens de Evaristo. É uma práxis, em
todos os aspectos dos modos de viver e ser de uma mulher negra, num país da
América Latina que foi construído sobre a égide do trabalho escravo. Existir é
resistir. A luta diária pela vida é uma oposição ao sistema. “Contrariando
estatísticas”, como canta o rapper Mano Brown é romper com o colonial, é descolonizar
o que é esperado de um sujeito negro. Sorrir, cantar, dançar, amar, são atos de
subversão para a população negra. Conceição Evaristo nos narra essa
resistência, através das “escrevivências” que nos mostram os afetos, dos pares,
dos filhos, família e amigos da mulher negra.
A
descolonização através da Literatura Negro-Brasileira dá-se através dessas
representações de mulheres e homens negros que narram de diferentes formas,
suas maneiras de resistir e suas superações diárias dentro de um sistema que
oprime suas identidades há 520 anos. Na obra de Evaristo, encontramos a
periferia como um território de resistência e de luta, palco de suas
personagens.
O
conceito de “Lugar de fala” (RIBEIRO, 2017), ou “lugar de representação”
(MIGNOLO, 2003) pode ser observado nas personagens de Evaristo quando enunciam
em seus discursos o ponto de vista do “outro”, a mulher negra, que fala o que
pensa, o que sente, que se configura como um sujeito pertencente a um segmento
da sociedade que ao mesmo tempo a exclui e a inclui nos lugares de subordinação
ou nos lugares de revolução, pois é uma revolução na Literatura Brasileira dar
voz a esses sujeitos. Desse modo as leitoras negras se veem representadas e é
construída coletivamente uma consciência de gênero e raça que sustenta uma
necessidade de descolonização do viver.
OLHOS D’ÁGUA
No
livro Olhos d’água (2016), os contos de Evaristo revelam o lugar de fala
através das vozes da periferia. Qualquer leitor não periférico, homem ou
mulher, encontrará na obra de Evaristo a experiência humana em todas as suas
facetas. A literatura da autora é uma narrativa social e traz a voz da mulher
negra brasileira, tão rara e mal representada em nosso cânone literário.
Essa
literatura também é uma ferramenta de empoderamento para muitas mulheres negras
em rodas e clubes de leitura que vêm surgindo no país, assim como o Feminismo
Negro na América Latina, que é uma oposição à construção colonial do que seja
uma mulher negra e também uma forma de sobreviver ao racismo estrutural que
coloca essas mulheres à margem da sociedade.
As
mulheres negras se veem representadas no discurso de Evaristo, sentem-se
pertencentes a um grupo de mulheres que não esconde seus sentimentos e afetos,
suas necessidades e desejos, seus sofrimentos e perdas, enfim, suas vivências.
A escritora traz para a Literatura Brasileira, uma representatividade e um
pertencimento de uma parcela da sociedade que luta contra a exclusão, o
silenciamento e o apagamento do que significa ser uma mulher negra no Brasil.
Em
entrevista recente à revista Marie Claire (2019), Conceição comenta que, na
literatura e na vida, gosta de falar sempre a partir de suas experiências e
exalta quem tem conseguido fazer o mesmo: “Hoje a gente tem um movimento de
falar com a nossa voz. Me perguntam se falo pelas mulheres negras. Eu não falo
pelas mulheres negras, falo como mulher negra, com as mulheres negras.”
(FRANÇA, 2019, p.60)
Em
Olhos d’água (2016), a maternidade e o elemento água estão presentes em quase
todas as narrativas, seja em lágrimas ou no sangue menstrual que une todas as
mulheres como um fio da vida. A morte e a vida são alegorias constantes nas
narrativas da periferia brasileira, nelas enxergamos a fome, a violência e o
crime que colocam os personagens na “corda bamba da vida”.
Encontramos
a “escrevivência” presente nos contos, que trazem a voz da mulher negra ora
como protagonista da sua própria história, ora com o olhar de uma narradora que
também é mulher e negra e sintoniza essas duas falas. Na maioria dos contos, o
“outro” é o homem, que por vezes é o inimigo e o predador da vida das mulheres,
através das maldades e crueldades que a cultura do machismo perpetua com a
submissão e a subjugação das mesmas.
