domingo, 8 de novembro de 2015

ESCRITORAS NEGRAS NA LITERATURA BRASILEIRA, UM RECORTE FEMININO

    Fiz uma pesquisa sobre o protagonismo da mulher negra na Literatura Brasileira. Problematizo também aqui, o que seria uma Literatura Afro-brasileira, num país onde a Lei 10. 639/03, que trata da obrigatoriedade do Ensino da Cultura e História Africana e Afro-brasileira em todos os níveis de Ensino, completou quinze anos sem efetividade. Nessa "expedição" difícil, usei muito a internet para compor esse painel.
   Ei-lo:
LITERATURA AFRO-BRASILEIRA - UM CONCEITO EM CONSTRUÇÃO
Em primeiro lugar, a temática: "o negro é o tema principal da literatura negra"
Em segundo lugar, a autoria. Ou seja, uma escrita proveniente de autor afro-brasileiro.
Em terceiro lugar, o ponto de vista. É necessária a assunção de uma perspectiva e, mesmo, de uma visão do mundo identificada à história, à cultura, logo a toda problemática inerente à vida desse importante segmento da população.
Um quarto componente situa-se no âmbito da linguagem, fundada na constituição de uma discursividade específica, marcada pela expressão de ritmos e significados novos e, mesmo, de um vocabulário pertencente às práticas linguísticas oriundas de África e inseridas no processo transculturador em curso no Brasil.
E um quinto componente aponta para a formação de um público leitor afrodescendente como fator de intencionalidade próprio a essa literatura e, portanto, ausente do projeto que nortearia a literatura brasileira em geral.

- ROSA MARIA EGIPCÍACA DE VERA CRUZ (Costa da Mina- 1719/Rio de janeiro - Lisboa - 1765) - "Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas" (1751-1763) - Uma princesa negra que foi escravizada e viveu entre a prostituição e a santidade