Mas
essas mulheres não são completamente insubmissas. Jurema Werneck, na apresentação
de Olhos d’água (2016) diz que Evaristo é uma “Yalodê”, a que fala pelas
mulheres que não podem falar, contando, dizendo, amaldiçoando. A leitura do
livro é bastante comovente por trazer as vivências marcadas pela dor,
sofrimento, violência, opressão e ao mesmo tempo a construção dos afetos,
amores, amizades, famílias nesses territórios brasileiros excluídos da equidade
e justiça social.
Neste
livro encontramos também as aproximações entre vida e obra, pois só quem nasceu
e viveu numa favela consegue transformar em palavras verossímeis essa
“escrevivência”:
Hoje, consagrada
escritora, Conceição nasceu e se criou numa favela de Belo Horizonte. Filha de
empregada doméstica, chegou a prestar o mesmo serviço ainda criança, quando
morava com tios que viviam em condições melhores que a mãe. Viu seu destino
girar a partir da mudança para o Rio em meados dos anos 70. Lá formou-se em
Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), trabalhou na rede
pública como professora e se tornou mestre em literatura brasileira.
Seu espaço dentro de um meio
predominantemente branco, “como toda instituição brasileira”, ela demorou a
encontrar. Deu os primeiros passos ainda no início dos anos 90, quando passou a
publicar contos e poemas na série Cadernos Negros. Mas só foi lançar o primeiro
romance, Ponciá Vicêncio, em 2003, quando já tinha 57 anos. (FRANÇA, 2019, p.
59)
Entre
seu primeiro romance, “Ponciá Vicêncio”, e o livro de contos “Olhos d’água”,
destacam-se temas recorrentes na obra de Evaristo: a ancestralidade, marca que
é resgatada e memorizada para que não se esqueçam das raízes de África e a
experiência traumática da diáspora; a mulher negra como sujeita das narrativas,
que por vezes é coadjuvante, mas que aparece sempre como dona de seu destino; o
cenário da escravidão que se reconfigura atualmente nas favelas e periferias e
a importância do ouvir e contar histórias, ressaltada na figura da mulher Griot
que pode ser uma velha que lembra e relembra o passado ou uma jovem que faz a
passagem da oralidade para a escrita e que deseja registrar as vivências para
que não se percam.
No
conto de mesmo nome que abre o livro “Olhos d’água”, a narradora tenta
adivinhar qual era a cor dos olhos que a mãe dela tem e no conto “A gente
combinamos de não morrer”, a personagem Bica deseja escrever tudo o que a
família viveu: a mãe solteira, o companheiro e o irmão no tráfico e o bebê que
a avó deseja que tenha um futuro melhor.
É
preciso que essas histórias sejam contadas e recontadas, pois não aparecem na
literatura do cânone brasileiro, quiçá escritas por uma mulher, tampouco nos
livros de história. A “escrevivência” vem para preencher essas lacunas e
devolver a humanidade dessa parcela da população.
A
categoria “mãe” ora segue uma tradição matrilinear africana que coloca a mulher
como figura central da família, ora extrapola os limites da filiação que trazem
à tona a discussão da existência ou não de um instinto maternal e das escolhas
ou imposições do aborto que é praticado fora da lei num território onde as leis
da segurança pública do Estado não alcançam.
No
texto “Mulheres em Movimento” da filósofa Sueli Carneiro (2019) ela
problematiza a interseccionalidade de gênero, raça e classe, apontando questões
que impedem as mulheres negras de viverem como cidadãs brasileiras plenas.
Carneiro vê um reposicionamento do Feminismo com a luta das mulheres negras
entre as pautas das Novas utopias e as Novas agendas feministas, que se
detiveram criticamente na remoção dos “obstáculos contemporâneos persistentes
para a realização da igualdade de gênero e nos desafios e mecanismos para a sua
superação, tendo os seguintes princípios como orientadores das análises e
propostas”:
[...] *reconhecer o
direito universal à educação, à saúde e à previdência;
[...] *comprometer-se com
a luta contra todas as formas de opressão de gênero, e com o combate à
violência, maus-tratos, assédio e exploração de mulheres e meninas;
[...] *comprometer-se com
a luta pela assistência integral à saúde das mulheres negras e pela defesa dos
direitos sexuais e reprodutivos;
* reconhecer o direito das
mulheres de ter ou não ter filhos com acesso de qualidade à concepção e/ou
contracepção;
[...] * reconhecer a
discriminalização do aborto como um direito de cidadania e uma questão de saúde
pública e reconhecer que cada pessoa tem direito às diversas modalidades de
família e apoiar as iniciativas de parceria civil registrada [...] (CARNEIRO,
2019, p. 284)
Sueli
Carneiro ecoa também a voz de outra filósofa negra brasileira, Lélia Gonzáles,
a primeira mulher negra a criticar o Feminismo hegemônico nos anos 80 que
contemplava somente as mulheres brancas. Quase meio século se passou e nenhuma
dessas pautas atingiu as pessoas mais necessitadas das periferias, as mulheres
negras:
...grupos de mulheres
indígenas e grupos de mulheres negras, por exemplo, possuem demandas
específicas que, essencialmente, não podem ser tratadas, na essência, sob a
rubrica da questão de gênero se esta não levar em conta as especificidades que
definem o ser mulher neste e naquele caso. [...] Isso é o que determina o fato
de combate ao racismo ser uma prioridade política para as mulheres negras,
assertiva já enfatizada por Lélia Gonzales, “a tomada de consciência da
opressão ocorre, antes de tudo pelo racial.” [...]
De acordo com ela, as
concepções do feminismo brasileiro padeciam de duas dificuldades para as
mulheres negras: de um lado, o viés eurocentrista do feminismo brasileiro, ao
omitir a centralidade da questão de raça nas hierarquias de gênero presentes na
sociedade e ao universalizar os valores de uma cultura particular (a ocidental)
para o conjunto das mulheres, sem as mediações que os processos de dominação,
violência e exploração que estão na base da interação entre brancos e
não-brancos, constituísse em mais um eixo articulador do mito da democracia
racial e do ideal de branqueamento, Por outro lado, também revela um
distanciamento da realidade vivida pela mulher negra ao negar toda uma história
feita de resistências e de lutas, em que essa mulher tem sido protagonista
graças à dinâmica de uma memória cultural ancestral – que nada tem a ver com o eurocentrismo desse tipo de feminismo.
(CARNEIRO, 2019, p. 274-275)
Em
“Olhos d’água”, a mãe da narradora é lembrada com afeto, mesmo em meio às
dificuldades que a família vivia e aos silêncios que a mãe fazia. A “mãe”
deixava as filhas brincarem com “uma cabeleira crespa e bela” e “se tornava uma
grande boneca negra para as filhas” (EVARISTO, 2016, p. 16).
[...] Lembro-me de que
muitas vezes quando a mãe cozinhava, da panela subia cheiro algum. Era como se
cozinhasse, ali, apenas o nosso desesperado desejo de alimento. As labaredas,
sob a água solitária que fervia na panela cheia de fome, pareciam debochar do
vazio do nosso estômago, ignorando nossas bocas infantis em que as línguas
brincavam a salivar sonho de comida. E era justamente nesses dias de parco ou
nenhum alimento que ela mais brincava com as filhas. Nessas ocasiões a
brincadeira preferida era aquela em que a mãe era a Senhora, a Rainha. Ela se
assentava em seu trono, um pequeno banquinho de madeira. Felizes, colhíamos
flores cultivadas em um pequeno pedaço de terra que circundava o nosso barraco.
As flores eram depois solenemente distribuídas por seus cabelos, braços e colo.