   A primeira romancista brasileira é uma mulher negra:
- MARIA FIRMINA DOS REIS : "ÚRSULA" - 1859, Maranhão (romance considerado como o 1º romance da Literatura Afro-brasileira, tem como tema a Abolição), "13 DE MAIO". Em 1890, ela fundou uma escola gratuita e mista.
  • Gupeva. Romance, 1861/1862 (O jardim dos Maranhenses) e 1863 (Porto Livre e Eco da Juventude).
  • Poemas em: Parnaso maranhense, 1861.
  • A escrava. Conto, 1887 (A Revista Maranhense n° 3)
  • Cantos à beira-mar. Poesias, 1871.
  • Hino da libertação dos escravos. 1888.
- AUTA DE SOUZA: "HORTO" - 1900, Macaíba - RN (Publicou seu único livro, Horto, de significativa repercussão e cujo prefácio foi escrito por Olavo Bilac, o poeta brasileiro mais célebre daquela época).  Foi uma poetisa brasileira da segunda geração romântica (ultrarromântica, byroniana ou Mal do Século). Escrevia poemas românticos com alguma influência simbolista, e de alto valor estético. Segundo Luís da Câmara Cascudo, é “a maior poetisa mística do Brasil”.
  - RUTH GUIMARÃES BOTELHO - 1946 - "ÁGUA FUNDA", Cachoeira Paulista (romance) -  Ruth Guimarães foi eleita no dia 5 de junho de 2008, para ocupar a cadeira número 22, da Academia Paulista de Letras.
- CAROLINA DE JESUS: "QUARTO DE DESPEJO", 1960, Rio de Janeiro (baseado em seus diários pessoais, essa catadora de papel relata o seu dia a dia na favela e faz uma crítica social à fome, miséria e violência). Ela teve uma carreira meteórica e escreveu outros livros, além de compor sambas. "CASA DE ALVENARIA" (1961), "PEDAÇOS DE FOME" (1963), "PROVÉRBIOS" (1963)
- MARIA HELENA VARGAS - "AS FILHAS DAS LAVADEIRAS", 1987,"O SOL DE FEVEREIRO", 1991, "NEGRADA", 1994, "HELENA DO SUL", 2007, Rio Grande do Sul ( esse conto fez muito sucesso assim como "Conversa de negro"). Ela foi patrona da Feira do livro de São Lourenço do Sul em 1995 e membro da Academia Pelotense de Letras no ano 2000.
   Nos anos 80 em São Paulo, surge a Antologia literária "CADERNOS NEGROS", de onde surgirão muitas escritoras negras;
- CONCEIÇÃO EVARISTO - "PONCIÁ VICÊNCIO", 2003, Minas Gerais ( residente no Rio de Janeiro desde 1971, começo a escrever em 1990, também escreveu "BECOS DA MEMÓRIA", "POEMAS DA RECORDAÇÃO E OUTROS MOVIMENTOS", "INSUBMISSAS LÁGRIMAS"' e "OLHOS D´ÁGUA").
- MÍRIAM ALVES - "MULHER MATRIZ", 2011, "BARÁ NA TRILHA DO VENTO" 2015, "BRASIL AFRO, AUTORREVELADO" 2010, (também escreveu "MOMENTOS DE BUSCA" em 1983). "MARÉIA", 2019
- ESMERALDA RIBEIRO - " MALUNGOS E MILONGOS", 1988, São Paulo ( começou a escrever em 1982, escreveu "OGUN" e "GOSTANDO MAIS DE NÓS MESMOS", 1999)
- HELENA THEODORO - "IANSÃ", 2010, Rio de Janeiro "(também escreveu "MITO E ESPIRITUALIDADE, MULHERES NEGRAS")
- MÃE BEATA DE IEMONJÁ - "CAROÇO DE DENDÊ, A SABEDORIA DOS TERREIROS", 1997, "TRADIÇÃO E RELIGIOSIDADE", (O LIVRO DA SAÚDE DAS MULHERES NEGRAS), 2000, "HISTÓRIAS QUE A MINHA MÃE CONTAVA", 2005,  Cachoeira - BA - Rio de Janeiro