E diante delas fazíamos reverências à Senhora. Postávamos deitadas no chão e
batíamos cabeça para a Rainha. Nós, princesas, em volta delas, cantávamos,
dançávamos, sorríamos. A mãe só ria de uma maneira triste e com um sorriso
molhado. (EVARISTO, 2016, p. 16-17)
Essa
simples brincadeira para esconder a fome das crianças, é um exemplo de
resiliência que a população negra teve que arquitetar para diminuir os
sofrimentos que começaram no sequestro dos nossos ancestrais e que hoje ainda
fazem parte do cotidiano das periferias e favelas do Brasil. É uma sabedoria, triste,
mas não deixa de ser um saber, que nasceu do fazer.
[...] Mas eu nunca
esquecera a minha mãe. Reconhecia a importância dela na minha vida, não só
dela, mas de minhas tias e de todas as mulheres de minha família. E também, já
naquela época, eu entoava cantos de louvor a todas as nossas ancestrais, que
desde a África vinham arando a terra da vida com suas próprias mãos, palavras e
sangue. Não, eu não esqueço essas Senhoras, nossas Yabás, donas de tantas
sabedorias. Mas de que cor eram os olhos de minha mãe? (EVARISTO, 2016, p. 180)
Já no conto “A gente combinamos de não
morrer”, vemos uma maternidade que disputa com a morte o seu pleno exercício.
Não ter filhos é uma escolha para que os mesmos não morram cedo pelas mãos da
violência que assolam a periferia. Se a mulher engravida indesejadamente, o
aborto é mais que uma escolha, é uma necessidade! E vai ser feito independente
da proibição e das condições materiais. A ausência do Estado não oferece outras
opções a essas mulheres:
O que mais gosto na televisão
é de novela. Acho a maior bobeira futebol, política, carnaval e show. Bobagem
também reportagem, campanha contra a fome, contra o verde, contra a vida,
contra-contra. Contra ou a favor? Sei lá, confundi tudo. Acho que é contra
mesmo. Contra e não. Contra-mão. Ando sentindo dores nas pernas. Também!
“Lata d’água na cabeça, lá
vai Maria”. Sobe o morro, desce o morro e se cansa dessa dança. Filhos? Não sou
boba, só dois. Cuspi fora uns quatro ou cinco. Provoquei. “Eu, confessor, me
confesso a Deus, meu zeloso guardador, bendito sois vós, que olhe por mim”. Na
novela das oito, Lidiane era babá do menino Carlos Rodrigues Magnânimo. Ela
ensinou a criança a rezar. Tudo era grande na casa dos Rodrigues Magnânimo. A
casa, o carro, a mesa, o guarda-roupa, o tapete, tudo. O vestido de noiva da
tia de Carlos Rodrigues vestia todo o caminho do altar. Atravessava de ponta a
ponta o corredor de uma grande igreja. É tão bom ver novela. Não gosto de ver
os crimes, roubos e nem noticiários de guerra. Novela me alivia, é a minha
cachaça. (EVARISTO, 2016, p. 101-102)
As
jovens meninas da periferia se veem mães na adolescência. Ainda conservam o
sonho do casamento e dos filhos, mas ele acontece rapidamente e quando se dão
conta, já são mães de família. Os sonhos são “abortados” e a dura realidade é a
luta diária para sobreviver. Por isso o conto se chama “A gente combinamos de
não morrer” (sem concordância verbal mesmo, o que Lélia Gonzales chamaria de
“pretuguês”), porque é um pacto feito entre os personagens jovens que assistem
seus amigos morrerem um por um em plena flor da idade:
A casa de Neo caiu.
Aprontou, dançou! Mais um, que não será o último, outros virão. Ele, Dorvi,
Idago, Crispim, Antônia, Cleuza, Bernadete, Lidinha, Biunda, Neide, Adão e eu
temos ou tínhamos (alguns já se foram) a mesma idade. Um ano e às vezes só
meses variavam o tempo entre a data de nascimento de um e de outro. Alguns
morreram também em datas bem próximas. Apalpo meu corpo, aqui estou eu. Entre
as mulheres quase todas ficaram menstruadas juntas, pela primeira vez.
Brincávamos que íamos misturar as nossas regras e selarmos uma irmandade com o
nosso íntimo sangue. Os meninos não sei que juras fraternas fizeram. Ah, sei!