    Nos anos 90 surgem escritoras que vão falar da mulher negra e seu universo, num momento onde a beleza negra é retratada nas capas da Revista Raça Brasil, é uma conquista do Movimento negro que vai criar as cotas na mídia e depois nas universidades.
- ANA CRUZ - "E...FEITO DE LUZ", 1995, Minas Gerais, "MULHERES BANTAS, VOZES DE MINHAS ANTEPASSADAS", 2011
 - CRISTIANE SOBRAL: "NÃO VOU MAIS LAVAR OS PRATOS", 2010, Rio de Janeiro (poesia), "O TAPETE VOADOR", "SÓ POR HOJE VOU DEIXAR MEU CABELO EM PAZ", "TERRA NEGRA",
- ELISA LUCINDA - " LUA QUE MENSTRUA", 1992, Espírito Santo ( poetisa, atriz, jornalista e cantora, também escreveu " O SEMELHANTE", "PAREM DE FALAR MAL DA ROTINA" e "FERNANDO PESSOA, O CAVALEIRO DE NADA", 2014. Também dirige a "Casa Poema".
- ELZELINA DÓRIS DOS SANTOS - "CONTANDO A HISTÓRIA DO SAMBA", 2000, Belo Horizonte ( cantora, também escreveu "Herança do Samba")
 - LIA VIEIRA - "SÓ AS MULHERES SANGRAM", 2011, Rio de Janeiro (também escreveu sobre Chica da Silva)
- ESMERALDA DO CARMO ORTIZ - "PORQUE NÃO DANCEI", 2001, autobiografia da autora que viveu a infância nas ruas, seu depoimento foi organizado pelo jornalista Gilberto Dimenstein, "DIÁRIO DA RUA", junto com Heloísa Pietro
- LÍVIA NATÁLIA - 2010 - Água Negra - EPP Publicações, 2015 - Correntezas e outros estudos marinhos - Ogum's Toques Negros, 2016 - Água Negra e Outras Águas - EPP Publicações, 2017 - Dia Bonito pra Chover - Editora Malê, 2017 - Sobejos do Mar - EPP Publicações
   Nos anos 2000, a mulher negra já está inserida no meio acadêmico. Sua fala está presente em vários campos do conhecimento. A internet possibilita a criação de blogs e sites para a publicação da sua escrita. Os financiamentos coletivos e os concursos literários também são propagadores desses novos talentos.
- CIDINHA DA SILVA: "PAREM DE NOS MATAR", 2016, "CANÇÕES DE AMOR E DENGO", 2016, "RACISMO NO BRASIL E AFETOS CORRELATOS", 2013, Minas Gerais ( Também escreveu: "CADA TRIDENTE EM SEU LUGAR", "OS 9 PENTES D'ÁFRICA", "KUAMI", "O MAR DE MANU" e "OH, MARGEM, REINVENTA OS RIOS")
- ANA MARIA GONÇALVES - "UM DEFEITO DE COR", 2006, Minas Gerais ( sobre a vida de Luíza Mahin, também escreveu "AO LADO E À MARGEM DO QUE SENTES POR MIM")
- ELIANE ALVES CRUZ -  jornalista e escritora, ganhadora do Prêmio Oliveira Silveira de romances da Fundação Cultural Palmares/MinC 2015 com o romance "ÁGUA DE BARRELA", em 2018 lançou "O CRIME DO CAIS DO VALONGO"
   Na Literatura Infantil:
- GENI MARIANO GUIMARÃES: "A COR DA TERNURA", 1998, São Paulo, "TERCEIRO FILHO", 1979, "DA FLOR, O AFETO, DA PEDRA, O PROTESTO", 1981, "O BALÉ DAS EMOÇÕES", 1993, LEITE DO PEITO", 2001
- VERALINDDÁ MENEZES: "PRINCESA VIOLETA", 2011, Rio Grande do Sul, "LILINDDA E SUA AMIGA ROSINHA", 2009
  Na Literatura Erótica:
- NINA SILVA: INCORPOROS, 2011
   Na Educação:
- PETRONILHA BEATRIZ GONÇALVES DA SILVA: indicada pelo Movimento Negro, integrou a comissão que elaborou o Parecer CNE/CPnº 3/2004 e estabelece diretrizes para o Ensino da História e Cultura Africana e Afro-brasileira no currículo da Rede de Ensino do Brasil