Dorvi repetia sempre que entre eles havia o pacto de não morrer. (...) Ele que
tinha um trato de viver fincado nessa fala desejo:
- A gente combinamos de não morrer.
- Deve haver uma maneira de não morrer tão
cedo e de viver uma vida menos cruel. Vivo implicando com as novelas de minha
mãe. Entretanto, sei que ela separa e separa com violência os dois mundos. Ela
sabe que a verdade da telinha é da ficção. Minha mãe sempre costurou a vida com
fios de ferro. Tenho fome, outra fome. Meu leite jorra para o alimento do meu
filho e de filhos alheios. Quero contagiar de esperança outras bocas. Lidinha e
Biunda tiveram filhos também, meninas. Biunda tem o leite escasso, Lidinha
trabalha o dia inteiro. Elas trazem as menininhas para eu alimentar. (EVARISTO,
2016, p.107)
Dona
Esterlinda se identifica com a babá da novela, uma possível questão de
representação, ou uma identificação imediata por ela e a babá terem a mesma cor
de pele: “A babá Lidiane, da novela das oito, acabou sozinha. Não gostei do
final. Assisti outra novela em que a babá casou com o filho do patrão. Bonito,
tudo muito bonito. Chorei de emoção. Quando choro diante da novela, choro
também por outras coisas...” (EVARISTO, 2016, p. 104-105).
Bica
se torna “ama de leite” das amigas. Um gesto solidário e fraternal, que vai
manter as vidas seguras para as bebês e vai reforçar mais uma vez o pacto de
não morrer! Na escravidão, as mulheres negras amamentavam os filhos da casa
grande. Hoje os corpos negros precisam do leite da vida. Uma questão de
escolha, ou de necessidade? Bica reflete: “Eu sei que não morrer, nem sempre é
viver. Deve haver outros caminhos, saídas mais amenas. Meu filho dorme”
(EVARISTO, 2016, p.109).
ÁGUAS DOCES, ÁGUAS SALGADAS
A água que ferve na panela, inodora, incolor,
insípida para as bocas famintas. As lágrimas maternas das mães que choram de
desespero e alegria, misturando todos os sentimentos para disfarçar o medo para
os filhos. O leite materno que vai transbordar abundantemente no peito de umas
e que não vai descer no peito de outras que não tem tempo, nem saúde para
exercer suas maternagens. O sangue menstrual que inicia a vida adulta e que
logo é interrompido por uma gravidez, muitas vezes, indesejada.
Há também outras águas, as masculinas.
O companheiro de Bica, Dorvi, relata os prazeres que sentiu nas situações
limite, onde o esperma jorrava em meio aos tiroteios e receios:
[...] A morte às vezes tem
um gosto de gozo? Ou o gozo tem gosto de morte? Não esqueço o gozo vivido no
perigo de meu primeiro mortal trabalho, na minha primeira vez. [...] Naquele
dia mandaram que eu fosse enfrentar também. Eu tinha treze anos. No meio do
tiroteio, esporrei, gozei. E juro que não foi de medo, foi de prazer. Uma
alegria tomava conta de meu corpo inteiro. Senti quando o meu pau cresceu
ereto, firme, duro feito a arma que eu segurava nas mãos. Atirei, gozei, atirei,
gozei... Gozei dor e alegria, feito outro momento que me aconteceu na infância.
Eu estava com seis para sete anos e arranquei com as minhas próprias mãos, um
dentinho de leite que dançava em minha boca. Minha mãe me chamou de homem.
Cuspi sangue. Limpei a baba com as costas da mão, ainda tremendo um pouco, mas
correspondi ao elogio. Eu era um homem. Tive um prazer intenso que brincou no
meu corpo todo. Tive até um princípio de ereção. (EVARISTO, 2016, p.106-107)
A escrita de Evaristo também convoca os homens
negros e invoca suas humanidades, que são sempre destituídas pelo corpo objeto
sexual ou pela mão de obra barata. Esses homens têm pensamentos, sentimentos,
sonhos desejos. No conto “Ana Davenga”, as lágrimas do companheiro Davenga se
confundem com o prazer sexual:
[...] Um pouco que ela
saia para buscar roupas no varal ou falar um tantinho com as amigas, quando
voltava dava com ele, deitado na cama. Nuzinho. Bonito o Davenga vestido com a
pele que Deus lhe deu. Uma pele negra, esticada, lisinha, brilhosa. Ela mal
fechava a porta e se abria todinha para o seu homem. Davenga! Davenga! E aí
acontecia o que ela não entendia. Davenga que era tão grande, tão forte, mas
tão menino, tinha o prazer banhado em lágrimas. Chorava feito criança.
Soluçava, umedecia ela toda. Seu rosto, seu corpo ficavam úmidos das lágrimas
de Davenga. E todas as vezes que ela via aquele homem no gozo-pranto, sentia
uma dor intensa. Era como se Davenga estivesse sofrendo mesmo, e ela fosse a
culpada. Depois então, os dois ainda de corpos nus, ficavam ali. Ela enxugando
as lágrimas dele. Era tudo tão doce, tão gozo, tão dor! Um dia, pensou em se
negar para não ver Davenga chorando tanto. Mas ele pedia, caçava, buscava. Não
restava nada a fazer, a não ser enxugar o gozo-pranto de seu homem (EVARISTO,
2016, p. 23)
Quando
as águas doces e salgadas se misturam, há o encontro do rio com o mar, onde
tudo deságua. E quando a ausência das águas traz a sede, a fome, a doença, a
escassez, não há o encontro, há o conflito. Quando a ausência do Estado deixa
as comunidades periféricas no abandono, no esquecimento, a quem se deve
recorrer? O crime é um estado paralelo que manda e desmanda nas comunidades.
Quem não dá assistência, abre concorrência. O tráfico de drogas oferece
dinheiro fácil e ao mesmo tempo tira as vidas dos soldados que não obedecem aos
pequenos e grandes traficantes.
Os
personagens dos contos de Conceição Evaristo são negros. Quando a mulher negra
é subjugada, o homem negro faz o papel que o machismo lhe ensinou. E quem
oprime os dois? É o racismo estrutural e seus braços: as instituições, a
polícia, a escola, as prisões.
Uma
escritora descolonial como Evaristo vai deslocar o papel do “Outro”. Para o
colonialismo português estruturado na escravidão negra, o “Outro” são os povos
originários, os indígenas e os escravos africanos. Para esses mesmos povos, o
“Outro” é o homem branco, o “Outro” é o europeu, o “Outro” é o ocidental.
“Quem
reivindica alteridade”? é o título do artigo da feminista e crítica
pós-colonial indiana Gayatri Spivak, que em seu discurso faz uma reflexão
profunda sobre o papel dos pensadores “descoloniais”. Ela atesta que eles estão
reescrevendo a história dos subalternos do mundo colonial, criando uma
independência política e negociando narrativas como faz Conceição Evaristo e
sua predecessora e influência literária, a escritora Carolina de Jesus, autora
de “Quarto de despejo: diário de uma favelada”.
Spivak
chama essas subjetividades de “coloniais diaspóricas”, e ressalta que estão
sempre correndo o risco de em suas rupturas declaradas com o passado
construírem uma repetição, legitimando exatamente o que reivindicam combater.
Como não há como fugir da repetição, se a estrutura da sociedade não muda, nos
resta alterar as narrativas.
Essa
repetição está marcada na galeria de personagens de “Olhos d’água” (2016):
empregadas domésticas, lavadeiras, cozinheiras, faxineiras, donas-de-casa, mães
solteiras, parteiras, mendigas, prostitutas, cafetinas, cafetões, pescadores,
pedreiros soldados do tráfico, pequenos traficantes, ladrões, assaltantes,
moradores de rua, meninos de rua, presidiários, pedintes, vendedores de doces e
flores, faxineiros, camelôs, crentes, bêbados, etc.
A
divisão de classes racializada permanece desde a abolição da escravatura no
Brasil. Os mesmos afazeres da senzala, agora assalariados, a mesma configuração
dos territórios sem água, sem luz, esgoto, calçamento, saneamento. O ônibus
lotado, o trem, idem. A esperança de uma vida melhor está nas preces das avós
negras, que são os sonhos de liberdade das bisavós nascidas na lei do Ventre
Livre. O passado é mais que um fantasma, é uma aparição.