Na Filosofia:
- DJAMILA RIBEIRO: "O QUE É LUGAR DE FALA", 2017, "QUEM TEM MEDO DO FEMINISMO NEGRO, 2018
- JARID ARRAES:  é uma escritora, cordelista e poeta brasileira, autora dos livros “AS LENDAS DE DANDARA” e “HEROÍNAS NEGRAS BRASILEIRAS EM 15 CORDÉIS”. Atualmente vive em São Paulo (SP), onde criou o Clube da Escrita Para Mulheres. Até o momento, tem mais de 60 títulos publicados em Literatura de Cordel incluindo a coleção Heroínas Negras na História do Brasil. Lançou em 2018, "UM BURACO COM MEU NOME"


Escritoras Negras Gaúchas:
- ELIANE MARQUES: "O RELICÁRIO", 2009, "E SE ALGUÉM O PANO",2015, Sant'Ana do Livramento. É editora da revista de poesia Ovo da Ema e coordenadora da Escola de Poesia. Organizou os livros No meio da meia-lua, primeiros versos (2013), do coletivo “Africanamente Escola de Capoeira Angola”; Estamos Quites (2015), de Jorge Fróes, e a revista de poesia Não é o Bicho (2012), resultante do projeto “Poetas do Futuro”. Coordenou, junto com outros poetas, o AEDO – Arte e Expressão da Oralidade – Festival de Poesia, bem como as várias edições do Porto Poesia.
- TAIASMIN OHNMACHT: "ELA CONTA, ELE CANTA", 2016, em parceria com Carlos Alberto Soares, Porto Alegre (psicóloga e pós-graduada em Assessoria Linguistica) Ela tem três contos publicados  em uma coletânea da oficina literária de Alcy Cheiuche
   Um fenômeno literário do século XXI, são os Saraus Negros, reuniões de poetas, músicos e artistas negros, como o Sarau Bem Black, Cooperifa, Sarau Preto e Sopapo Poético, da onde destaco quatro poetisas:
- DELMA GONÇALVES: "LANCEIROS NEGROS", 2006, "PRETESSÊNCIA- SOPAPO POÉTICO", 2016,  Porto Alegre ( poetisa, contista e compositora, participa de grupos literários e é produtora musical)
- LÍLIAN ROCHA: "A VIDA PULSA", 2013, "PRETESSÊNCIA- SOPAPO POÉTICO", 2016, "NEGRA SOUL", 2016 Porto Alegre, (poetisa, cantora, participa ativamente de saraus e revistas literárias)
- FÁTIMA REGINA FARIAS, "PRETESSÊNCIA- SOPAPO POÉTICO", 2016, "NOS KINTAIS DO MUNDO", 2018 poetisa e compositora que se descobriu no Sopapo Poético e representa a mulher que expõe em seus poemas a alma da mulher negra brasileira.
- ISABETE FAGUNDES, "PRETESSÊNCIA - SOPAPO POÉTICO", 2016, "NOS KINTAIS DO MUNDO", 2018, educadora e poeta, coordenadora do Grupo Haja Luz - Acervo cultural Afrodescendente
- LÚCIA HELENA SANTOS - Recebeu o Prêmio “Mérito e Medalha da Ordem de Platão com o Título Ph. I Pensadora Humanista Imortal, Philosofo Immortales” da Academia de Letras do Brasil,  e ocupa  a cadeira 20 da  Academia de Letras, Ciências e Artes do RS participa de vários  coletivos poéticos  e tem poemas publicados em diversas antologias e é professora e advogada
- FERNANDA BASTOS: "DESSA COR", 2018 jornalista e poeta


    Destaco do sarau Cooperifa a jornalista
- ELIZANDRA SOUZA - "PUNGA", 2007, "ÁGUAS DA CABAÇA",2012,  "PRETEXTOS DE MULHERES NEGRAS", 2013, poeta, jornalista, escritora, é responsável pela criação o Mjiba em Ação - Jovens Mulheres Negras em Ação e editora chefe da Agenda Cultural da Periferia

   O Slam, campeonato de poesia falada, fenômeno das ruas que surgiu nos Estados Unidos têm revelado poetas com voz de denúncia sobre o machismo, racismo e homofobia:
- LUISA ROMÃO - "SANGRIA", 2017, São Paulo, "COQUETEL MOLOTOV", 2014,  explora a linguagem do "sponken word"
- CRISTAL ROCHA, poeta slammer, venceu o Slam RS com apenas 15 anos
- AGNES CARDOSO - Surgiu no Slam das Minas /RS onde venceu em sua primeira participação.  Em maio de 2018, venceu o Slam Nacional de Duplas com o poeta Deds. É professora, poeta, slammer e produtora do “Poetas Vivos” e da “Elipa

SALVE A MULHER NEGRA NA LITERATURA!
Ana Dos Santos
Referência:  http://brenoafricanidades.blogspot.com.br/search/label/Conceito%20de%20Literatura%20Afro-brasileira
LITERATURA AFRO-BRASILEIRA: UM CONCEITO EM CONSTRUÇÃO Eduardo de Assis Duarte

3 comentários:

  1. mulheres empoderadas e negras kkkk muito boa matéria Ana dos Santos ,,, parabéns e meu nome entre essas divas ? gratidão !!!!

    ResponderExcluir
  2. mulheres empoderadas e negras kkkk muito boa matéria Ana dos Santos ,,, parabéns e meu nome entre essas divas ? gratidão !!!!

    ResponderExcluir
  3. Excelente trabalho de pesquisa Ana dos Santos. Parabéns!

    ResponderExcluir