Spivak
também escreveu o livro “Pode o subalterno falar?” (2010), no qual conclui que
a subalternidade, hoje, consegue falar e/ou escrever, mas não é escutada!
Spivak, assim como Maria Lugones, é uma feminista pós-colonial e
interseccional. Spivak se debruçou sobre a mulher indiana, Lugones sobre as
mulheres de cor, as indígenas e as negras. Assim também são as outras
intelectuais trazidas neste ensaio: Djamila Ribeiro, Sueli Carneiro e Lélia
Gonzales.
Gayatri
Spivak enfatiza que, como mulheres engajadas em denunciar o racismo no
Feminismo pós-colonial, precisamos encontrar esse “lugar de escuta”, nossos
interlocutores: “Nosso objetivo é fazer com que as pessoas estejam prontas para
ouvir.” (SPIVAK, 2019, p.261). E essa escuta acontece prioritariamente na sala
de aula:
[...] E
apesar de seu modo indireto, de ser enlouquecedoramente devagar, e de sempre se
correr o risco da demagogia e da coerção misturado com a crédula vaidade com os
interesses de classe do professor e do aluno, é ainda apenas a educação
institucionalizada nas ciências humanas que pode fazer com que, a longo prazo e
coletivamente, as pessoas queiram escutar. (...) Portanto, proponho o
estabelecimento e restabelecimento persistentes, a repetida consolidação do não
feito, de uma estratégia de educação e pedagógica de sala de aula preocupada
com soluções provisórias para oposições como secular e não secular, nacional e
subalterno, nacional e internacional, cultural e sociopolítico, por meio da
provocação de sua cumplicidade. (SPIVAK, 2019, p.261)
As
escritoras negras e suas literaturas trazem para os currículos as vozes
divergentes da “história única”. As vozes da categoria que está na base da
pirâmide social: negra e mulher. Mas não existe uma única voz divergente. São
vozes, no plural, no coletivo. São as personagens Ana Davenga, Dona Esterlinda,
Bica, Duzu, Maria, Natalina, Luamanda, Cida e Zaíta de “Olhos d’água”.
Gayatri
Spivak (2019) está preocupada com a questão da apropriação da “história
alternativa” e afirma que pela sua vivência, “as narrativas históricas são
negociadas” (SPIVAK, 2019, p. 251). Ela e Conceição Evaristo tiveram acesso à
educação formal, mas “produzem narrativas e explicações históricas,
transformando o socius”.
Escrever e ler, nesse
sentido mais amplo, marcam duas posições diferentes em relação à “oscilante e
múltipla forma do ser”. A escritura é uma posição em que a ausência do autor na
trama é estruturalmente necessária. A leitura é uma posição em que eu (ou um
grupo de “nós” com quem partilho um rótulo identificatório) faço dessa anônima
trama a minha própria, encontrando nela uma garantia de minha existência como
eu mesmo, uma de nós. Entre as duas posições, há deslocamentos e consolidações,
uma disjunção para conjugar um eu representativo. (Até a solidão é estruturada
pela representação dos outros ausentes.) (SPIVAK, 2019, p. 252)
Na
obra de Conceição Evaristo, os personagens brancos não têm nome
propositadamente. Uma escolha que os escritores brancos sempre fizeram com os
personagens negros, sem nome, sem família, sem um destino feliz. Personagens
negros sempre foram estereotipados pelos escritores brancos, objetificados, e
ausentes da maioria dos livros da Literatura Brasileira.
Quando
eu digo que encontro minhas iguais na literatura de Evaristo, eu afirmo que
sim, nós existimos. Nós, mulheres negras, somos escritoras, intelectuais, seres
humanos completos nas nossas incompletudes. E as mulheres brancas também
compartilham com as mulheres negras a condenação do gênero feminino. Elas
também são convocadas no texto de Conceição. Todas nascemos
nas águas de um ventre.
REFERÊNCIAS
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